Patrocínio:
Parceiro institucional:
Repórter de ESG
Publicado em 2 de novembro de 2025 às 08h00.
Às vésperas da COP30, que acontece entre 10 e 21 de novembro em Belém, um levantamento da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) mostra um avanço na inclusão de crianças e jovens nos planos nacionais de combate à crise climática. Entre os 64 países que já submeteram suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), 56 nações — ou 88% — incorporaram compromissos específicos voltados a esse público. Na rodada anterior de NDCs, apenas 61% dos países haviam feito o mesmo.
As NDCs funcionam como a espinha dorsal do Acordo de Paris, definindo as metas de cada nação para reduzir emissões de gases de efeito estufa. O documento divulgado nesta semana revela que a maioria dos países não apenas mencionou crianças e jovens, mas estabeleceu ações concretas: 79% priorizaram o engajamento e empoderamento desse grupo na ação climática, enquanto 77% propuseram medidas específicas para envolvê-los na implementação de políticas — desde campanhas de conscientização até processos decisórios mais inclusivos.
"um avanço importante, já que as NDCs são o principal mecanismo criado pelo Acordo de Paris para cumprir o objetivo de limitar o aumento da temperatura causado pelas mudanças climáticas", afirma Danilo Moura, especialista em Clima e Meio Ambiente do UNICEF no Brasil. "O relatório da UNFCCC mostra que os países estão indo na direção correta com relação ao enfrentamento das mudanças climáticas, mas que ainda é preciso acelerar a implementação e aumentar a ajuda aos países mais pobres", acrescenta.
Os números justificam a urgência. Segundo o UNICEF, quase 1 bilhão de crianças vivem em regiões com risco extremamente alto de eventos climáticos extremos — secas severas, inundações, tempestades violentas e ondas de calor. No Brasil, são 40 milhões de crianças e adolescentes expostos a múltiplos riscos climáticos e ambientais simultaneamente, representando 60% desse grupo etário.
As consequências já aparecem nas estatísticas educacionais. Em 2024, cerca de 250 milhões de estudantes em 85 países tiveram as aulas interrompidas por crises climáticas. No Brasil, foram pelo menos 1,17 milhão de meninas e meninos impedidos de frequentar a escola devido a enchentes e secas.
Além disso, as crianças brasileiras enfrentam hoje o dobro de dias com temperaturas extremas em comparação ao que seus avós experimentaram na mesma idade.
"Crianças e adolescentes têm vulnerabilidades e necessidades específicas sobre o clima. Mesmo assim, ainda estão entre os menos ouvidos e incluídos nas decisões que moldam o futuro do planeta", ressalta Moura. Os riscos vão desde estresse térmico até maior vulnerabilidade a doenças como malária e dengue, passando ainda por impactos na qualidade do ar, da água e na segurança alimentar.
Para amplificar a participação jovem rumo à COP30, a Secretaria Nacional de Juventude realizou ao longo de 2025, com apoio do UNICEF, seis encontros regionais reunindo adolescentes e jovens dos diferentes biomas brasileiros. Os eventos produziram propostas concretas para a conferência. Ana Luíza Barfknecht, 17 anos, representante do Cerrado, pede que a juventude tenha cada vez mais espaço de fala. "Que nos vejam como futuro e reconheçam nossa capacidade de propor soluções sustentáveis e igualitárias, principalmente para as comunidades mais marginalizadas", explica.
Já Ana Clara Barbosa, 15 anos, moradora de Serra Talhada (PE), na Caatinga, relata experiências concretas com a mudança do clima. "Na minha cidade faz muito calor, mas na escola é ainda pior. Já tive crise de asma na sala de aula por causa do clima", conta.