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Brasil enfrenta 'explosão' de desastres climáticos e chuvas intensas triplicam nesta década

Estudo inédito alerta sobre os impactos das mudanças do clima e revela que o período já registra o dobro de pessoas afetadas por eventos extremos, com prejuízos econômicos de R$ 132 bilhões

Apenas nas enchentes históricas do Rio Grande do Sul, as perdas econômicas somaram R$ 88,9 bilhões e reforçam a urgência da adaptação climática (Gustavo Ghisleni/AFP)

Apenas nas enchentes históricas do Rio Grande do Sul, as perdas econômicas somaram R$ 88,9 bilhões e reforçam a urgência da adaptação climática (Gustavo Ghisleni/AFP)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 1 de julho de 2025 às 15h01.

Última atualização em 1 de julho de 2025 às 16h11.

O Brasil vive uma escalada alarmante de desastres climáticos relacionados a chuvas intensas e registrou 7.539 eventos do tipo entre 2020 e 2023, três vezes mais em comparação com as 2.335 ocorrências durante toda a década de 1990 e com aumento de 220%.

É o que alerta um novo estudo divulgado nesta terça-feira, 1, e coordenado pelo Programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, UNESCO e Fundação Grupo Boticário.

A análise faz parte da série "Brasil em Transformação" e tem como objetivo alertar a sociedade sobre os impactos das mudanças climáticas.

Desde 1991, foram contabilizados 26.767 eventos de chuvas extremas no Brasil, com crescimento acentuado a partir dos anos 2000. A partir de 2020, a média anual de registros dobrou em relação à década anterior e chegou a ser 7,3 vezes superior à década de 1990.

Sem ações efetivas e em larga escala, as projeções do clima não são animadoras e indicam que essa tendência deve se agravar, com eventos climáticos extremos cada vez mais intensos e frequentes.

Segundo o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), o regime pluviométrico mostra aumento de 30% na precipitação das regiões Sul e Sudeste até 2100, enquanto Norte e Nordeste podem registrar redução de até 40%.

Paralelamente, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) revela que a disponibilidade hídrica no país pode diminuir em até 40% até 2040.

A abrangência geográfica também ampliou drasticamente. Atualmente, 4.645 municípios brasileiros já enfrentaram algum tipo de evento relacionado às fortes precipitações e a proporção de locais impactados saltou de 27% nos anos 1990 para 68% nos anos 2000, atingindo 83%.

A sazonalidade é fator chave para explicar o fenômeno: o verão concentra 44% dos desastres climáticos relacionados às chuvas nas últimas três décadas, especialmente no Sudeste e Centro-Oeste.

No entanto, o padrão varia regionalmente: no Norte e Nordeste, também há o aumento significativo durante o outono. Já no Sul, o outono registra o maior número de eventos do tipo, embora sejam frequentes em todas as estações.

Impacto humano sem precedentes

Outro dado que preocupa é o crescimento exponencial do número de pessoas afetadas por esses eventos extremo. Entre 1991 e 2023, aproximadamente 91,7 milhões de brasileiros foram impactados -- um aumento de 82 vezes comparado aos anos 1990, quando cerca de 400 mil pessoas foram afetadas.

Já de 2020 a 2023, o salto foi para 31,8 milhões. Em 2024, somente as enchentes históricas do Rio Grande do Sul atingiram 2,4 milhões de moradores, elevando a média anual de afetados para 6,8 milhões, quase o dobro da década anterior.

"A alta não apenas evidencia a crescente frequência, mas também a gravidade, com eventos que têm gerado um número cada vez maior de vítimas e danos materiais em todo o país", destacou Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Unifesp e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

E os impactos vão além dos números. Cerca de 90% dos indivíduos afetados sofreram danos adversos, incluindo traumas psicológicos que podem resultar em incapacidades temporárias ou permanentes.

Além disso, aproximadamente 654 mil pessoas ficaram feridas ou doentes, enquanto 8,7 milhões foram desabrigadas ou desalojadas. No total, foram 4.247 mortes relacionadas, representando 86% de todas as fatalidades causadas por desastres climáticos no Brasil..

Prejuízos bilionários

O impacto financeiro também é alarmante e os prejuízos econômicos totalizaram R$ 146,7 bilhões. Somente entre 2020 e 2023, as perdas chegaram a cerca de R$ 43 bilhões, valor 40 vezes superior aos R$ 1,1 bilhão da década de 1990.

Com as perdas estimadas em R$ 88,9 bilhões apenas em solo gaúcho com a pior tragédia de sua história em 2024, o total de prejuízos desta década já alcança cerca de R$ 132 bilhões -- o dobro dos últimos 10 anos e 120 vezes maior que nos anos 1990.

A maior parte deles (83%) é de origem privada, com destaque para agricultura (47%) e comércio (30%).  Já os públicos somaram R$ 24,4 bilhões, impactando principalmente transporte (52%), saneamento básico (28%) e ensino (8%).

Soluções baseadas na natureza

Para enfrentar esse cenário, especialistas defendem investimentos em políticas de prevenção e adaptação climática.

"Medidas como planejamento urbano adequado, adaptar centros urbanos e contar com sistemas de alerta meteorológico eficazes têm o potencial de salvar vidas e reduzir significativamente os danos materiais", afirmou Juliana Baladelli Ribeiro, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário.

As Soluções Baseadas na Natureza (SBN) emergem como estratégia para as cidades se tornarem mais resilientes.

A nível local, são exemplos intervenções como jardins de chuva, biovaletas e vias verdes ajudam a reduzir o escoamento superficial e aumentar a infiltração da água no solo.

Outras ações incluem o desenvolvimento de parques lineares para manter espaços seguros ao longo das margens dos rios, permitindo que a água transborde sem afetar diretamente a população.

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