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Quase 200 países são esperados na COP30 em Belém de 10 a 21 de novembro (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 08h00.
Ao final da Cúpula de Líderes, a presidência brasileira deixou claro que adaptação e mitigação são "inseparáveis" e a COP30 começou nesta semana em Belém colocando a pauta transversal no centro da agenda climática. Na terça-feira, 11, o Brasil também propôs um plano para integrar ambas políticas entre municípios, estados e União.
Mas já no segundo dia de COP, a agenda sofreu impasses e travou. Países africanos e árabes pediram mais dois anos para negociar os indicadores de resiliência da Meta Global de Adaptação — justamente o instrumento que deveria medir o progresso da adaptação em vidas salvas e infraestrutura protegida frente aos eventos climáticos extremos.
"Precisamos sair de Belém com esta lista de indicadores resolvida, porque essa é a COP da adaptação", afirmou à EXAME Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, que acompanha as negociações.
Para a executiva, adiar a decisão é "uma péssima possibilidade e sinalização para o Brasil e a América Latina".
A lista começou com 9 mil indicadores na COP28 e hoje contempla mais de 100 mil, cobrindo áreas como saúde, infraestrutura urbana e sistemas alimentares e visando medir o progresso real de medidas de adaptação frente aos efeitos mais severos da crise do clima.
A expectativa também é alta frente ao compromisso de avançar em questões que vêm se arrastando, incluindo a ambiciosa meta de triplicar o financiamento para adaptação, saltando dos atuais US$ 40 bilhões anuais para US$ 120 bilhões até 2030.
O pedido de adiamento pegou os negociadores de surpresa. Grupos africanos e árabes argumentam que a lista atual não pode ser definitiva e que precisam de mais tempo para analisar as opções.
"As primeiras negociações deveriam ser o momento em que os países colocam na mesa algumas cartas", destacou Natalie. "Eles colocaram essa carta muito forte de que querem mais tempo, de que acham que essa lista não pode ser definitiva. Então vai ter esse jogo de empurra".
O timing é especialmente delicado. Segundo Marina Guião, analista de Políticas Climáticas na rede LACLIMA, o Roadmap Baku-Belém apresentado na semana passada deveria orientar as negociações, mas deixou pouco tempo para que as partes reagissem, "tanto técnica quanto politicamente".
O impasse nos indicadores se soma a outra preocupação urgente: o financiamento para adaptação pode cair justamente quando os impactos climáticos estão aumentando em todo o mundo.
Atualmente, cerca de US$ 40 bilhões por ano em recursos públicos são mobilizados para países mais vulneráveis. Mas com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e das políticas climáticas, a tendência é o valor diminuir.
Países menos desenvolvidos, especialmente africanos, propõem triplicar o financiamento para adaptação, chegando a US$ 120 bilhões até 2030. A proposta já recebeu apoio público de grupos da América Latina, América do Sul e países árabes. O presidente Lula também sinalizou apoio à ideia em sua carta antes da COP.
Mas países desenvolvidos resistem, argumentando que a questão já foi resolvida na COP29, em Baku, e "não pode ser reaberta". Na época, o acordo firmado foi de 300 bilhões de dólares anuais, frente a uma necessidade de 1.3 trilhão.
A presidência brasileira da COP30 programou um evento de alto nível para o dia 14 de novembro, seguido por uma discussão específica sobre financiamento para adaptação no sábado, 15.
O impasse sobre os indicadores deve se arrastar pela primeira semana e pode acabar sendo resolvido apenas na segunda semana de negociações, quando os ministros chegam para as decisões políticas finais.
"Esperamos que achem uma solução o quanto antes e que ela seja realmente para o planeta e para as pessoas", concluiu Natalie.