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Conferência de Bonn: primeira semana é marcada por frustração e falta de consenso

Se havia expectativas de que as negociações ganhariam ritmo após o início tardio, esta sexta-feira terminou sem avanços em temas-chave como financiamento e adaptação climática

Após mais de 30 horas de atraso para definir a agenda, as negociações começaram apenas no dia 18 (ONU/Divulgação)

Após mais de 30 horas de atraso para definir a agenda, as negociações começaram apenas no dia 18 (ONU/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 20 de junho de 2025 às 17h00.

Última atualização em 20 de junho de 2025 às 18h34.

"O contexto geopolítico está complicadíssimo — estamos vendo isso em Bonn. Ainda há muitas divergências. O clima precisa ser integrado na economia e nos recursos financeiros", avaliou o embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, nesta sexta-feira, 20.

A declaração reflete o sentimento generalizado de frustração após uma série de impasses na primeira semana da Conferência de Bonn (62ª sessão dos Órgãos Subsidiários), na Alemanha.

De 16 até 26 de junho, cerca de 5 mil autoridades governamentais e representantes da sociedade civil de 197 países estão reunidos com o intuito de avançar no combate às mudanças climáticas.  

O evento que prepara o terreno para a COP30 no Brasil é um teste crítico do que está por vir e deveria ser um momento de alinhamento técnico, mas encerra os primeiros dias com oportunidades perdidas e tensões crescentes sobre temas-chave.

Paralelamente, há uma tensão no ar e diariamente acontecem manifestações pró-clima dentro e fora da sede da ONU. Com cartazes, ativistas também cobram justiça para Gaza e pedem pelo fim do genocídio das guerras em curso.

Mahryan Sampaio, ativista e presidente do Funbea, descreveu à EXAME que o clima de Bonn não é dos melhores e há um certo desconforto. "Sabemos que as negociações têm um histórico de serem mais travadas, tanto em COPs como sessões subsidiárias (SBs). Há uma dificuldade imensa em se chegar a um consenso sobre o 'mínimo': financiamento climático", destacou.

Financiamento e adaptação

As tensões em torno do financiamento não são novidade nas negociações, mas Bonn sugere que as desavenças estão mais enraizadas e não parece haver consenso sobre como estruturar os mecanismos de apoio financeiro para a ação climática. 

O tema já era central na última COP29, em Baku, mas muitas lacunas ficaram em aberto e o acordo de 300 bilhões de dólares anuais deixou a desejar.

Quem paga esta conta desigual, são as populações e nações mais vulneráveis — justamente as que menos contribuíram para a crise do clima e as que mais sentem seus efeitos. Por isto, a pauta da adaptação caminha de mãos dadas com a liberação de recursos.

"Não podemos repetir o que aconteceu em Baku, mas isso tem acontecido. O que vimos são discursos muito bonitos e inspiradores na abertura, enquanto as negociações não refletem essa realidade", lamentou Mahryan.

Em Bonn, o foco está em avançar no financiamento originado de fontes mistas — públicas e privadas. Mas a falta de clareza de como e de onde vem segue sendo o principal nó.

Segundo especialistas, as divergências explícitas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento a menos de cinco meses da COP30 podem comprometer os ambiciosos objetivos do Brasil e definir se a grande conferência do clima será ou não bem-sucedida.

'Frustração' marca segundo dia de negociações

Após mais de 30 horas de atraso, as negociações começaram apenas na quarta-feira, 18, após dificuldades para se definir a agenda de pautas.

Mas se havia expectativas de que elas ganhariam ritmo após o início tardio, esta sexta-feira trouxe uma realidade desafiadora. Para muitos presentes, o sentimento foi de "frustração".

Durante 3 horas consecutivas, delegados debateram pautas relacionadas à adaptação climática sem chegar a qualquer avanço substancial.

Adaptar as cidades e torná-las mais resilientes é uma prioridade de países vulneráveis do Sul global, mas os planos nacionais seguem praticamente estagnados. Segundo Mahryan, o único item da agenda que parece ter uma possibilidade de avanço é o Objetivo Global de Adaptação estabelecido pelo Acordo de Paris, mas ainda não há consenso real sobre metas e indicadores.

