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Terras raras: o que são e como podem colocar o Brasil no centro do futuro tecnológico global

Os elementos são consideradas insumos estratégicos, uma vez que atravessam a transição energética e digital

Países disputam não apenas reservas minerais, mas a capacidade de dominá-las do subsolo ao produto final (Leandro Fonseca/Exame)

Países disputam não apenas reservas minerais, mas a capacidade de dominá-las do subsolo ao produto final (Leandro Fonseca/Exame)

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Publicado em 6 de julho de 2025 às 09h52.

Essenciais para o funcionamento de tecnologias estratégicas – como veículos elétricos, turbinas eólicas e smartphones –  as terras raras são um grupo de 17 elementos químicos que, apesar do nome, não são exatamente escassos. O termo tem origem na dificuldade histórica de separá-los de outros minerais e processá-los em escala industrial. Hoje, mais do que um desafio técnico, seu uso está no centro de uma disputa geopolítica e econômica.

São consideradas insumos estratégicos porque atravessam a transição energética e digital em todo o mundo. Turbinas de energia limpa, baterias de longa duração, veículos menos poluentes e satélites de última geração dependem de componentes feitos com elementos como o neodímio e o disprósio. Em um cenário global cada vez mais focado em segurança energética e soberania tecnológica, os países disputam não apenas reservas minerais, mas a capacidade de dominá-las do subsolo ao produto final.

É nesse cenário que o Brasil desponta como um dos territórios com maior potencial. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), o País possui cerca de 21 milhões de toneladas em óxidos de terras raras, o que o coloca na segunda posição global em reservas estimadas – atrás apenas da China. Os principais depósitos estão localizados em áreas do Sudeste, como Araxá e Poços de Caldas (MG), e no Norte, especialmente na região de Seis Lagos, no Amazonas.

Protagonismo

A posição privilegiada no mapa, porém, não garante protagonismo. Como explica a pesquisadora Elaine Santos, mestra em Energia, Sociedade e Meio Ambiente pela UFABC, a existência de reservas não significa capacidade imediata de exploração. “O Brasil ainda depende de processos caros e complexos para separar e purificar os elementos de terras raras. E isso exige uma política de longo prazo, com coordenação entre diferentes áreas: ambiental, tecnológica, industrial e científica”, afirma.

A China, por sua vez, não apenas possui reservas significativas, como tomou decisões estruturantes nas últimas décadas, investindo em pesquisa e protegendo sua produção com políticas públicas. Hoje, o país é considerado o principal fornecedor mundial e tem controle sobre boa parte da cadeia produtiva.

No Brasil, os gargalos são diversos. Falta domínio técnico, infraestrutura, investimento em inovação e estabilidade regulatória. Além disso, os impactos socioambientais da mineração impõem cuidados adicionais. “A exploração desses minerais gera resíduos e exige padrões ambientais rigorosos. É necessário olhar para os territórios mineradores de forma mais estratégica, para que os benefícios não se concentrem em poucos setores ou regiões”, observa Santos.

Mudança de paradigma

Ainda assim, há sinais de avanço. Um exemplo é o LabFab, laboratório voltado à produção experimental de ímãs com terras raras no Brasil. Se a cadeia produtiva for desenvolvida internamente, será possível fomentar setores industriais de ponta, como energia renovável e mobilidade elétrica. “Com motores mais leves e eficientes, turbinas mais potentes, podemos pensar numa indústria interligada e sustentável”, diz a pesquisadora.

Para que isso se torne realidade, o País precisa superar o modelo extrativista e exportador que historicamente marcou sua atuação no setor mineral. Santos defende uma mudança de paradigma: “Os países hoje não veem mais esses recursos apenas como itens de exportação. Eles querem reindustrializar, trazer as cadeias produtivas para dentro. O Brasil também precisa pensar assim.”

A recente criação de um edital conjunto entre BNDES e Finep para fomentar o desenvolvimento de cadeias de minerais estratégicos é vista como um passo na direção certa, mas ainda tímido. “É preciso uma estratégia nacional robusta, com horizonte, articulação federativa e visão de futuro”, afirma.

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