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Accenture Brasil se posiciona: 'Não contaremos a diferença na diversidade'

Comunicação acontece enquanto EUA ampliam pressão legal e especialistas sugerem necessidade de cautela no Brasil na revisão de políticas de diversidade

Casa da Accenture em Davos: consultoria encerrou metas de representatividade semanas após ser elogiada pelo Fórum Econômico Mundial por suas práticas inclusivas. (Lia Rizzo/Exame)

Casa da Accenture em Davos: consultoria encerrou metas de representatividade semanas após ser elogiada pelo Fórum Econômico Mundial por suas práticas inclusivas. (Lia Rizzo/Exame)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 11h44.

Última atualização em 23 de fevereiro de 2025 às 11h48.

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O anúncio da Accenture de encerrar suas metas globais de diversidade e inclusão, feito em 7 de fevereiro, intensificou as ondas de choque no mercado corporativo global já estimuladas por outras gigantes como Meta, Google e McDonald's.

A surpresa não veio apenas pela decisão em si - que inclui o fim das metas de representatividade estabelecidas em 2017 e a descontinuação de programas específicos para grupos demográficos - mas principalmente pelo protagonismo da consultoria na defesa dessas políticas.

E ao que tudo indica, também a operação brasileira da consultoria foi pega desprevenida. O escritório local preparava para dias depois, um encontro intitulado "Inclusão e Diversidade como estratégia para o mercado", quando chegou o memorando global da CEO Julie Sweet.

Evento desmarcado e reação comedida

Há dois dias, na sexta-feira, 21, veio o quase posicionamento da Accenture Brasil, através de mensagem do CEO Rodolfo Eschenbach no LinkedIn - um dia depois da data prevista para o evento sobre DE&I, que foi desmarcado. 

"O que estamos fazendo é deixar de 'contar' diferenças", afirmou Eschenbach, enfatizando que a empresa quer "contar com nossas pessoas" para manter a Accenture como referência em desenvolvimento profissional no Brasil. A postagem causou reações diversas.

Algumas, em apoio, ressaltaram que a mudança dá lugar a uma maior valorização das competências técnicas. Já os comentários contrários destacaram o fato de a foto que ilustra a postagem do executiva ser composta majoritariamente por profissionais brancos. O texto na íntegra pode ser lido aqui.

No quadro de funcionários da Accenture no país, mulheres representam 45,7% dos profissionais, com presença decrescente na hierarquia - 31,4% nos cargos de nível executivo e 25% nas posições de diretor executivo. Em termos de diversidade étnico-racial, pretos e pardos constituem 35% do quadro funcional, enquanto a representatividade LGBTQ+ alcança mais de 3.400 pessoas.

Departamento de Justiça dos EUA pressiona empresas

Embora outras tantas corporações já tivessem recuado em compromissos similares, a Accenture se destacava por ter transformado a diversidade em elemento central de sua estratégia de negócios, oferecendo inclusive serviços de consultoria em DE&I para seus clientes no mundo todo.

Porém, é fato que o cenário nos Estados Unidos tem ganho novos contornos, sobretudo após diretrizes recentes do Departamento de Justiça americano. Na última semana, um comunicado oficial do órgão informou que até 1º de março, o setor privado deve receber novas recomendações para encerrar "discriminações e preferências ilegais" relacionadas a DEI/DEIA, incluindo propostas de investigações criminais e civis em diversos setores.

O memorando, no entanto, estabelece exceções importantes: atividades educacionais, culturais ou históricas como o Mês da História Negra ou o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto permanecem permitidas, desde que celebrem a diversidade sem promover discriminação.

Mesmo assim, o documento já enfrenta contestações legais de uma coalizão que inclui diretores de diversidade universitários, professores.

"Diversidade está sob ataque": mercado financeiro se posiciona

A Glass Lewis, influente consultoria que orienta investidores institucionais globalmente, emitiu há alguns dias uma recomendação contundente ao mercado.

"Embora acreditemos firmemente que a diversidade contribui para melhor desempenho e valor de longo prazo para acionistas, a posição inflexível da atual administração dos EUA pode forçar mudanças em suas recomendações de voto para proteger seus clientes de riscos legais", afirma a empresa em carta, recomendando ainda que organizações evitem decisões precipitadas antes do relatório do Departamento de Justiça.

A consultoria destaca especialmente o desafio de equilibrar o cenário americano com expectativas globais: "Reconhecemos que muitos de nossos clientes institucionais, tanto nos EUA quanto fora do mercado americano, permanecem comprometidos com o valor da diversidade. Faremos o possível para apoiar suas preferências de voto, mas pedimos que entendam que isso pode não ser totalmente possível no final."

Compromissos brasileiros sob legislação local

No Brasil, especialistas apontam que os direcionamentos globais precisarão necessariamente se adaptar à legislação local, que inclui normativas como a Lei 14.611/2023 sobre igualdade salarial entre homens e mulheres.

Na União Europeia, regulamentações específicas sobre equidade de gênero e relatórios de diversidade também permanecem em vigor, sugerindo que o impacto das mudanças americanas pode variar significativamente entre regiões.

Consultores especializados em diversidade ouvidos por EXAME recomendam cautela na interpretação dessas mudanças corporativas. "Nem tudo tem a ver com alinhamento global e novos contextos políticos", afirmou reservadamente uma consultora, sugerindo que questões locais e setoriais podem ter peso maior nas decisões do que aparentam.

Com receita anual superior a US$ 60 bilhões e presença em mais de 120 países, a Accenture tradicionalmente exerce forte influência sobre tendências corporativas globais. No entanto, o atual momento sugere que a implementação de políticas de diversidade e inclusão pode ganhar orientações cada vez mais regionalizados, respondendo a contextos regulatórios e sociais específicos de cada mercado.

O desafio para as multinacionais será equilibrar diretrizes globais com as particularidades e exigências locais, em um cenário de crescente pressão regulatória e política.

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