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O head do PRI também afirma que a COP30 é a oportunidade para que o Brasil destrave novas oportunidades de financiamento (Andre Dib/Pulsar)
Repórter de ESG
Publicado em 17 de outubro de 2025 às 05h42.
Há quase 20 anos, quando o Principles for Responsible Investment (Princípios para o Investimento Responsável, na tradução livre) foi criado, era raro fazer a conexão entre meio ambiente e finanças. Mais estranho que isso seria pensar que uma organização contaria com uma rede de 5 mil investidores comprometidos com a proteção das florestas e dos recursos naturais. Os temas, segundo o head do PRI no Brasil, Marcelo Seraphim, eram vistos como opostos na época. “O que hoje é chamado de ESG era visto com certo ranço pelo sistema financeiro global”, explica.
Mesmo assim, um grupo de investidores do setor privado, com o apoio da Organização das Nações Unidas, decidiu fundar a organização sem fins lucrativos em 2006 para desenvolver guias, oferecer uma plataforma de relatórios e realizar eventos que apoiem investidores na caminhada pelos investimentos sustentáveis. “A ideia é ajudar a deslocar o capital de atividades com externalidades negativas para aquelas que são neutras ou positivas”, conta Seraphim, que atua como líder no Brasil desde 2018.
Com o passar dos anos, cresceu entre os investidores o entendimento sobre os riscos ambientais e seus impactos financeiros. Seraphim explica que a base do trabalho é o ganha-ganha entre planeta, sociedade e investidores, que conseguem capturar os riscos de forma mais eficiente. “Temos exemplos de empresas que sofreram impactos negativos após eventos deletérios para a imagem da companhia”, disse. Em entrevista à EXAME, o líder contou mais dos próximos passos do PRI globalmente e a expectativa para as metas de financiamento da COP30, que acontece no próximo mês em Belém.
Segundo Seraphim, a principal maneira para acelerar os investimentos de viés sustentável e o financiamento climático é garantir que o ambiente regulatório seja o mais atrativo possível. Ele explica que investidores de perfis e objetivos diferentes buscam, cada vez mais, canalizar investimentos para projetos que gerem externalidades positivas, especialmente investidores europeus e asiáticos, mas que o ambiente financeiro instável atrasa as possibilidades no Brasil.
Os primeiros passos para diminuir a incerteza é desenvolver instrumentos financeiros para lidar com esses desafios e reduzir os riscos aos investidores com perfil mais comercial. “Já temos algumas soluções apontadas para esse caminho, como blended finance e os recursos de bancos de desenvolvimento. Não vamos conseguir destravar tudo de uma vez. Sabemos que a burocracia estatal existe, mas não é só o Estado que deve atuar”, conta. Para o especialista, toda forma de atrair capital é bem-vinda.
O financiamento sustentável também deve ser tema do PRI in Person, evento realizado pelo PRI de 4 a 6 de novembro em São Paulo, poucos dias antes do início da COP30, que acontecerá em Belém. A ideia é promover um ambiente de discussão e networking que propicie discussões sobre como destravar o ambiente de negócios sustentáveis e atrair mais investimentos ao tema. O evento começa com discussões voltadas a proprietários de ativos e investidores institucionais, como fundos soberanos, endowments, fundações e family offices, sobre como unir os riscos do ESG aos seus ativos. Em seguida, a sustentabilidade entra à tona novamente com a discussão sobre regulamentações e políticas públicas. “Lançaremos um roteiro organizado e coordenado com recomendações de como melhorar o ambiente regulatório e a atratividade do mercado brasileiro para esse tipo de investimento”, explica o head.
O caminho até que o planeta consiga o investimento de US$ 1,3 trilhão por ano para financiar a transição verde e a economia de baixo carbono também serão discutidos. “A agenda é bastante extensa e aborda diversos temas que refletem a realidade de mercados emergentes, como soluções baseadas na natureza, povos originários, resiliência e adaptação de infraestruturas. Além disso, também discutiremos questões recentes, como geopolítica e inteligência artificial”, afirma.
A crença do Principles for Responsible Investment é de que a realização da COP30 no Brasil deve atrair ainda mais oportunidades para o desenvolvimento sustentável no país. O objetivo é que o capital, que atualmente está muito alocado em mercados desenvolvidos, migre para o Brasil, pois as oportunidades estão todas aqui. “Precisamos mostrar que temos um portfólio de instrumentos para diminuir o risco cambial e fazer com que os investidores entendam que o Brasil tem uma estratégia interessante para a bioeconomia.”
O head do PRI também afirma que a COP30 é a oportunidade para que o Brasil destrave novas oportunidades de financiamento, como a produção agrícola sustentável, agroflorestas e recuperação de pastagens. No entanto, a aceleração de todos esses temas ainda depende da implementação de um mercado regulado de carbono.
“Se não tivermos um mercado regulado, não podemos tangibilizar o valor da redução de CO2 para os negócios, e sem isso, não há maiores incentivos para investir”, explica.
A taxa de juros alta gera um potencial de oportunidade para o investidor, mas no ESG, cujas ações operam no médio e longo prazo, a métrica é ainda mais chamativa. Por isso, acredita como urgente que o investidor brasileiro comece a se familiarizar com o tema da sustentabilidade. Ele descreve como no futebol: quem se desloca, recebe, e quem antecipa, tem melhores resultados.
Apesar do cenário macroeconômico instável, Marcelo acredita que o investidor está mais maduro na comparação com anos anteriores. “Hoje, políticas de investimento já contam com diretrizes claras sobre como tratar mudanças climáticas e questões sociais”, afirma, reafirmando que investidor brasileiro tem a vantagem de estar perto dos biomas.
As regras da CVM, B3 e IFRS para conectar o ESG às finanças e relatórios corporativos faz parte dessa estratégia: ajudam que cada vez mais os temas sejam integrados e vistos como complementares. O uso de padrões entre os relatos de diferentes companhias também facilita a tomada de decisão do investidor.
Prestes a completar 20 anos, o PRI passa a implementar trilhas que acompanhem a jornada do investidor no ESG, atuando conjuntamente desde pequenos family offices até gigantes como BlackRock, signatária da organização. A ideia é trabalhar personalizadamente, atuando para que investidores de países emergentes possam garantir uma evolução similar aos de países desenvolvidos.
Aumentar a quantidade de investidores conscientes também é uma das premissas. “Vamos também fazer um esforço grande para aumentar a nossa rede. Quanto mais signatários, especialmente entre os proprietários de ativos, mais recursos alocados, e assim, gerar um impacto positivo na sociedade”, explica.
A agenda completa do PRI In Person pode ser acessada a partir do site do evento.