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Carbono da Amazônia: a solução está entre o rio e o mar, diz pesquisa

Estudo feito no Pará revela que manguezais estocam muito mais CO₂ do que se imaginava e coloca o Brasil em posição estratégica no combate às mudanças climáticas

Para os pesquisadores, a COP30 é a chance de colocar os manguezais brasileiros no centro do debate climático internacional (Ricardo Lima/Getty Images)

Para os pesquisadores, a COP30 é a chance de colocar os manguezais brasileiros no centro do debate climático internacional (Ricardo Lima/Getty Images)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 31 de outubro de 2025 às 16h34.

Às vésperas da COP30 em Belém, uma pesquisa desenvolvida em Bragança, no Pará, traz dados que podem mudar a forma como o mundo enxerga os manguezais brasileiros. O Projeto Mangues da Amazônia descobriu que esses ecossistemas estocam muito mais carbono do que os estudos anteriores indicavam.

Estudos antigos estimavam cerca de 18 milhões de toneladas de carbono para os manguezais de todo o estado do Pará. Mas a nova pesquisa, focada em apenas quatro das 14 reservas marinhas da região — que representam 47% da área protegida —, já encontrou 12 milhões de toneladas estocadas.

O projeto, que funciona desde 2021 com patrocínio da Petrobras, já reflorestou 14 hectares de mangue na primeira fase. Agora, até 2026, a meta é restaurar outros 24 hectares. A região tem 131 mil hectares de manguezais, o equivalente a 120 mil campos de futebol.

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"Isso mostra a importância de usar metodologias ajustadas localmente. As medições ficam muito mais precisas", afirma Paulo César Virgulino Júnior, coordenador ambiental do projeto.

Os pesquisadores acreditam que os manguezais da costa amazônica estão entre os mais produtivos do mundo, superando até os do Sudeste Asiático e de ilhas do Pacífico. Segundo Paulo César, os manguezais brasileiros concentram entre 5% e 14% de todo o carbono estocado por esse ecossistema no planeta.

Preservação dos manguezais

A diferença entre preservar e degradar é brutal. Um manguezal em pé mantém carbono guardado no solo por séculos, às vezes milênios. Já um manguezal degradado perde essa capacidade e vira fonte de emissão. "Com a vegetação retirada e o solo exposto, entra oxigênio, a matéria orgânica se decompõe rápido e o carbono volta para a atmosfera como uma bomba de CO₂", explica Mayara Rabelo, pesquisadora do projeto.

As medições do projeto comparam áreas preservadas, reflorestadas, degradadas e recém-cortadas. Os resultados parciais mostram que o manguezal amazônico estoca de três a cinco vezes mais carbono no solo do que uma floresta de terra firme.

No campo, o trabalho de restauração usa três técnicas diferentes: plantio indireto, plantio direto de propágulos e transplante de mudas cultivadas em viveiros com capacidade para até 40 mil mudas. Voluntários e comunidades locais participam do plantio.

Amazônia e COP30

As áreas prioritárias são definidas com ajuda de pescadores e marisqueiras, que conhecem os trechos mais pressionados ou degradados da região. "Com o apoio da comunidade, conseguimos avançar numa agenda de restauração de longo prazo que nasce no território e devolve benefícios a quem depende do manguezal", diz Marcus Fernandes, coordenador do projeto.

Para os pesquisadores, a COP30 é a chance de colocar os manguezais brasileiros no centro do debate climático internacional. Diferente de outras regiões do mundo, a costa amazônica manteve boa parte dos seus manguezais preservados nas últimas décadas.

"Temos a possibilidade de apresentar um modelo sustentável em que ciência e comunidades atuam juntas, garantindo estoques de carbono entre os maiores do planeta", finaliza Paulo César.

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