A safra recorde também deve gerar reflexos no comércio exterior, embora o efeito sobre o câmbio e a balança comercial seja moderado (Freepik/Divulgação)
Repórter
Publicado em 21 de outubro de 2025 às 21h36.
A safra brasileira de grãos deve atingir 341,9 milhões de toneladas em 2025, o maior volume já registrado, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado representa um crescimento de 16,8% em relação ao ano passado e reflete o bom desempenho do setor agrícola, sustentado por clima favorável, expansão da área plantada e ganhos de produtividade.
O diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, destaca que boa parte do salto produtivo é resultado da evolução tecnológica, apoiada na indústria nacional.
“O aumento das safras brasileiras tem mais a ver com produtividade e tecnologia. Boa parte dessa tecnologia é fornecida pela indústria brasileira, como a de máquinas agrícolas, fertilizantes, defensivos e equipamentos de transporte”, afirma. Ele lembra que esses segmentos já acumulam competência suficiente para atender a maior parte do mercado interno, reforçando o vínculo entre o agronegócio e a indústria de transformação.
O impacto direto do crescimento agrícola sobre a infraestrutura é inevitável — e, segundo Gleisner, continua sendo um dos principais gargalos para a competitividade. “No transporte, espera-se mais oferta ferroviária e hidroviária, além do aumento da capacidade dos terminais portuários. A armazenagem ainda é um problema, embora soluções emergenciais em períodos de pico tenham funcionado”, explica.
O executivo observa, contudo, que o cenário energético é mais favorável: “Não vemos restrição relacionada à energia. Pelo contrário, alguns grãos e seus derivados são importantes fontes de bioenergia, uma energia limpa em que o Brasil tem expertise e competitividade.”
Potencial
A safra recorde também deve gerar reflexos no comércio exterior, embora o efeito sobre o câmbio e a balança comercial seja moderado. “Apesar do aumento da demanda de outros mercados, particularmente na Ásia, ainda é a China quem tem o maior peso, ao redirecionar importações que fazia dos Estados Unidos para o Brasil e a Argentina. Mas não se trata de um movimento permanente”, avalia Gleisner. Ele pondera que o saldo comercial brasileiro teve leve retração neste ano e que não há expectativa de variação significativa na taxa de câmbio até o fim de 2025.
Para o diretor da Cisbra, o avanço do agronegócio não traz benefícios apenas conjunturais à indústria. “Máquinas agrícolas, equipamentos de transporte e produtos químicos são setores permanentemente beneficiados pelo agronegócio”, afirma. Ainda assim, ele reconhece que entraves estruturais — como o alto custo tributário, a carência de mão de obra qualificada e a defasagem logística — limitam o potencial de competitividade do país.
A reforma tributária, em tramitação, é vista pela entidade como um ponto de virada possível. “Ela pode simplificar o sistema, reduzir despesas e tornar mais justo o peso tributário nas cadeias produtivas”, defende. Já os investimentos em infraestrutura, lembra, exigem tempo e persistência. “São obras que levam anos para serem concluídas, como uma via férrea, mas que são indispensáveis para transformar ganhos de safra em desenvolvimento industrial duradouro.”