União Europeia e EUA: blocos discutem tarifas e contramedidas em meio a tensões comerciais (Mandel NGAN / AFP)
Agência de notícias
Publicado em 7 de abril de 2025 às 15h59.
Ministros da União Europeia se reuniram nesta segunda-feira e concordaram amplamente em priorizar as negociações para remover as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao invés de partir para represálias imediatas, embora o bloco já tenha informado que está preparando um primeiro conjunto de contramedidas específicas.
O bloco formado por 27 nações enfrenta tarifas de importação de 25% sobre aço, alumínio e automóveis, além de tarifas recíprocas de 20% a partir da próxima quarta-feira, dia 9, sobre quase todos os demais produtos, de acordo com a política do presidente americano de penalizar países que, segundo Trump, impõem barreiras elevadas às importações dos EUA.
De acordo com a agência Reuters, os ministros responsáveis pelo comércio do bloco europeu se reuniram em Luxemburgo nesta segunda-feira para debater a resposta da União Europeia ao tarifaço de Trump, assim como discutir as relações com a China. A prioridade no momento, segundo muitos dos ministros, é iniciar negociações e evitar uma guerra comercial aberta.
— Precisamos manter a calma e responder de uma forma que reduza as tensões. Os mercados de ações agora mostram o que acontecerá se escalarmos de imediato. Mas estaremos preparados para adotar contramedidas, se necessário, para trazer os americanos à mesa — declarou a ministra do Comércio da Holanda, Reinette Klever.
Em Bruxelas, em entrevista coletiva, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o braço financeiro da UE, disse que o bloco europeu está pronto para negociar um pacto tarifário "zero por zero" para produtos industriais.
Von der Leyen acrescentou que a UE criará uma força-tarefa de monitoramento de importações para acompanhar os impactos das tarifas. E afirmou que o objetivo será “nos proteger contra efeitos indiretos provocados pela diversão do comércio.”
Repetindo a posição padrão do bloco, acrescentou que está ansiosa para seguir com as negociações, mas pronta para retaliar, se necessário. E disse que a UE buscará fortalecer suas relações comerciais com outros parceiros globais.
— Vamos focar como um raio laser nos 83% do comércio global que estão além dos EUA — acrescentou.
Trump conversa com o primeiro-ministro japonês
Em conversa que teve com o presidente dos EUA por telefone nesta segunda-feira, o primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba, disse a Trump que suas políticas tarifárias eram extremamente decepcionantes e pediu que ele as reconsiderasse, dizendo que tarifas elevadas poderiam desencorajar investimentos estrangeiros nos EUA. Trump afirmou que suas tarifas incentivariam as empresas a transferirem a fabricação para os Estados Unidos.
— Disse ao presidente que o Japão tem sido o maior investidor nos Estados Unidos por cinco anos consecutivos, e expressei minha forte preocupação de que as medidas tarifárias reduziriam a capacidade de investimento das empresas japonesas — disse Ishiba a repórteres em Tóquio após a ligação com Trump. — O Japão instará fortemente os EUA a reconsiderar suas medidas. Acredito que o Japão pode superar essa situação, que equivale a uma crise nacional.
Durante a chamada de 25 minutos, os dois líderes concordaram em manter um diálogo construtivo sobre o tema. Ishiba disse que convocará uma reunião de todos os ministros do gabinete na terça-feira para discutir a resposta tarifária, e que os EUA e o Japão concordaram em nomear autoridades para conduzir novas negociações.
Trump, por sua vez, disse que “parâmetros duros, mas justos estão sendo definidos” para uma negociação sobre tarifas recíprocas dos EUA.
“Ele está enviando uma equipe de ponta para negociar! Eles têm tratado os EUA muito mal no comércio. Eles não aceitam nossos carros, mas nós aceitamos MILHÕES dos deles. O mesmo vale para a agricultura e muitas outras ‘coisas’. Tudo isso precisa mudar, mas especialmente com a CHINA!!!”, publicou Trump nas redes sociais.
O Japão foi atingido por uma tarifa generalizada de 24%, com início previsto para esta quarta-feira, além de uma tarifa de 25% sobre automóveis, que deve afetar duramente as exportações do país.
A decisão de Trump de impor tarifas abrangentes a praticamente todos os parceiros comerciais dos EUA mergulhou os mercados em turbulência e levou líderes estrangeiros a correr para convencer o presidente a reduzir os encargos. Nesta segunda-feira, as Bolsas têm forte volatilidade.
Líderes mundiais têm tido dificuldades para encontrar formas de convencer Trump a recuar de sua decisão, que elevaria as tarifas dos EUA aos níveis mais altos em mais de um século e prejudicaria o sistema global de comércio estabelecido após a Segunda Guerra Mundial. Muitos economistas alertam que, se as tarifas forem totalmente implementadas, poderiam levar as economias globais à recessão.
Mais de 50 países já procuraram Trump para iniciar negociações sobre os encargos, disse o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, no domingo, ao programa This Week, da ABC. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu deve discutir a questão ainda nesta segunda-feira, durante uma reunião na Casa Branca com Trump.
O presidente americano tem feito vários comentários que levaram líderes estrangeiros a se perguntarem quais concessões ele aceitaria — ou se ele sequer quer fechar acordos. O presidente afirmou no domingo que qualquer acordo precisaria eliminar déficits comerciais bilaterais, uma tarefa difícil para muitos parceiros.
— Para mim, déficit é perda — disse Trump a bordo do Air Force One. — Vamos ter superávits ou, no pior dos casos, vamos ficar no zero a zero.