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Bioeconomia se consolida como agenda prioritária na COP30

CEBDS e movimentos empresariais intensificam esforços a 100 dias da grande conferência do clima e definem principais estratégias que devem nortear negociações

Extrativismo de semente Murumuru no Rio Amazonas no Amapa - Press Trip - Macapa - Natura - WEG

Foto: Leandro Fonseca
23/05/2025 (Leandro Fonseca /Exame)

Extrativismo de semente Murumuru no Rio Amazonas no Amapa - Press Trip - Macapa - Natura - WEG Foto: Leandro Fonseca 23/05/2025 (Leandro Fonseca /Exame)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 2 de agosto de 2025 às 08h00.

Última atualização em 2 de agosto de 2025 às 11h58.

A 100 dias da COP30, maior evento de combate às mudanças climáticas do mundo, a pressão pela mudança de Belém como sede agravou as tensões e o governo brasileiro corre contra o tempo para solucionar a crise de hospedagem. 

No holofote, o presidente da COP e embaixador André Corrêa do Lago se pronunciou e descartou a possibilidade de realização da conferência em outra cidade. "Não há nenhum plano B", disse em coletiva de imprensa na sexta-feira, 1.

Mas enquanto o mundo discute os preços exorbitantes cobrados por acomodações na capital do Pará, a emergência climática pede por ações efetivas e rápidas, e há um desvio de foco do que realmente importa.

Juliana Lopes, colíder da Força-Tarefa Bioeconomia da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e diretora técnica de Natureza e Sociedade do CEBDS, disse à EXAME que o grande risco a poucos meses da COP é justamente a "dispersão".

"Nosso grande esforço coletivo é avançar neste espírito de mutirão colocado pela presidência da COP, nós já temos um plano de ação e sabemos o que precisamos fazer para a implementação", destacou. Neste sentido, a especialista é otimista: "Temos o potencial de deixar o legado", frisou.

Em meio às tensões que o governo tenta solucionar até meados de agosto, o setor privado e ONGs brasileiras intensificam a mobilização para definir as agendas prioritárias que nortearão as negociações da conferência em novembro.

Bioeconomia é destaque rumo à COP30

Um documento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne mais de 400 organizações, foi divulgado em primeira mão à EXAME e elenca a bioeconomia, uso da terra e adaptação climática como agendas prioritárias — temas chave onde o país possui vantagens comparativas únicas e pode exercer liderança global.

"O nexo entre clima e natureza nunca ficou tão evidente. Eu costumo dizer que a crise climática é só a ponta do iceberg e tem por trás justamente a perda de biodiversidade e o aspecto social", explicou Juliana.

A bioeconomia emerge como um dos eixos centrais da agenda brasileira, impulsionada pelo histórico recente da Cúpula do G20, quando o país defendeu mundialmente o fomento a este modelo que pode destravar R$ 45 bilhões ao PIB brasileiro ao aproveitar as cadeias de sociobiodiversidade da Amazônia, segundo o WRI. 

Segundo Juliana, há a oportunidade única de pautar o debate e fomentar o desenvolvimento socioeconômico justo e é muito mais do que um benefício meramente financeiro.

"É uma agenda produtiva que se impulsionada consegue responder a crises simultâneas, a climática, perda de biodiversidade e escalada da desigualdade social. No fim, todas são dependentes", enfatizou ao ressaltar a importância de destravar a solução.

O simbolismo de ter uma COP na Amazônia traz peso adicional às discussões sobre bioeconomia e conservação. Como enfatizou a especialista, "O PIB da América do Sul é 70% dependente dos serviços ecossistêmicos prestados pelo bioma. É uma evidência muito concreta do quanto a nossa resiliência e a adaptação dependem da manutenção das florestas em pé".

Como maiores desafios para destravar a agenda, Juliana destaca a dificuldade de transformar as vantagens comparativas em competitivas ao mercado e o acesso a investimentos.

O financiamento climático é um dos gargalos que a última COP29 ficou longe de resolver, quando países concordaram em Baku a levantar apenas 300 bilhões de dólares anuais para combater os efeitos mais severos da crise do clima frente a uma necessidade de trilhões.

Com o intuito de avançar com mais ambição neste ano, a pauta se conecta diretamente com a de adaptação climática para o desenvolvimento de cidades mais resilientes. 

Uso da terra em foco

Outra agenda em destaque para o Brasil é o uso da terra, pela relevância do setor na economia brasileira e por contribuir com 70% das emissões nacionais junto com a agropecuária, em um perfil bem diferentemente de outras nações onde a principal fonte são as práticas industriais e energia. [/grifar]

"O Brasil precisa liderar pelo exemplo e demonstrar soluções já maduras desenvolvidas, buscando convergência de esforços para construir um plano de ação concreto, acelerando a implementação de soluções contra o desmatamento", apontou Juliana.

Fernando Sampaio, cofacilitador da Coalizão Brasil e diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), reforçou a importância do tema: "Sem estratégias para atuar com o uso da terra, será muito difícil atingir nossas metas climáticas. Precisamos de políticas públicas robustas para a conservação e restauração", acrescentou.

Na última COP29 em Baku, o Brasil apresentou seu compromisso climático até 2035 (NDC) e se comprometeu a reduzir em até 67% as emissões. A peça-chave para chegar lá? Acabar com o desmatamento ilegal, o que clama por esforços do setor.

Mobilização empresarial

O setor empresarial brasileiro se mobiliza de forma estratégica para a COP30. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) lançou o Brasil de Soluções, iniciativa que reúne 135 iniciativas de 58 empresas associadas de 18 setores da economia.

Os dados mostram o alinhamento do setor privado com a agenda climática: 85% das ações mapeadas estão de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 81% contam com documentação técnica comprovando impacto e mais da metade tem colaboração direta das comunidades locais.

"É um esforço mais amplo do CEBDS para mobilizar estrategicamente o setor, possibilitar a conexão com oportunidades de financiamento e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, inclusiva e regenerativa", analisa Marina Grossi, presidente do CEBDS e Enviada Especial para o Setor Empresarial da COP30.

Paralelamente, o CEBDS lidera coalizões multissetoriais para a descarbonização do transporte, energia, agricultura e minerais essenciais.

A coalizão de transportes, por exemplo, já entregou um plano com 90 alavancas para reduzir as emissões do setor e atrair R$ 600 bilhões em investimentos verdes.

As cinco agendas prioritárias para a COP30 

Segundo especialistas da Coalizão Brasil, o país deve priorizar cinco temas nos debates:

  1. Combate ao desmatamento e degradação de ecossistemas - principal medida para redução imediata das emissões no setor de uso da terra;
  2. Agricultura sustentável - com foco na recuperação de pastagens degradadas e integração de sistemas produtivos;
  3. Financiamento climático - para ampliar investimentos em modelos produtivos sustentáveis;
  4. Justiça climática e desenvolvimento inclusivo - garantindo que populações vulneráveis tenham acesso aos benefícios da economia de baixo carbono;
  5. Proteção e uso sustentável da biodiversidade - contribuindo para o cumprimento das metas do Marco Global da Biodiversidade;
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