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Vaca Muerta: entenda o que é o reservatório que pode transformar a economia da Argentina 

Após anos de expectativas e entraves, a região vive agora seu momento de expansão

A produção em Vaca Muerta utiliza o fraturamento hidráulico (fracking), técnica que permite extrair petróleo e gás aprisionados em rochas profundas (Cristian Martin/Getty Images)

A produção em Vaca Muerta utiliza o fraturamento hidráulico (fracking), técnica que permite extrair petróleo e gás aprisionados em rochas profundas (Cristian Martin/Getty Images)

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Publicado em 10 de julho de 2025 às 20h07.

Descoberta em 2010 na província de Neuquén, no coração da Patagônia argentina, Vaca Muerta é uma das maiores formações de hidrocarbonetos não convencionais do mundo. Estima-se que a área abrigue a segunda maior jazida global de gás de xisto e a quarta de petróleo não convencional. Após anos de expectativas e entraves, a região vive agora seu momento de expansão, impulsionada por mudanças econômicas internas e grandes investimentos em infraestrutura.

A produção em Vaca Muerta utiliza o fraturamento hidráulico – técnica chamada de “fracking” – que permite extrair petróleo e gás aprisionados em rochas profundas. Essa operação envolve a perfuração vertical e horizontal do solo, seguida da injeção de água, areia e aditivos químicos sob alta pressão para liberar os combustíveis. 

A formação rochosa, a cerca de 3 mil metros de profundidade, é considerada pelos especialistas tão promissora quanto a Bacia do Permiano, nos Estados Unidos – referência mundial no setor.

Sob o governo de Javier Milei, o campo ganhou novo impulso. O presidente argentino flexibilizou os controles cambiais, removeu barreiras regulatórias e concedeu isenções fiscais de longo prazo às petroleiras, atraindo investimentos e dinamizando a produção. Em abril de 2025, a produção diária em Vaca Muerta chegou a 442 mil barris, com expectativa de superar 1 milhão por dia até 2027, patamar equivalente ao de alguns países da Opep.

Parceria

Para viabilizar o escoamento dessa produção, a Argentina aposta em projetos estratégicos. Um deles é o gasoduto Néstor Kirchner, com 600 km de extensão, cuja primeira fase já está em operação, ligando Vaca Muerta à província de Buenos Aires. A segunda etapa prevê a expansão até a fronteira com o Brasil, na cidade de Uruguaiana (RS), o que abriria caminho para a exportação de gás argentino ao mercado brasileiro.

A parceria com o Brasil pode ser estratégica para os dois lados. O gás argentino ajudaria a diversificar a matriz energética brasileira e reduzir a dependência do gás boliviano, cuja oferta está em declínio. Para a Argentina, o Brasil representa um mercado robusto e uma fonte de divisas. 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda financiar parte da obra com contrapartida de fabricação de tubos por empresas brasileiras, em um projeto orçado em cerca de US$ 820 milhões.

Investimentos e riscos

Outro megaprojeto em andamento é o Vaca Muerta Oleoduto Sul (VMOS), que será a maior obra privada em décadas no país. Com orçamento estimado em mais de US$ 3 bilhões, o empreendimento inclui a construção de um oleoduto de 440 km e um terminal de exportação no porto de Río Negro, capaz de receber navios VLCC, que transportam até 2 milhões de barris. A infraestrutura permitirá que a Argentina amplie suas exportações de petróleo em quase US$ 14 bilhões anuais a partir de 2027.

O financiamento do VMOS foi fechado com cinco grandes bancos internacionais – entre eles Citi, Deutsche Bank e JP Morgan – e mais 14 instituições, totalizando US$ 2 bilhões em crédito. A construção foi dividida entre empresas como Techint, Sacde e Técnicas Reunidas, e o projeto já recebeu autorização para aderir ao Regime de Incentivos para Grandes Investimentos (RIGI), que oferece benefícios fiscais e cambiais.

Apesar do entusiasmo econômico, os impactos ambientais de Vaca Muerta são alvo de críticas. A técnica de fracking é associada à contaminação do solo, do ar e da água, além de liberar grandes quantidades de metano, gás de efeito estufa até 27 vezes mais potente que o dióxido de carbono. Desde 2015, mais de 400 tremores de terra foram registrados na região de Neuquén, atribuídos à atividade sísmica induzida pela extração. França e Alemanha baniram a prática justamente por causa desses riscos.

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