O impasse expôs as dificuldades que permearam os últimos dias. Na primeira hora de discussões, líderes do G77 + China demonstraram otimismo e solicitaram que o rascunho do texto fosse projetado na plenária.

No entanto, a resposta foi imediata e negativa: outros países disseram que não havia necessidade. O que se seguiu foi mais 1 hora perdida em debates sobre se o tema deveria ou não ser negociado.

"A primeira semana serviu como termômetro político e alerta: se as travas continuarem, corremos o risco de sair de Bonn sem avanços concretos", destacou Mahryan. 

De Baku a Belém

Em meio às dificuldades, o Brasil aproveitou a semana para consolidar sua estratégia para a COP30. Na quinta-feira, 19, a delegação apresentou o "roteiro Baku to Belém", visando garantir que as decisões sobre financiamento climático se traduzam em implementação efetiva em Belém. A meta é chegar em 1,3 trilhão por ano.

A proposta ganhou corpo com a divulgação, nesta sexta-feira, da quarta carta oficial da presidência da COP30. O documento, apresentado pelo embaixador André Corrêa do Lago, detalha uma agenda de ação estruturada e traz seis eixos temáticos desdobrados em 30 objetivos específicos.

Os eixos abrangem desde a transição energética até questões sociais, passando por florestas, agricultura, cidades e facilitadores transversais como investimentos e tecnologia.

Entre as metas estão triplicar a capacidade de energias renováveis, dobrar a eficiência energética, deter o desmatamento até 2030, garantir acesso universal à energia e promover sistemas alimentares resilientes.

Há também a inclusão de temas menos convencionais, como inteligência artificial, bioeconomia e integridade da informação climática.

Segundo o governo brasileiro, a carta funciona como um "celeiro de soluções" que conecta ambições climáticas com oportunidades de atrair recursos, inovação e desenvolvimento. Diferente de outras agendas, a ideia é alinhar iniciativas existentes com um processo coerente de monitoramento global.

"Temos muito pouco tempo para fazer o que é certo. E sabemos como fazer. Então, vamos juntar toda a lógica e, no espírito do mutirão, seguir em frente", disse André do Lago.

Caroline Rocha, da organização LACLIMA, diz que a abordagem brasileira "busca reconstruir a confiança no sistema multilateral, hoje fragilizado, apostando que é com confiança e resultados que se renova a esperança".

"NDC Global"

A inovação da agenda brasileira é tratar o primeiro Balanço Global (Global Stocktake) do Acordo de Paris como uma "Contribuição Determinada Global" (GDC). A ideia é transformar o balanço, acordado na COP28 em Dubai, em uma espécie de meta coletiva.

"Nosso objetivo é trazer uma nova dinâmica para a ação climática global, alinhando os esforços feitos por empresas, sociedade civil e todos os níveis de governo em uma ação coordenada — um mutirão", descreve Corrêa do Lago na carta.

Quem será responsável por mobilizar o engajamento local das metas são os designados campeões climáticos e enviados especiais. Na COP30, o encarregado da missão é Dan Ioschpe, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e ex-presidente do B20, fórum global do setor empresarial ligado ao G20. 

Para Dan, a Agenda de Ação é o caminho para esse esforço: conectar governos com implementadores e solucionadores de problemas que já entregam soluções climáticas no território. "É hora de combinar urgência com união, e ambição com ação, para acelerar o desenvolvimento socioeconômico sustentável e construir sociedades mais resilientes", disse.

O desafio da implementação

Nigar Arpadarai, Campeã de Alto Nível da COP29, também contextualizou o desafio. "Nesta década decisiva, precisamos aprender com o que funcionou e agir rapidamente para aproveitar as oportunidades identificadas no Balanço Global, assegurando que a ação climática esteja profundamente enraizada na justiça e na equidade".

O caminho deve ser traçado e as metas são ambiciosas: triplicar a capacidade mundial de energias renováveis, dobrar a eficiência energética, zerar o desmatamento até 2030 e investir em adaptação.

Mas os impasses em Bonn mostram que a jornada entre ambição e a implementação está cheio de obstáculos e o encontro pode acabar sem nenhum avanço efetivo. Neste caso, as 'pendências' ficam para serem resolvidas no Brasil.

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