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Embora estejam em alta, os investimentos em transição energética no Brasil ainda representam apenas 1,8% dos US$ 2 trilhões totais no mundo (Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 1 de abril de 2025 às 19h00.
Última atualização em 2 de abril de 2025 às 12h07.
O Brasil se consolidou como o sétimo maior destino global de investimentos em transição energética em 2024, com US$ 37 bilhões (R$ 192,4 bilhões) captados – um crescimento pelo terceiro ano consecutivo e que mostra seu potencial em soluções verdes, impulsionado por energia solar, eólica e veículos elétricos.
Por outro lado, há um paradoxo: o valor ainda representa apenas 1,8% dos 2 trilhões (R$ 10,4 trilhões) investidos no mundo e ainda é bastante aquém frente a sua liderança em recursos naturais e energias renováveis.
É o que revela o novo relatório anual Brazil Transition Factbook 2025 da Bloomberg NEF e que também destaca um cenário em que o país precisa investir US$ 6 trilhões para zerar as emissões até 2050.
Líder em matriz renovável no G20 (88%), 53% das emissões brasileiras ainda vêm do transporte e o motor para a descarbonização está na eletrificação. Este setor cresceu 126% no ano passado, com vendas de EVs atingindo 6% do mercado automotivo e impulsionadas pela chegada de montadoras chinesas como a BYD, que deve inaugurar uma fábrica no país ainda em 2025.
Segundo prevê a Bloomberg NEF, as finanças sustentáveis devem aumentar ainda mais neste ano, com a introdução de uma nova taxonomia, relatórios de riscos climáticos e amadurecimento do mercado de carbono regulado.
Mas os desafios persistem: riscos cambiais, entraves regulatórios e a necessidade de instrumentos financeiros inovadores ainda limitam o pleno potencial do Brasil, defenderam especialistas durante o Fórum da Bloomberg NEF realizado nesta terça-feira, 1° de abril, em São Paulo.
O painel Rumo à COP30: Oportunidades climáticas em finanças reuniu Joaquim Levy, atual líder da GFANZ (Aliança Financeira para o Net-zero) e ex-ministro da Fazenda do Brasil, Erika Medici, CEO da AXA Seguradora no Brasil e especialista em gestão de riscos climáticos, Guilherme Ferreira, cofundador e presidente da JiveMauá, gestora de investimentos alternativos que nasceu da fusão da Jive Investments com a Mauá Capital, e Luciana Ribeiro, sócia-diretora e CEO da eB Capital, à frente das discussões do setor privado.
Segundo Levy, o financiamento por meio do mercado de capitais já é uma realidade, com 40% dos projetos de energia limpa utilizando debêntures de infraestrutura verde (títulos de dívida emitidos por empresas). Mas alertou: "A taxa de juros real no Brasil ainda é o dobro da média dos emergentes, e o câmbio volátil continua assustando investidores estrangeiros".
A finalização da taxonomia sustentável até julho de 2025 e a expansão do programa Eco Invest lançado em 2023 pelo governo federal são passos cruciais para destravar novos recursos e reduzir riscos, destacou Levy.
Erika Medici, CEO da AXA Seguradora, trouxe à tona uma questão urgente: a proteção contra eventos climáticos extremos. Em 2024, apenas 40% das perdas globais por desastres climáticos tinham cobertura de seguros, percentual que caiu para 6% nas enchentes do Rio Grande do Sul.
A especialista defendeu "uma revolução" nos modelos de prevenção. "Para cada dólar investido em mitigação, economizamos US$ 7 em reconstrução", afirmou, destacando a importância dos investimentos em seguros frente ao cenário da crise climática.
Guilherme Ferreira, da JiveMauá, fez uma análise sobre a evolução dos investidores climáticos, os incluindo em quatro categorias de perfis distintos. De um lado, os céticos que ainda veem a agenda ambiental como custo, não como oportunidade.
No outro extremo, os investidores estratégicos que já compreendem a análise climática como vantagem competitiva. "O aço verde é o exemplo perfeito: seu prêmio de mercado já supera o custo adicional de produção", observou Ferreira. Dados da B3 corroboram essa tese: iniciativas com selo ESG apresentaram uma valorização 35% acima da média em 2024.
Mirando a COP30 em Belém em novembro de 2025, Luciana Ribeiro, da eB Climate, foi enfática: "Ou o Brasil chega como líder em soluções reais, ou será só mais um vendedor de commodities verdes".
A especialista, que coordena a força-tarefa de finanças do setor privado na COP30, acredita em três eixos estratégicos: posicionar o biocombustível como alternativa global ao diesel fóssil, estruturar o mercado de carbono (o Brasil detém 30% dos créditos do mundo) e atrair capital estrangeiro para impulsionar o hidrogênio verde.
Para destravar investimentos, os especialistas concordaram que a prioridade é termos regras claras — tanto na taxonomia sustentável quanto no mercado de carbono. Da mesma forma, a criação de instrumentos financeiros inovadores, como equity verde e seguros climáticos mais acessíveis, foi apontada para escalar o fluxo de capital.
Além disso, a COP30 pode ser uma oportunidade única do Brasil assumir um papel de liderança na diplomacia climática global."O mercado já entendeu que clima é oportunidade. Agora, precisamos provar que o Brasil é onde essa conta fecha", destacou Levy. Os números mostram que o país tem ativos valiosos — da matriz energética renovável ao potencial ainda inexplorado no mercado de carbono.