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Rumo à COP30: BID aposta na diplomacia brasileira para viabilizar US$ 1,3 tri em financiamento

Avinash Persaud, assessor especial de mudança climática do Banco Interamericano de Desenvolvimento, conversou com a EXAME sobre cenário de investimentos em mitigação e adaptação

Avinash Persaud, assessor especial de mudança climática do BID: "Os países precisam avançar em adaptar as cidades. Mas é caro, então é uma questão de como administrar a dívida" (Sofia Schuck/Divulgação)

Avinash Persaud, assessor especial de mudança climática do BID: "Os países precisam avançar em adaptar as cidades. Mas é caro, então é uma questão de como administrar a dívida" (Sofia Schuck/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 26 de fevereiro de 2025 às 19h05.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2025 às 19h27.

Será que o mundo chegará a um consenso sobre os US$ 1.3 trilhões necessários para lidar com os desafios impostos pela crise climática? A pergunta, literalmente de trilhões, pode ser respondida na 30º Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) no Brasil, em Belém do Pará, em novembro deste ano.

Baku, última cidade sede da COP do clima, deixou o valor 'quicando' na mesa e fechou um acordo bastante aquém: países concordaram apenas em US$ 300 bilhões -- destinados dos países desenvolvidos para os mais vulneráveis. 

Enquanto no Azerbaijão a falta de ambição já era esperada por se tratar de um país baseado na indústria do petróleo, no Brasil, as expectativas são altas para que esta COP seja a da implementação e se avance em financiamento climático. 

Avinash Persaud, assessor especial de mudança climática do Banco Interamericano de Desenvolvimento, conversou com a EXAME sobre as oportunidades e desafios para destravar os recursos voltados ao combate da crise climática e seus efeitos mais severos pelo planeta.

Para o executivo, o Brasil está focado em entregar um bom resultado na COP30. "Se eu fosse um apostador, apostaria na diplomacia brasileira. Em Baku, muitos países em desenvolvimento estavam sentindo que os US$ 1.3 trilhões eram apenas mais um número impossível de se alcançar. Mas o Brasil já disse estar comprometido em desenvolver um plano concreto", destacou.

Natural de Barbados, Avinash esteve presente em evento do Instituto Talanoa em Brasília e reiterou uma necessidade de pelo menos US$ 300 bilhões anuais apenas para medidas de adaptação climática.

Na última COP29 em 2024, os bancos de desenvolvimento se comprometeram com um financiamento climático de US$ 120 bilhões até 2030. Destes, US$ 11,3 bilhões viriam do próprio BID, visando a América Latina e Caribe. O aumento foi de 60% em relação a 2023, quando foram anunciados US$ 7,5 bilhões.

Na comunidade internacional, há um consenso de que para chegarmos lá, estes investimentos precisam vir tanto de atores públicos como privados. Para Avinash, os US$ 300 bilhões devem vir do setor público, mas a diferença do valor até os US$ 1.3 trilhões depende majoritariamente do setor privado. Além disso, ele acredita que o montante não será focado em adaptação -- e sim para mitigação das emissões. 

"Teremos alguns investimentos em novas tecnologias privadas que tornam a adaptação mais eficaz e empresas desenvolvendo soluções verdes, nas quais será possível investir. Neste caso, quem estará financiando serão os governos", acredita Avinash.

A adaptação também é um desafio de custo para os países e se trata de um problema mais local, visto que cada região do mundo enfrenta eventos climáticos extremos de forma diferente e desproporcional.

"Os países precisam avançar em adaptar as cidades. Mas é caro, então é uma questão de como administrar a 'dívida'. Temos que torná-la barata, de longo prazo e mais flexível", complementou Avinash. 

Outra barreira é a demora para a implementação, ressaltou o executivo: "Muitos destes projetos de resiliência são grandes e envolvem muita engenharia. Também exigem estudos de viabilidade, de impacto ambiental -- e levam bastante tempo. Há quem queira que seja feito agora, mas não é possível pular estas etapas. Aprendemos que se você não fizer direito, terá problemas depois". 

Um estudo recente da CLIMÁTICA Consultancy, em parceria com o Fundo Casa Socioambiental, aponta outro desafio: apenas 12% do financiamento climático global chega efetivamente a países do Sul global, justamente aqueles que mais sofrem com os efeitos da nova realidade imposta pelo clima. 

Avanços no Brasil

O Brasil deu vários passos importantes e impressionantes recentemente, disse Avinash. O principal seria o desenvolvimento de estruturas para mercados de carbono e sua regulação. Ele também cita o lançamento da Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP) pelo governo federal, ainda no ano passado. A ferramenta foi criada para atrair recursos para o desenvolvimento sustentável e abrir novas oportunidades de negócios.

"São elementos de uma estrutura consistente e eu diria que o Brasil é um dos países mais avançados em ter não apenas um plano, mas um desenvolvimento de mercado", acrescentou.

Resiliência climática e energia renovável

Em 2025, o BID estará focado em duas áreas estratégias principais dentro da agenda de mudança climática na América Latina. Primeiro, em tornar os países melhores e mais resilientes aos impactos severos do clima. 

"Observamos isso no Brasil, a exemplo das fortes enchentes e a seca -- e em questões em torno das florestas, da agricultura e calor. Estamos analisando também se podemos alcançar subnacionais e ser mais fléxiveis em financiamentos, porque às vezes o responsável é uma cidade ou um estado, não necessariamente o governo federal", explicou. 

Outro foco é a transição energética e os benefícios econômicos da energia limpa. "Estamos pensando em como podemos apoiar outras formas de renováveis nas economias da região. A solar e a eólica agora se tornaram mais baratas que os combustíveis fósseis, mas muitas vezes precisam de investimentos em infraestrutura", concluiu. 

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