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Dos 280 milhões de hectares destinados à agropecuária no Brasil, 165 milhões são pastagens e destes 82 milhões estão degradados
Repórter de ESG
Publicado em 28 de abril de 2025 às 12h35.
Última atualização em 28 de abril de 2025 às 14h26.
"É mais um leilão que começa a criar um processo virtuoso, que deve influenciar novas dinâmicas e conversa com o Plano Clima, com a nossa meta climática (NDC) e para chegarmos ao desmatamento zero até 2030", disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, durante coletiva de imprensa de anúncio do 2º Leilão Eco Invest, voltado a mobilizar recursos para financiar a recuperação de terras degradadas e sua conversão em sistemas produtivos sustentáveis.
O objetivo do governo federal é recuperar 1 milhão de hectares e a expectativa é de alavancar até R$ 10 bilhões. Serão contemplados cinco biomas brasileiros: Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal, exceto a Amazônia, que terá um leilão exclusivo nos próximos meses devido a suas peculiaridades.
Recentemente, um estudo pioneiro do Boston Consulting Group (BCG), em parceria com o Ministério da Agricultura e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), revelou que o Cerrado pode gerar US$ 100 bilhões ao PIB brasileiro com agricultura regenerativa.
A iniciativa integra o Programa Caminho Verde Brasil, lançado na mesma data, com a meta de restaurar 40 milhões de hectares de áreas degradadas nos próximos dez anos. Segundo o governo federal, o novo leilão será realizado no modelo de financiamento parcial (Blended Finance) -- com recursos públicos do Eco Invest funcionando como catalisadores para atrair investimentos privados.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que o EcoInvest também incorpora técnicas e tecnologias sustentáveis que geram elevados ganhos de produtividade em áreas que passam a ser utilizadas para a agricultura de baixo carbono. "Não estamos de olho só no que vai ser produzido nesta terra, mas também no que vai ser preservado", complementou na coletiva.
Segundo dados oficiais, dos 280 milhões de hectares destinados à agropecuária no Brasil, 165 milhões são pastagens, sendo que 82 milhões encontram-se degradados. O Caminho Verde Brasil visa aproveitar esse potencial de recuperação para ampliar a produção agrícola sem novas áreas de desmatamento.
"Podemos praticamente dobrar a área de produção de alimentos no Brasil sem desmatar, evitando a expansão sobre áreas de vegetação nativa. É uma grande oportunidade para captar investimentos internacionais e contribuir com a segurança alimentar e nutricional do planeta", destacou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
Para receber os financiamentos, os projetos deverão atender a critérios ambientais rigorosos, incluindo monitoramento contínuo do impacto ambiental com medição das emissões de gases de efeito estufa, análises periódicas da qualidade do solo e ampliação da cobertura vegetal permanente.
As instituições financeiras participantes precisarão destinar pelo menos 50% de sua carteira de investimentos para a produção de alimentos, com destaque para proteína animal e lavouras, além de priorizar a recuperação da Caatinga em suas alocações.
O primeiro leilão do programa Eco Invest, realizado em novembro de 2024, contemplou nove instituições financeiras: Itaú, HSBC, Santander, Caixa, Banco do Brasil, Citi, Bradesco, BNDES e Safra, e foi considerado bem-sucedido. Segundo o governo, demonstrou seu potencial para ser um modelo para a América Latina e mundo.
A edição resultou em um potencial de investimentos de R$ 44,3 bilhões, com o Tesouro Nacional contribuindo com R$ 6,8 bilhões em capital catalítico e os bancos buscando R$ 37,6 bilhões em capital privado.
Marina Silva também destacou o papel do programa na orientação de fluxos financeiros para atividades econômicas alinhadas com o limite de aquecimento global de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.
"É como integrar a economia na mesma equação com equilíbrio ambiental. Estamos conseguindo provar sinergia para que atividades econômicas sejam de fato sustentáveis", afirmou a ministra, ressaltando que a implementação da política ambiental está sendo feita de forma transversal.
A ministra também enfatizou a importância da valorização do capital natural e dos serviços ecossistêmicos: "Geralmente olhamos para os recursos financeiros e não vemos o natural com o mesmo cuidado, e obviamente eles são as bases para qualquer atividade. Não podemos só perceber seu valor quando o recurso está escasso, como no caso da água, onde temos uma série de prejuízos -- inclusive na agricultura".
Cada lance será avaliado com base no nível de alavancagem proposto e no volume de hectares a serem recuperados, sendo exigido um valor mínimo de R$ 100 milhões.
O programa também incentiva a criação de Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) para estruturar as operações.
O primeiro leilão abriu caminho para esta segunda edição, demonstrando a viabilidade de instrumentos financeiros para impulsionar investimentos sustentáveis em larga escala.
"Ao combinar hedge cambial, blended finance e boa estruturação, o Ecoinvest mostra como superar barreiras e destravar bilhões em capital privado", disse Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Uma novidade desta edição é a chamada de projetos online, que permite que cooperativas, empresas e produtores enviem suas propostas de recuperação de terras degradadas. O prazo é 13 de junho de 2025.