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Durante protesto em Roma, ativistas destacam paradoxo: instituição sustentada majoritariamente por fiéis e funcionárias mulheres mantém estrutura decisória exclusivamente masculina. (X/Reprodução)
Editora ESG
Publicado em 7 de maio de 2025 às 16h44.
No momento em que todas as atenções do mundo se voltam para a Capela Sistina, onde 133 cardeais iniciam o processo de escolha do novo papa, um grupo de ativistas realizou um protesto simbólico contra a ausência de representatividade feminina neste processo histórico.
Na manhã desta quarta-feira (7), manifestantes soltaram fumaça rosa em um ponto estratégico de Roma com vista para o Vaticano, em referência ao tradicional sinal de fumaça branca que anunciará a eleição do sucessor de Francisco.
A manifestação não é inédita. Em 2013, durante o conclave que elegeu o papa Francisco, o mesmo grupo já havia realizado protesto semelhante, demonstrando a persistência de uma reivindicação que atravessa décadas sem mudanças estruturais significativas na instituição religiosa.
Neste ano, o ato foi coordenado pela Conferência de Ordenação de Mulheres, representando uma crítica direta ao fato de que, embora as mulheres constituam mais da metade dos 1,3 bilhão de fiéis católicos no mundo, continuam excluídas do processo decisório sobre a liderança máxima da instituição.
Em declaração para a imprensa local, Kate McElwee, diretora-executiva da organização, classificou a situação como escandalosa, destacando que o protesto com fumaça rosa simboliza a esperança de que a Igreja possa evoluir para incluir as mulheres como iguais em todas as esferas da vida eclesiástica.
Ao longo de seus 12 anos como papa, Francisco implementou mudanças que ampliaram a presença feminina em posições administrativas no Vaticano.
Estatísticas oficiais mostraram crescimento, com a proporção de mulheres funcionárias do Vaticano subindo de 19,2% em 2013 para 23,4% em 2023. Em números absolutos, isso representou um salto de 846 para 1.165 trabalhadoras.
Entre as nomeações de maior destaque estão a irmã Raffaella Petrini, que assumiu em 2024 a presidência do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, subordinada apenas ao próprio papa; Nathalie Becquart, nomeada subsecretária do Sínodo dos Bispos em 2021, tornando-se a primeira com direito a voto em uma assembleia sinodal; e Francesca Di Giovanni, primeira a ocupar cargo de responsabilidade na diplomacia vaticana.
O pontífice ainda estabeleceu duas comissões para analisar a possibilidade de mulheres serem ordenadas como diaconisas, função próxima à de padre, mas sem autorização para celebrar missas.
Especialistas como Anna Rowlands, da Universidade de Durham, reconhecem:
"Francisco fez mais do que qualquer outro pontífice para garantir que as mulheres fossem incluídas em maior número e em posições de maior autoridade"
Mas avaliam que essas mudanças ocorreram "dentro dos parâmetros existentes", sem alterar fundamentalmente as estruturas hierárquicas da instituição.
A proibição de mulheres no sacerdócio foi formalmente estabelecida pelo papa João Paulo II em 1994.
Francisco, apesar das iniciativas em outras áreas, sempre expressou apoio a esta regra - uma posição vista por críticos como uma contradição em um pontificado que, em outros aspectos, mostrou-se aberto a reformas e à inclusão.
A exclusão feminina do processo de escolha do novo papa está relacionada diretamente a restrições impostas pela Igreja Católica quanto ao acesso de mulheres aos cargos da hierarquia eclesiástica.
Apenas cardeais com menos de 80 anos têm direito a voto no conclave. E o cardinalato, assim como os demais níveis da hierarquia (diáconos, padres, bispos e arcebispos), permanece exclusivamente masculino.
As restrições persistem apesar da predominância feminina tanto entre fiéis quanto entre os trabalhadores não-eclesiásticos da Igreja.
Dados oficiais indicam que as mulheres constituem atualmente, mais de 90% da força de trabalho não-ordenada da instituição, com quase 600 mil funcionárias em comparação a menos de 50 mil homens em funções administrativas e de apoio.
Entre os papáveis que poderiam suceder Francisco, três cardeais são identificados como favoráveis à ordenação de mulheres: Joseph William Tobin (Estados Unidos), Juan José Omella Omella (Espanha) e Mario Grech (Malta).
Esta posição, ainda minoritária no Colégio Cardinalício, sugere que o debate sobre o papel das mulheres na hierarquia católica continuará a evoluir, independentemente do resultado do atual conclave.
Apesar das restrições oficiais, cerca de 200 católicas ao redor do mundo já foram "ordenadas" padres por outras mulheres e realizam missas, desafiando a Igreja Católica e estando sujeitas a processos de excomunhão.
O movimento representa uma forma de resistência ativa contra normas que consideram discriminatórias e inconsistentes com os valores cristãos de igualdade.