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O mercado de carbono surge como uma ferramenta essencial para financiar ações e projetos verdes e reduzir emissões de gases de efeito estufa (Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 8 de setembro de 2025 às 15h32.
Última atualização em 8 de setembro de 2025 às 16h12.
Com a crise climática, o Brasil tem uma oportunidade única de se posicionar como um 'hub de descarbonização global' e tem 'a faca e o queijo na mão' para liderar o mercado de carbono.
É a avaliação de Daniel Martins, novo sócio líder do setor de Energia da PwC Brasil, após um novo estudo da consultoria revelar o potencial do país nesta agenda: até 2030, pode gerar 370 milhões de toneladas de créditos de carbono -- nove vezes superior à demanda doméstica estimada de 17 a 72 milhões de toneladas.
O número sugere que metade do volume brasileiro pode ser destinado a outros países mitigarem suas emissões, o posicionando como o "grande exportador mundial" de um ativo alinhado com as metas climáticas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1.5ºC.
"É um potencial gigantesco, não só pela questão territorial mas pela abundância em recursos naturais e soluções verdes. Há uma enorme capacidade de capturar carbono da atmosfera com projetos agrícolas e florestais", disse o especialista em entrevista à EXAME, ao defender que a pauta deve ser prioridade na COP30 em Belém do Pará.
Na última COP29 em Baku, no Azerbaijão, o mundo deu o primeiro passo histórico e regulamentou o mercado de carbono global, com a aprovação das diretrizes do artigo 6.
Um dia depois, o senado brasileiro aprovou o projeto que criaria este mesmo mercado a nível nacional, em paralelo ao voluntário que já acontecia e permite ao setor privado comprar e vender créditos por iniciativa própria.
A Lei nº 15.042/2024 criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que será implementado em cinco fases após 2030. A estimativa é que cerca de cinco mil empresas nacionais deverão medir, reportar e compensar suas emissões, especialmente do setor industrial.
Um dos dados mais alarmantes do estudo mostra [grifar] o abismo entre o verdadeiro impacto econômico e social dos desastres climáticos e os valores praticados nos mercados.
Enquanto o Brasil comercializa créditos de carbono por cerca de US$ 10 a US$ 15 a tonelada no mercado voluntário, cada tonelada de CO2 lançada na atmosfera já causa danos reais de US$ 280.O valor representaria o "custo social do carbono" e representa quase 20 vezes mais. Em cenários pessimistas de aquecimento de até 3ºC, o preço pode subir para US$ 1.300 por tonelada.
Já o mercado europeu, considerado o mais maduro do mundo, negocia créditos entre US$ 100 e US$ 150 a tonelada.
"O preço mais importante seria o que já está colocado, o da adaptação do clima. Temos vivenciado cada vez mais eventos que têm afetado as economias, os países e a sociedade", destacou Daniel.
Segundo a PwC, mais de US$ 2 trilhões já foram perdidos mundialmente devido a eventos extremos como furacões, secas e enchentes. Para cada 1°C de aumento da temperatura média global, o PIB pode sofrer redução de até 12%.
No mercado global de carbono, muitas empresas já enfrentam custos relacionados às suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), frequentemente na forma de impostos ou exigências regulatórias.
Neste sentido, o estudo destaca que o Brasil possui vantagem competitiva natural no setor de energia devido ao uso de fontes renováveis como hidrelétricas, solar e eólica. Empresas brasileiras se beneficiam de uma eletricidade que custa, em média, US$ 17/MWh a menos do que a produzida na China.
Em 2023, a intensidade de carbono da geração elétrica brasileira foi de 0,10 tCO2e/MWh, muito inferior a países como China, Índia e África do Sul (acima de 0,5 tCO2e/MWh).
A diferença se torna ainda mais relevante com a entrada em vigor, a partir de 2026, do Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) europeu, que taxará produtos intensivos em carbono importados para igualar custos com empresas europeias.
No setor de alumínio, o Brasil apresenta intensidade de emissões entre 50% e 75% inferior à de países como China e Índia. "Temos uma vocação em fazer processos, produtos e desenvolver projetos de baixo carbono", frisou Daniel.
Rumo à transição energética, a PwC estima serem necessários investimentos de mais de US$ 4 trilhões em 2025 e cerca de US$ 7,2 trilhões e US$ 8,9 trilhões anuais entre 2030 e 2050.
Outro dado mostra que 30 rotas industriais brasileiras ligadas à economia de baixo carbono como aço verde, biocombustíveis, hidrogênio, eletrificação e circularidade podem adicionar até R$ 1 trilhão ao PIB nacional e gerar 3 milhões de empregos até 2030.
"O Brasil tem que se posicionar como protagonista da agenda climática. Somos uma parcela enorme da solução", concluiu o especialista.