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Carlos Fávaro, Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil: "É uma belíssima oportunidade de promover a segurança alimentar, preservação e servir como modelo para todos os países que têm floresta como o Brasil" (Flickr / COP30 )
Repórter de ESG
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 16h29.
Belém - No dia em dominado pela agenda de agricultura e sistemas alimentares na COP30, o Brasil lançou uma iniciativa pioneira para acelerar o financiamento para restauração de terras agrícolas degradadas em escala global.
O programa RAIZ (Resilient Agriculture Investment for net-Zero land degradation) foi anunciado com apoio de representantes de oito países: Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Peru e Reino Unido , além da presença do ministro brasileiro da agricultura, Carlos Fávaro.
Dados revelam que 20% das terras agrícolas do mundo ou cerca de 1 bilhão de hectares estão degradadas e um dos maiores gargalos rumo à restauração é justamente mobilizar recursos.
Isto porque, segundo especialistas, há uma série de altos custos iniciais e os investimentos demoram a dar retorno.
A meta da iniciativa é destravar investimentos do setor privado que podem chegar a até US$ 90 bilhões, frente [grifar]a uma lacuna estimada em US$ 105 bilhões que os governos, sozinhos, não conseguem mobilizar.
Carlos Fávaro, reforçou que se trata de uma agenda ambiental, mas também econômica.
"É uma belíssima oportunidade de promover a segurança alimentar, preservação e servir como modelo para todos os países que têm floresta como o Brasil", destacou.
O potencial do programa pode ser ilustrado por um exemplo simples: ao reverter apenas 10% da degradação das terras cultiváveis poderia restaurar 44 milhões de toneladas de produção anual de alimentos e o suficiente para atender às necessidades nutricionais de 154 milhões de pessoas.
E se baseia em outros exemplos financeiros bem-sucedidos, como a Green Way e o EcoInvest, que já aportaram cerca de US$ 6 bilhões em incentivos públicos e capital privado para restaurar até 3 milhões de hectares de pastagens.
Vale lembrar que durante a conferência climática de Belém,foi anunciado o 4º leilão do Ecoinvest com foco em bioeconomia e preservação da Amazônia.
Para o Brasil, esta é uma agenda absolutamente estratégica. Mais de 80 milhões de hectares de áreas degradadas integram o programa Caminho Verde do Ministério da Agricultura e o setor de uso da terra representa cerca de quase metade das emissões nacionais.
O combate ao desmatamento é peça-chave para o cumprimento da NDC ou meta climática brasileira de reduzir em 67% os gases emitidos até 2035. Além disso, o programa se soma aos esforços da aposta da COP30: o Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), mecanismo financeiro que já mobilizou mais de 6,6 bilhões de dólares e remunera quem preserva a floresta.
Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, disse à EXAME que a iniciativa é bastante aderente aos compromissos climáticos brasileiros e que a maior inovação é o financiamento ser atrelado ao monitoramento e em como o agricultor apresenta suas ações para recuperar as pastagens.
"Ao monitorar e trazer transparência, automaticamente está se mostrando como o agricultor não só não está desmatando, como está restaurando", frisou.
A diretora também ressalta a importância do reconhecimento dessas áreas degradadas, considerando o potencial nacional: há muitas terras ainda passíveis para promover a agricultura e a a expansão de sistemas alimentares sustentáveis -- e tudo sem desmatar.
"Há a necessidade de mais modelos que não dependam só de algumas empresas, mas que possam ser adotados em escala. A cooperação técnica, a criação de grupos de restauradores, tudo faz parte de uma cadeia de valor que ainda precisamos desenvolver", destacou.
À EXAME, Matheus Munhoz, gerente de projetos do Boston Consulting Group (BCG), frisou que "recuperar essas áreas é o caminho mais relevante para reverter o quadro e endereçar alavancas já conhecidas pelo produtor".
A consultoria estima que seriam necessários cerca de 100 bilhões de dólares para transformar fazer essa transição e trazer resiliência para o sistema agropecuário brasileiro como um todo, especialmente na Amazônia e Cerrado.
O programa oferecerá assistência técnica aos países apoiadores em quatro frentes: mapeamento de paisagens degradadas com ferramentas interativas; identificação de soluções de restauração com potencial de investimento; desenho de mecanismos de co-investimento que usem recursos públicos para reduzir riscos; e fomento à colaboração entre o ecossistema de restauração.
Os especialistas são unânimes: para o Brasil cumprir sua NDC e o mundo reverter os efeitos mais severos das mudanças climáticas, recuperar áreas degradadas e zerar o desmatamento é fundamental. Neste sentido, os países estão pressionando por um "roadmap" com a missão, além do esperado roteiro para o fim dos combustíveis fósseis.