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COP30 começa em 6 dias com déficit de metas, 132 países e ausência dos EUA

Transição energética, adaptação e financiamento climático dominam agenda; apenas 64 de 198 signatários entregaram NDCs revisadas

Parque da Cidade, onde acontece a COP30: Conferência começa em 6 de novembro com Cúpula dos Líderes reunindo 57 chefes de Estado. (Rafa Neddermeyer/ COP30)

Parque da Cidade, onde acontece a COP30: Conferência começa em 6 de novembro com Cúpula dos Líderes reunindo 57 chefes de Estado. (Rafa Neddermeyer/ COP30)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 1 de novembro de 2025 às 16h23.

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Com apenas 64 das 198 nações signatárias do Acordo de Paris tendo formalizado suas metas climáticas revisadas, começa em seis dias a COP30, em Belém. O número está bem abaixo das 125 entregas projetadas pela ONU.

Contudo, em coletiva realizada nesta sexta-feira, 31, em Brasília, o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, embaixador Maurício Carvalho Lyrio, que também é lider das negociações brasileiras na conferência, anunciou que 162 países já estão credenciados para o evento.

Poucas após o término da coletiva, que contou também com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lagoa Casa Branca confirmou oficialmente que os Estados Unidos não enviarão nenhum funcionário de alto nível para a conferência.

Segundo um funcionário da Casa Branca à agência Reuters, o presidente Donald Trump já teria esclarecido a posição de seu governo em discurso na Assembleia Geral da ONU em setembro, quando chamou a mudança climática de "a maior farsa do mundo".

Mesmo diante desse cenário adverso - com déficit de metas climáticas e ausência confirmada da maior economia do mundo -, o Brasil se mostrou otimista com o início da programação, que começa com a Cúpula de Líderes, nos dias 6 e 7 de novembro, e deve reunir ao menos 143 delegações e 57 chefes de Estado.

"A cúpula dos líderes é para que os chefes de Estado dêem o termo de referência para seus negociadores", explicou a ministra Marina Silva durante a coletiva, reforçando a importância estratégica dos dois dias iniciais para o tom das reuniões que virão.

Para a conferência oficial, que se estende de 10 a 21 de novembro, são esperados mais de 50 mil participantes, número próximo aos mais de 56 mil registrados em Baku na COP29, mas distante do recorde histórico de cerca de 84 mil pessoas em Dubai durante a COP28 em 2023

Boicote americano se confirma

A confirmação da ausência americana, embora esperada, oficializa o boicote da maior economia do mundo à governança climática global.

Trump, que anunciou a saída do país do Acordo de Paris - a ser efetivada em janeiro de 2026 -, vem revisando sistematicamente a participação em acordos ambientais multilaterais desde o início de seu mandato.

Neste contexto, a estratégia americana privilegia, por exemplo, acordos bilaterais de energia para impulsionar exportações de gás natural liquefeito (GNL) para países como Coreia do Sul e União Europeia, em detrimento das negociações multilaterais climáticas.

E a postura americana contamina outras frentes. Também na sexta-feira, a maioria dos países da Organização Marítima Internacional (IMO) votou pelo adiamento, por um ano, da decisão sobre um preço global do carbono no transporte marítimo internacional.

O governo Trump ainda pressionou países que negociam um tratado global para reduzir a poluição por plástico, opondo-se a limites de produção.

Conforme a Reuters, o funcionário da Casa Branca comentou que "a maré está virando" em relação à priorização das mudanças climáticas, citando memorando recente de Bill Gates que, segundo ele, afirmou ser hora de abandonar a obsessão por metas globais de temperatura.

Fantasmas domésticos também assombram

Outra questão que adiciona mais uma camada de tensão foi anunciada há poucos dias quando, em 21 de outubro, o Ibama concedeu licença para a Petrobras perfurar a Margem Equatorial, a 160 quilômetros da costa paraense e a 500 quilômetros da foz do Amazonas.

A autorização, emitida cerca de 20 dias antes da abertura da COP30, foi interpretada por ambientalistas como uma sabotagem ao discurso de liderança climática que o Brasil tenta construir.

Marcio Astrini, diretor-executivo do Observatório do Clima, questionou como o país pretende liderar uma conferência sobre clima enquanto autoriza exploração de petróleo na Amazônia Azul.

Durante a coletiva desta sexta-feira, Marina Silva pediu cautela e afirmou esperar um planejamento rigoroso para a exploração na região, mas evitou comentar a licença já concedida.

A ministra destacou que a Margem Equatorial ainda carece de estudos aprofundados sobre quantidade e qualidade das reservas petrolíferas e reforçou a necessidade de contratação de avaliação ambiental específica para a área sedimentar.

"É fundamental que haja a contratação da avaliação ambiental para área sedimentar, por tratar-se de uma bacia que não é conhecida e que precisa de estudos robustos", declarou Marina.

A ministra Marina Silva, sobre exploração da Margem Equatorial: "Brasil tem compromisso com a transição energética e deve aproveitar suas vantagens comparativas." (Rogério Cassimiro/MMA)

Segundo a ministra, o Brasil tem compromisso com a transição energética e deve aproveitar suas vantagens comparativas - como uma matriz energética mais limpa e potencial para geração de energia diversificada. Mas Marina reconheceu os limites dessa posição.

"Se nós olhamos o que o Brasil tem em relação a outros países, temos vantagens comparativas. É que elas não são suficientes", ponderou, sobre uma declaração recente do presidente Lula de que empresas como a Petrobras devem deixar de ser exploradoras de petróleo para se tornarem produtoras de energia limpa.

A questão permanece. Superar essas contradições enquanto se perfura a Margem Equatorial a 500 quilômetros da foz do Amazonas, às vésperas da conferência climática mais simbólica da história, parece uma aposta arriscada na tolerância da comunidade internacional.

A própria ministra sintetizou a contradição: "As grandes contradições estão postas não só no Brasil, mas no mundo inteiro. De fato, temos ainda limitação de fontes renováveis para suprir toda a demanda de energia, sobretudo nos setores econômicos. Mas isso tem que ser superado."

O déficit das promessas 

O prazo para atualização das NDCs venceu em fevereiro de 2025, mas a maioria dos países ignorou a data limite.

A presidência brasileira da COP30 chegou organizar uma reunião de alto nível na sede da ONU em Nova York, em 24 de setembro, aproveitando a presença de líderes mundiais durante a Assembleia Geral.

A estratégia funcionou parcialmente: dos 48 países que haviam entregado suas metas até aquele momento, o número saltou para 64 até 31 de outubro. Ainda assim, o resultado representa apenas um terço das nações signatárias do Acordo de Paris.

Entre os ausentes estão potências como União Europeia e Índia - ambas com delegações confirmadas para Belém, mas sem compromissos revisados apresentados.

A União Europeia, contudo, sinalizou durante a reunião de Nova York que entregará formalmente sua NDC antes da COP30, aliviando parte da pressão sobre a presidência brasileira.

Outro aspecto preocupante é que, mesmo casos como o da China, maior emissor global, que formalizou suas metas ampliadas durante o evento na ONU, ficaram aquém das expectativas.

Presidente Lula lidera Cúpula de Líderes

Na coletiva de sexta-feira, André Corrêa do Lago lembrou que a diferença de quatro dias entre a Cúpula de Líderes (6 e 7 de novembro) e o início oficial da conferência (10 de novembro) se deve a questões logísticas e de infraestrutura em Belém

A programação da Cúpula de Líderes prevê, no dia 6, uma sessão plenária com discursos das autoridades presentes, seguida de sessão temática sobre florestas e oceanos.

No dia 7, além da continuidade dos discursos, haverá duas sessões temáticas: uma sobre transição energética e outra celebrando os 10 anos do Acordo de Paris.

Como anfitrião da COP30, Lula presidirá todas as sessões da Cúpula de Líderes e promoverá um almoço no dia 6 dedicado ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).

O governo tem se empenhado na busca por recursos públicos e privados para viabilizar esse fundo, que propõe um novo modelo de financiamento climático voltado à preservação das florestas tropicais.

Um dia antes da Cúpula, na quarta-feira (5), o presidente brasileiro ainda deverá ter uma série de encontros bilaterais ainda em definição. Segundo Lyrio, há vários pedidos sendo analisados pela Presidência da República, "que serão divulgados no tempo adequado", limitou-se a informar o secretário.

Por protocolo diplomático, o Brasil não pode antecipar a participação de líderes estrangeiros. Cabe a cada governo anunciar a presença de suas próprias autoridades. A discrição não é apenas formalidade, pois a confirmação antecipada de presenças ou ausências poderia criar constrangimentos e afetar o equilíbrio delicado das negociações.

