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Brasil lança rede de agricultura tropical regenerativa como solução global

Aliança de seis centros de pesquisa propõe modelo que concilia produtividade e sustentabilidade e quer impulsionar debate na COP30 em Belém

Agricultura regenerativa combina restauração do solo, práticas de baixo carbono e proteção da biodiversidade (Syngenta/Divulgação)

Agricultura regenerativa combina restauração do solo, práticas de baixo carbono e proteção da biodiversidade (Syngenta/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 23 de outubro de 2025 às 13h08.

Última atualização em 23 de outubro de 2025 às 13h18.

Na corrida por sistemas agrícolas mais resilientes e regenerativos, o Brasil sai na liderança e se posiciona como protagonista da transição climática ao mesmo tempo que gera benefícios econômicos.

Um estudo pioneiro lançado já revelou o tamanho do potencial no Cerrado: o bioma responsável por 60% da produção agropecuária poderia gerar US$ 100 bilhões ao PIB brasileiro por meio deste modelo sustentável.

"Somos detentores de um modelo único de agricultura tropical regenerativa que não foi replicado em todos os outros países tropicais", destacou em entrevista à EXAME, Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global. "Esta é a COP para falarmos sobre isso."

A declaração marca o lançamento da Rede de Inteligência em Agricultura e Clima (Riac), anunciada nesta quinta-feira, 23, por seis dos principais centros de pesquisa do país: Agroicone, FDC Agroambiental, FGV Agro, Insper Agro Global, Instituto Equilíbrio e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Leia mais: a aposta bilionária de gigantes de alimentos em agricultura regenerativa.

O coordenador do Insper explicou que a ideia surgiu quando os grupos perceberam que já faziam iniciativas separadamente. "Por que não unir este conhecimento"? refletiu. [grifar]O primeiro produto será um site reunindo cerca de 40 estudos das seis instituições desde 2020.

O objetivo é pautar o debate público sobre a transição para uma agricultura tropical regenerativa, um modelo que combina restauração do solo, práticas de baixo carbono e proteção da biodiversidade.

Como pergunta central, os pesquisadores querem entender qual o papel central dos países tropicais na segurança alimentar e irão analisar a América do Sul e Latina, África Subsaariana e Ásia.

Juntos, esses locais concentram 40% das terras aráveis e 52% da água doce do planeta. Porém, há profundas diferenças entre regiões.

À EXAME, Ludmila Rattis, uma das porta-vozes da Rede e pesquisadora da FDC, Ipam e Woodwell Climate Research Center, destacou que o setor não deve ser visto como problema e sim como "coração da solução" e que a união das instituições era necessária visto que já somos uma potência em técnica, manejo e produção.

"Sem isso, corremos sérios riscos de exacerbar os problemas da fome, da má distribuição de alimentos, crises migratórias e a instabilidade social em escala global", ressaltou.

Brasil decola em produtividade com tecnologia 

O primeiro estudo da Riac, realizado pelo Insper Agro Global, mostra que o Brasil teve um desempenho excepcional em produtividade agrícola. Enquanto a América Latina teve um crescimento de 1,2% ao ano desde 1960 e África registrou apenas 0,4% ao ano, o país teve 1,8%, e uma alta de 2,8% a partir de 1980.

Segundo Marcos, a abundância brasileira em recursos naturais não é a explicação e sim a base. A Ásia, por exemplo, se adaptou às tecnologias da Revolução Verde e também sai na frente.

"O Brasil decola em produtividade e atribuo esse sucesso a existência de recursos naturais combinados com pessoas e tecnologia", disse.

A primeira fase da agricultura tropical brasileira foi marcada pela expansão geográfica, com soja e pecuária liderando o processo. Hoje, o foco mudou.

"Com sistemas integrados, poupamos terra e, ao mesmo tempo, conseguimos reduzir as emissões com o próprio processo de diversificação", explicou o especialista. "Já sabemos que quando apostamos em duas safras na mesma área, reduzimos pressão sobre o desmatamento."

Estados como Mato Grosso exemplificam essa transformação, com diversidade de produtos em sistemas integrados que transformam pastagens degradadas e aumentam o estoque de carbono no solo.

Solução na COP30

A rede sustenta em quatro pilares: atuação baseada em ciência, neutralidade política, convergência para ação transformadora e internacionalização das discussões sobre a agricultura tropical regenerativa. 

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e enviado especial do setor agrícola da COP30, vê a iniciativa como fundamental para impulsionar o debate na conferência do clima em Belém do Pará.

"Por muito tempo, a discussão ficou paralisada em uma falsa dicotomia entre produzir e conservar. Esta rede representa a construção de um caminho do meio, uma terceira via pragmática e inteligente, baseada na ciência", afirmou.

A rede já prepara novos estudos sobre Segurança Alimentar e Energética, Adaptação, Financiamento e Produção de Biocombustíveis Verdes, que devem ser lançados ainda este ano.

"Beneficiar ecossistemas naturais não é opção, é sobre infraestrutura resiliente da agricultura. Sem florestas vivas, justiça social e solos funcionais não há estabilidade climática e social", concluiu Ludmila.

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