Economia

Venezuela entra em hiperinflação pela primeira vez na história

País atravessa grave crise humanitária marcada pela escassez de produtos básicos, como alimentos e remédios

O presidente venezuelano Nicolás Maduro (Marcp Bello/Reuters)

O presidente venezuelano Nicolás Maduro (Marcp Bello/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 2 de novembro de 2017 às 14h56.

A Venezuela registrou em outubro uma inflação de 50,6% em relação ao mês anterior, entrando tecnicamente em hiperinflação, ao superar, pela primeira vez na história do país, uma alta de preços acima de 50% em um único mês.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (2) pela Econométrica, que, com a Assembleia Nacional, controlado pela oposição, e outras entidades privadas, oferece periodicamente um cálculo de inflação no país, já que o Banco Central não divulga mais o índice.

"Com a inflação geral de outubro de 2017, de 50,6% em relação a setembro, a Venezuela entra na definição técnica de hiperinflação proposta por Philip Cagan", escreveu a Econométrica no Twitter, citando o economista americano que criou o conceito em 1956.

A Econométrica diz que esse é um "recorde histórico" de inflação na Venezuela, que atravessa grave crise humanitária marcada pela escassez de produtos básicos, como alimentos e remédios.

Fontes da empresa consultadas pela Agência EFE explicaram que a Venezuela vive há anos situação propícia para o surgimento de uma hiperinflação. Entre as condições citadas, eles destacam a emissão descontrolada de dinheiro por parte do Banco Central e a falta de produtos no mercado por causa da queda da produção.

Ontem, um dia antes do anúncio da hiperinflação, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou um reajuste de 30% no salário mínimo, o quinto reajuste feito apenas neste ano.

Agora, o salário mínimo no país é de 177.507 bolívares, equivalente a US$ 53 na taxa oficial de câmbio. No mercado paralelo, no entanto, onde o bolívar é muito mais desvalorizado, o montante equivale a apenas US$ 4.

"Esses aumentos não são genuínos, mas nominais, e as pessoas não podem comprar os produtos", disse o presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, o economista José Guerra. Para ele, Maduro está tentando "apagar velas com querosene".

A Venezuela sofre, além disso, uma escassez de dinheiro em espécie, que obriga os cidadãos a fazerem filas longas para conseguir sacar as poucas notas que os bancos recebem.

O Banco Central apresentou, por ordem de Maduro, a nota de 100 mil bolívares, a de maior valor emitida até agora.

"Isso era algo que deveria ser feito, mas falta a de 50 mil bolívares, porque não haverá notas para dar troco. Deveriam mandar imprimí-la de uma vez, para simplificar um pouco os métodos de pagamento", disse Guerra.

O deputado e economista se mostrou pessimista sobre as perspectivas do país diante da crise.

"Esse é um caminho que nos leva para o buraco porque não resolve o problema de fundo, que é a inflação. O governo não tem capacidade de fazê-lo. É hora de apresentar um programa econômico que reduza a inflação", afirmou Guerra.

Acompanhe tudo sobre:Crises em empresasInflaçãoVenezuela

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron