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Balança comercial brasileira não deve se sustentar com ‘tarifaço’, dizem especialistas 

Brasil bateu recorde de exportações em agosto, no primeiro mês da implantação das taxas de Trump para importações de produtos nacionais que chegam aos 50%

No acumulado do ano, houve um leve crescimento de 1,6% nas exportações brasileiras para os EUA, somando US$26,57 bilhões até agosto (Wenderson Araujo/CNA/Divulgação)

No acumulado do ano, houve um leve crescimento de 1,6% nas exportações brasileiras para os EUA, somando US$26,57 bilhões até agosto (Wenderson Araujo/CNA/Divulgação)

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Publicado em 15 de setembro de 2025 às 19h40.

Apesar do tarifaço imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump, o Brasil bateu recorde de exportações no mês de agosto e registrou um crescimento de 3,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando as importações em US$ 6,13 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). 

No acumulado do ano, o superávit brasileiro chega a US$ 42,8 bilhões, com alta de 35% sobre o mesmo período de 2024. No entanto, de acordo com especialistas ouvidos pela Esfera Brasil, a balança comercial brasileira pode ser afetada com as restrições dos EUA.

O impacto do tarifaço refletiu, porém, nas vendas brasileiras para os Estados Unidos, que caíram 18,5% em agosto, totalizando US$ 2,76 bilhões — uma diferença de US$ 600 milhões em relação a agosto de 2024, quando somaram US$ 3,39 bilhões. Por outro lado, as importações de produtos americanos aumentaram 4,6%, chegando a US$ 3,99 bilhões — o que representou um ganho de cerca de US$ 200 milhões para os EUA nas transações com o Brasil.

Com isso, o País acumula o oitavo mês consecutivo de déficit na balança comercial com os EUA, resultado de um volume maior de importações em relação às exportações. No acumulado do ano, contudo, houve um leve crescimento de 1,6% nas exportações brasileiras para os EUA, somando US$26,57 bilhões até agosto.

Cenário insustentável

Para Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais e Economia do Ibmec SP, a balança comercial não deve se manter no “azul” futuramente com impacto da diminuição das exportações para os Estados Unidos.

“O Brasil acabou tendo uma situação positiva neste momento de agosto. Mas isso não se sustenta. Quando nós olhamos os dados preliminares oficiais de setembro, vemos que vários produtos estão sendo atingidos. E o mais preocupante é que produtos de maior valor agregado, que são os que nós costumamos exportar para os Estados Unidos, tanto agropecuários quanto de transformação. Por exemplo, aeronaves e partes de aeronaves, todos esses tiveram uma queda” avalia Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais e Economia do Ibmec SP.

Segundo ele, a queda está diretamente relacionada ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos, que elevou tarifas de importação sobre produtos brasileiros em diversos setores — o que afetou até mesmo mercadorias que não foram diretamente sobretaxadas, devido ao ambiente de insegurança e antecipação de embarques feita por exportadores em julho.

“De fato, houve um encolhimento do mercado americano para nós, no caso do café, por exemplo, que chegou a uma queda de quase 50%. Aquilo que o governo Trump mirou, que é mais ou menos 70% da nossa pauta exportadora para eles, com uma tarifa de 50%, foi muito afetado”, avalia. “Mas como é mercado, algumas coisas você consegue vender mais barato e negociar. E claro, alguns importadores americanos cancelaram compras e outros não puderam cancelar os seus contratos, então algumas exportações aconteceram, que já estavam negociadas e não puderam ser interrompidas”, pontua Alexandre. 

Novos acordos comerciais

Enquanto as vendas aos EUA caíram, outros mercados absorveram parte da produção nacional. Os destaques foram: China, que teve um crescimento de 31% nas exportações; México, com alta de 43,82%; e Argentina, de 40,37%. Em relação aos produtos, a carne bovina fresca, refrigerada ou congelada manteve desempenho positivo mesmo sob o novo cenário tarifário. O setor busca novos mercados, como Vietnã, Indonésia e Filipinas. Já o café segue com dificuldades para encontrar novos destinos.

A diretora da LCA Consultoria Econômica, Verônica Lazarini Cardoso, detalha que quando um país como os EUA assume uma postura protecionista, as economias passam a ter receio de depender dessa transação e, portanto, passam a diversificar mais os seus parceiros comerciais, além de priorizar o mercado interno.

“Com o tempo, poderemos ver uma reorganização estrutural nesse padrão de comércio internacional. Esses resultados de agosto mostram efetivamente um esforço das indústrias brasileiras que acharam alternativas para as exportações, e um aparente resultado positivo dessas negociações. Isso vai se consolidar com o tempo, e terá resultados diferentes dependendo dos setores da economia”, afirma.

De acordo com Alexandre Pires, houve redução de preços nas exportações brasileiras para manter competitividade e compensar perdas geradas pelas tarifas — estratégia que pode ter estimulado o crescimento em mercados como China e México. 

O professor do Ibmec SP alerta, porém, que não é possível substituir o mercado norte-americano e ressalta: “O fato de escoarmos a produção de agora para outros mercados, a preços mais baixos, não significa que nós vamos produzir a mesma quantidade de produto no ano que vem. Isso pode levar a um desinvestimento em alguns setores que, às vezes, trabalham com margens de lucro muito baixas. Então, se eles têm que vender mais barato, já estão vendendo um pouco próximo do prejuízo.”

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