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CFOs herdam US$ 17 bi em riscos ambientais, em transição regulatória que se aproxima

Debate promovido por IBEF analisa impacto das novas regras internacionais que, a partir de 2027, obrigam empresas a tratar questões climáticas com mesmo rigor dos balanços tradicionais

Especialistas reunidos pelo IBEF alertam: greenwashing acabou e CFOs terão que responder legalmente por informações climáticas a partir de 2027. (Freepik)

Especialistas reunidos pelo IBEF alertam: greenwashing acabou e CFOs terão que responder legalmente por informações climáticas a partir de 2027. (Freepik)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 14 de maio de 2025 às 09h05.

Última atualização em 14 de maio de 2025 às 10h25.

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A era da divulgação voluntária está próxima de acabar. A partir de 2027, empresas brasileiras de capital aberto terão que reportar riscos climáticos com o mesmo rigor aplicado às demonstrações financeiras tradicionais.

As implicações deste momento de transição foram tema de encontro promovido pelo IBEF sobre Risco Climático, Compliance e Finanças Sustentáveis.

As normas IFRS S1 e S2, estabelecidas em junho de 2023 pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), instituiram pela primeira vez padrões globais para divulgação de informações sobre sustentabilidade.

Enquanto a S1 define requisitos gerais, a S2 foca especificamente em riscos climáticos, exigindo divulgação detalhada sobre emissões de gases de efeito estufa, planos de transição e análise de cenários climáticos.

Mas afinal, o que isso significa na prática? Para executivos financeiros brasileiros, representa uma transformação radical em suas responsabilidades.

CFOs que hoje assinam demonstrações financeiras terão que assumir a mesma responsabilidade legal sobre dados climáticos. É como adicionar um novo capítulo ao manual de governança corporativa – só que desta vez, o capítulo vem com auditoria externa e consequências legais.

Da periferia ao centro da mesa

"Agora a brincadeira virou coisa séria. Não é mais greenwashing, é plano de negócios", resumiu Edison Fernandes, sócio do FF Law e membro do Comitê de Pronunciamento Contábil, e um dos participantes da conversa no evento do IBEF.

A afirmação captura perfeitamente o momento: cada vez mais, sustentabilidade deixa de ser assunto de marketing para virar questão de balanço patrimonial. "Se um dia foi externalidade, hoje é internalidade", apontou o advogado.

Em outras palavras, aquilo que as corporações tratavam como "problema dos outros", como poluição, emissões, riscos climáticos, agora entra oficialmente nos livros contábeis.

O executivo vai além: "É preciso ter um padrão para dizer que a liquidez é X, porque senão cada um vai fazer o que quiser." Traduzindo: assim como existe uma forma única de calcular o lucro líquido, haverá uma forma padronizada de reportar impactos climáticos.

A mudança na mesa do CFO

A adequação às normas exigirá de diretores financeiros, respostas a questões antes inéditas ou de responsabilidade de outras áreas.

Por exemplo, caso a empresa troque de fornecedor por questões ambientais e isso aumentar custos, o CFO precisará documentar e explicar o impacto financeiro.

Superintendente Jurídico, Compliance e Credenciamento da ANBIMA, Soraya Alves Figlioli, também presente ao debate, resumiu bem o desafio adicional de capacitação: "Os profissionais de finanças precisam ampliardesde já seu escopo para compreender as questões de sustentabilidade e riscos climáticos."

Isso significa que o tradicional perfil do executivo financeiro, antes mais focado em números, planilhas e demonstrativos, precisará incluir a compreensão sobre emissões de carbono, riscos físicos do clima e planos de transição energética.

Auditoria "de verdade" chega ao clima

A nova regulação mudará também o regime de auditoria. "A auditoria nessa primeira fase de antecipação é chamada de uma auditoria mais simples. Mas a partir de 2027, vai ter que ter uma auditoria de verdade", alerta Fernandes.

A partir de então, CFOs terão que assinar embaixo das informações climáticas com o mesmo peso legal que assinam balanços financeiros.

Perdem espaço, assim, declarações vagas sobre "compromissos ambientais", que precisarão dar lugar a números auditados, verificáveis e com consequências legais para quem assinar informações falsas.

Ilustrando a urgência da regulação, Ana Lia Touso, Sócia de Sustentabilidade e Clima da Deloitte, trouxe um estudo da consultoria que mostrou um potencial de perda econômica na América Latina de 17 bilhões de dólares, caso as adequações não sejam seguidas.

No Brasil, o cenário é particularmente preocupante.

Com o aumento de 3°C na temperatura global, o país enfrentaria 90 dias por ano com temperaturas acima de 35°C – impactando diretamente produtividade, agricultura e infraestrutura.

Ana Lia Touso compartilhou ainda um caso real de um cliente de sua companhia no Sul. "A empresa ficou um mês parada, com 1/3 do pessoal da força de trabalho afetado pelas enchentes do ano passado", contou, sobre a tragédia que impactou todo o estado um ano atrás.

"Ali, vimos a mudança climática traduzida em dias parados, prejuízos contábeis e impacto no balanço", ponderou a executiva.

O efeito dominó na cadeia produtiva

As novas regras não afetam somente as grandes empresas. "A partir do momento que grandes organizações vão comprar de pequenos fornecedores, elas vão exigir que toda a cadeia esteja adequada", explica Soraya Figlioli.  E o efeito cascata será inevitável.

"Grandes corporações repassarão exigências de transparência climática para seus fornecedores, que repassarão para os fornecedores deles, criando uma reação em cadeia que alcançará empresas de todos os tamanhos", concluiu a executiva.

Direto sobre as consequências, Edison Fernandes acrescentou: "Se eu não mostrar nada, eu saio atrás nessa concorrência de capital."

E aí, em um contexto onde investidores globais comparam empresas por critérios ambientais, ficar de fora significa perder acesso a financiamento.

Escolhendo batalhas

O painel do IBEF deixou mensagem clara. A adequação deixa de ser tendência futura, pois já se tornou a realidade presente. Empresas brasileiras, especialmente as de capital aberto, precisam começar preparação imediatamente.

"A divulgação não é de desejo. A divulgação é de plano de negócios", concluiu Fernandes. Já Ana Lia Touso recomendou cautela e foco. "Não dá para travar todas as batalhas", refletiu a executiva. Afinal, com recursos limitados, muitas companhias precisarão priorizar quais riscos climáticos atacar primeiro.

Conforme apontou Lucianna Costa, vice-presidente de comissões técnicas do IBEF e mediadora do debate, a transformação profunda que se apresenta deve redefinir de forma definitiva, o papel do executivo financeiro no século XXI.

Aqueles que se adaptarem rapidamente estarão preparados para navegar a nova economia climática. Os que tratarem isso como mais uma obrigação burocrática descobrirão, tarde demais, que as regras do jogo mudaram definitivamente.

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