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Na Cúpula de Líderes em Belém, secretário Capobianco defende que Brasil vá além da conservação florestal: "É preciso viabilizar a saída dos combustíveis fósseis". (Leandro Fonseca /Exame)
Editora ESG
Publicado em 7 de novembro de 2025 às 15h33.
Última atualização em 7 de novembro de 2025 às 15h44.
Belém - Em entrevista exclusiva à EXAME durante a Cúpula de Líderes da COP30, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, defendeu que o Brasil precisa ir além da conservação florestal e liderar uma agenda global pelo fim dos combustíveis fósseis.
"Conservar a floresta é vital para o equilíbrio climático, mas não é suficiente", afirmou, destacando que o principal fator de agravamento das emissões de gases de efeito estufa é o uso de combustíveis fósseis.
A declaração ocorre no um dia após o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) conquistar apoio político de 53 nações e arrecadar cerca de US$ 5,5 bilhões em compromissos financeiros iniciais.
A Noruega liderou com US$ 3 bilhões, seguida por Brasil e Indonésia com US$ 1 bilhão cada, e França com US$ 500 milhões.
Para Capobianco, a COP30 começou "num ritmo muito, muito acelerado mesmo", com as falas iniciais dos representantes - desde António Guterres, secretário geral das Nações Unidas, até o presidente Lula - articuladas e unidas na questão da implementação.
"Acho que esse é o marco da COP 30 que o Brasil e a presidência da COP, na figura do embaixador André Correa do Lago, vem trabalhando com os demais países para que de fato nós possamos fazer duas coisas simultaneamente", explicou o secretário.
A primeira, ele explica, é aproximar o tema da mudança climática da sociedade, das pessoas, articulando melhor tudo o que está acontecendo e os problemas com o avanço das mudanças do clima.
"Isso está sendo feito por uma agenda por uma proposta de agenda de ação bastante vigorosa"
"Nós temos muitos temas sendo discutidos envolvendo governos, academia, setor privado, sociedade civil. O que dá muita energia para o processo e a discussão de implementação. Porque é na agenda de ação que debatemos mais como vai ser implementado."
Sobre o resultado e expectativas para o TFFF, Capobianco foi pragmático: "começamos com o pé no chão", refletiu, ainda que considere um início "promissor".
"O que nós pretendíamos foi obtido com muita força. Ou seja, a adesão e a confiança de que esse fundo é uma ferramenta viável com a atuação do Banco Mundial", avaliou.
O secretário afirmou que a meta não era arrecadar todos os US$ 25 bilhões necessários já nesta COP, sobretudo pela dinâmica das negociações com governos, cujo ritmo é necessariamente mais longo por envolver orçamento público.
"Embora o fundo não seja baseado em doações, mas sim em investimentos que retornarão aos países contribuintes, o processo de comprometimento de recursos públicos demanda tramitação orçamentária em cada nação", ponderou.
Embora o governo e os Ministérios do Meio Ambiente e da Fazenda estejam satisfeitos com o status alcançado pelo Fundo, Capobianco foi enfático ao alertar que o sucesso do TFFF não resolverá a crise do clima.
"Conservar a floresta é vital pro equilíbrio climático, mas não é suficiente", afirmou, lembrando os impactos devastadores das secas e incêndios que atingiram a Amazônia em 2023 e 2024.
E completou: "O principal fator de agravamento das emissões de gás efeito estufa é o uso de combustíveis fósseis".
Por isso, segundo Capobianco, o presidente Lula foi explícito ao dizer que o Brasil precisa de mapas do caminho para zerar o desmatamento e viabilizar a saída dos combustíveis fósseis. "Essa é a missão que nós estamos nos colocando", disse.
Mais cedo contudo, durante a abertura da sessão sobre transição energética na programação deste segundo dia de Cúpula dos Líderes, o presidente Lula apresentou uma visão que expõe algumas contradições da posição brasileira.
"O Brasil não tem medo de discutir transição energética", declarou. "Não dá pra desligar máquinas de um dia para outro, mas tecnologia permite evolução para energias limpas".
O presidente defendeu a tese de investir recursos das petroleiras para financiar um futuro limpo. A proposta, no entanto, contrasta com a crítica que ele próprio fez momentos antes, quando apontou que "65% dos maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para petróleo e gás".
O discurso de Lula ainda priorizou a aceleração do uso de combustíveis sustentáveis em vez de estabelecer um compromisso com prazo definido para o mundo parar de queimar combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás).
Ao defender o uso de recursos da indústria petrolífera para financiar a transição energética, o presidente brasileiro deixou de mencionar que o petróleo representa a maior fonte de emissão de gases de efeito estufa no planeta e que a continuidade da sua queima agrava as condições climáticas.
A distância entre o discurso de Capobianco e a posição apresentada por Lula expõe um dilema central que o Brasil enfrentará como anfitrião da COP30, a partir de sua abertura oficial no próximo dia 10 de novembro: conciliar a liderança na proteção de florestas tropicais com a dependência econômica do petróleo.