Geografia da mobilização

Embora os números finais de credenciamento ainda não estejam fechados - o processo junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) será concluído apenas com a emissão dos crachás oficiais em Belém -, a mobilização para a COP30 promete ser robusta.

Na COP29 realizada em Baku no ano passado, o Azerbaijão liderou as delegações com 2.229 credenciados, seguido pelo Brasil com 1.914 e pela Turquia com 1.862. 

Os Emirados Árabes Unidos mantiveram presença expressiva com 1.011 participantes, enquanto a China levou 969 pessoas; número significativamente menor que as 1.296 da conferência de Dubai.

O padrão histórico mostra que países anfitriões tendem a mobilizar as maiores delegações, seguidos por nações com interesses estratégicos específicos nas negociações.

Para a COP30, a expectativa é que o Brasil mantenha presença massiva, mas a grande incógnita é se outras potências climáticas serão representadas de forma relevante.

Um diplomata veterano explica que o tamanho das delegações reflete prioridades políticas, não apenas protocolares.

"Uma delegação grande sinaliza que o país leva as negociações a sério. Uma delegação reduzida pode indicar desinteresse ou, pior, disposição de bloquear acordos", afirma.

Entre promessas e linhas vermelhas

A COP30 chega em um momento delicado para a governança climática global. Durante a pré-COP realizada em Brasília em meados de outubro, as tensões ficaram explícitas.

Quando Marina Silva e outros países defenderam a implementação do compromisso de Dubai sobre o abandono gradual dos combustíveis fósseis, a reação da Arábia Saudita foi imediata e dura.

O país, segundo maior produtor de petróleo do mundo, deixou claro que resistirá a qualquer acordo que defina combustíveis fósseis como vilões da crise climática.

A questão dos combustíveis fósseis é uma herança problemática da COP29. Em Baku, o acordo firmado em Dubai foi praticamente ignorado, com países produtores de petróleo bloqueando menções que consideraram contrárias aos seus interesses.

Firmado durante a COP28, o compromisso ficou "esquecido" quando o bloco árabe rejeitou referências ao setor.

Ao mesmo tempo, o Brasil - que carrega o simbolismo de sediar a primeira COP na Amazônia - enfrenta o paradoxo de defender a transição energética enquanto autoriza explorar novas fronteiras petrolíferas a 500 quilômetros da foz do rio mais emblemático do planeta.

Um negociador que acompanha as COPs há mais de uma década resumiu a situação com franqueza para EXAME.

"O timing foi péssimo, embora calculado. O governo escolheu ser transparente sobre suas intenções, em vez de esconder até depois da conferência. É uma aposta arriscada", afirma.

Por outro lado, em meio às contradições e impasses, a pré-COP de Brasília revelou ao menos um ponto de convergência possível: a adaptação.

O tema, historicamente relegado a segundo plano nas negociações, ganhou protagonismo após as enchentes do Rio Grande do Sul transformarem uma discussão técnica em urgência nacional.

"A adaptação sempre foi uma agenda dos países mais vulneráveis, pautada em doação", explicou Alice Amorim, diretora de programa da COP30, durante entrevista na pré-COP. "Mas existe toda uma economia da adaptação surgindo, que acontece de maneira silenciosa e em muitos lugares descoordenada."

Caso Belém consiga avançar concretamente nessa agenda, já terá um legado relevante. 

Mas a conferência ainda carrega expectativas bem maiores: destravar o financiamento climático prometido em Baku, implementar efetivamente o acordo de Dubai sobre combustíveis fósseis e elevar a ambição das metas nacionais.

Conforme ponderou José Alexandre Scheinkman, economista que lidera o conselho assessor de economia da COP30: "A engenharia financeira pode ajudar muito, mas é muito limitada. Os mercados não vão ser suficientes."

Como afirmou André Corrêa do Lago semanas atrás após a reunião interministerial de Brasília, agora será o momento de colocar lupa "nas linhas vermelhas de cada país, porque foram muito claros nos limites do que podem ou não aceitar num processo de negociação. Isso nos permite trabalhar de forma mais estratégica".

Nos próximos dias, o desafio que se colocará para a COP, e mais ainda para o Brasil, será o da coerência. Marina Silva sintetizou o contexto, ao lembrar que o país possui vantagens comparativas importantes, mas insuficientes. E é nesse espaço entre o ideal e o possível que a diplomacia brasileira precisará operar.

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