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COP30 entra em semana decisiva com Alckmin e ministros de 160 países em Belém

Vice-presidente abre fase ministerial enquanto bloqueio africano, disputa por financiamento e petróleo travam avanços da conferência

COP30: Bloqueio africano aos indicadores de adaptação, financiamento climático e futuro dos combustíveis fósseis dominam agenda até sexta-feira, 21. (Leandro Fonseca /Exame)

COP30: Bloqueio africano aos indicadores de adaptação, financiamento climático e futuro dos combustíveis fósseis dominam agenda até sexta-feira, 21. (Leandro Fonseca /Exame)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 09h09.

Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 09h22.

A primeira semana da COP30 se encerrou em Belém com avanços limitados nas negociações técnicas, que avançaram pouco nos temas mais controversos. E alguns itens cruciais sequer entraram na agenda oficial.

Agora, com mais de 160 ministros de Estado chegando à capital paraense nesta segunda-feira, 17, a conferência climática entra na fase sempre considerada decisiva, até sexta-feira, dia 21, quando as delegações precisam transformar impasses técnicos em acordos políticos.

A segunda semana começa com uma cerimônia de abertura que reúne o vice-presidente Geraldo Alckmin - que chefiou a delegação brasileira na COP29, em Baku, e ainda não havia marcado presença em Belém -, o presidente da COP30 André Corrêa do Lago, o secretário-executivo da UNFCCC Simon Stiell e a presidente da Assembleia Geral da ONU, Annalena Baerbock.

O ritual diplomático simboliza uma virada das negociações. E uma nova etapa para o desafio que não é pequeno. Financiamento dos países ricos aos em desenvolvimento, novas metas de redução de emissões, indicadores de adaptação climática e o polêmico tema dos combustíveis fósseis seguem sem consenso. E o relógio não para.

O sumário da discórdia

Na noite deste domingo, 16, por volta das 20h, a presidência brasileira da COP30 divulgou um documento que pode definir os rumos da conferência.

O texto de cinco páginas sintetiza o que a presidência ouviu nas consultas informais sobre quatro temas prioritários: financiamento climático, ambição de manter o aquecimento em 1,5°C, barreiras comerciais unilaterais e sistema de transparência para relatórios de emissões.

O texto é, ao mesmo tempo, um diagnóstico e uma carta de intenções. A presidência afirma ter "identificado um alto grau de convergência" e oferece "um vislumbre preliminar" do que pode ser um "pacote geral de resultados" da COP30.

Mas logo vem o alerta: o documento contém uma ampla gama de "opções que podem ser tomadas pelas partes como mutuamente favoráveis ou mutuamente excludentes".

Na prática, o sumário funciona como um cardápio à la carte. Para cada tema, apresenta uma longa lista de possíveis desfechos - desde os mais ambiciosos até os minimalistas.

É o que negociadores experientes chamam de "texto de opções": essencialmente, uma compilação de todas as ideias apresentadas pelas delegações, sem tentar transformá-las em linguagem jurídica formal.

A "decisão Mutirão"

Entre os possíveis resultados, um termo chama atenção: "decisão Mutirão". A palavra remete à tradição brasileira de trabalho coletivo e voluntário, e pode apontar para um texto de cobertura que amarre todos os temas em um único pacote político.

Porém, o documento também menciona outras alternativas: um "plano de ação", um "plano de resposta" ou um "plano de entrega".

"A capacidade de tomar uma decisão sobre isso também já chegou a Belém", analisa Caio Victor Vieira, especialista em políticas climáticas do Instituto Talanoa. "Os ministros já estão aqui, então algo sobre isso deve começar a vir a público agora e assim que sair você acompanhará com a gente."

O problema é que, por trás da retórica diplomática, as divergências são profundas. No tema do financiamento, por exemplo, uma das opções sugere um programa de trabalho de três anos sobre o Artigo 9.1 do Acordo de Paris - que trata das obrigações dos países desenvolvidos de financiar a ação climática nos países em desenvolvimento.

Outra opção, bem mais modesta, propõe simplesmente "reafirmar a NCQG", a meta de 300 bilhões de dólares anuais acordada na COP29 em Baku.

Da mesma forma, no tema da ambição climática, um dos pontos sugere discussões anuais nas COPs sobre o status das metas nacionais de emissões, com "exploração de oportunidades" relacionadas à "transição para longe dos combustíveis fósseis".

Outro ponto, bem menos comprometedor, apenas aponta para o próximo balanço global previsto para 2028.

O bloqueio que persiste

Se o sumário presidencial tenta criar pontes, um impasse específico segue dinamitando qualquer otimismo prematuro: o bloqueio do grupo africano à adoção dos indicadores globais de adaptação.

A Meta Global de Adaptação, ou GGA na sigla em inglês, era para ser a vitrine da COP30.

Aprovada em Dubai na COP28, ela estabelece compromissos para que os países protejam suas populações, infraestruturas e sistemas produtivos dos eventos climáticos extremos - enchentes, secas, ondas de calor, furacões. Mas falta o essencial: como medir se esses compromissos estão saindo do papel?

Quando nasceu em Dubai, a lista de indicadores contava com cerca de 9 mil itens. Hoje ultrapassa 100 mil, cobrindo desde saúde pública até agricultura e infraestrutura urbana.

O volume gigantesco virou justificativa para o adiamento. Delegações africanas e árabes argumentam que falta tempo para analisar tudo e propuseram adiar por dois anos a definição dos parâmetros.

Sem esses indicadores, não há como saber se os países estão realmente cumprindo suas promessas de adaptação. É como tentar medir a temperatura sem um termômetro.

"O bloqueio do continente africano à adoção dos indicadores globais de adaptação ainda não arrefeceu", afirma Vieira. "Essas negociações de como é que os blocos vão conseguir contornar esse bloqueio africano ainda é uma questão relevante para essa semana."

O impasse frustra a estratégia brasileira de colocar a adaptação no mesmo patamar da mitigação de emissões - as duas faces da resposta à crise climática. A presidência da COP30 apostou alto na GGA como uma das entregas prioritárias da conferência. Agora, corre o risco de ver essa vitrine desmoronar.

Petróleo: o elefante na sala

Se a adaptação trava, o tema dos combustíveis fósseis nem sequer consegue entrar plenamente na sala de negociações. E isso apesar de um compromisso histórico firmado há dois anos na COP28 de Dubai: avançar rumo ao fim da era do petróleo, gás e carvão.

O sumário presidencial menciona o tema de forma oblíqua, quase tímida. Fala em "exploração de oportunidades" relacionadas à "transição para longe dos combustíveis fósseis". Mas não apresenta nada concreto - nenhum prazo, nenhuma meta, nenhum mecanismo de implementação.

Nos bastidores, a presidência brasileira vem realizando consultas intensivas sobre a possibilidade de criar um "mapa do caminho" para a descarbonização. A ideia é estabelecer um roteiro claro, com marcos temporais, para a saída progressiva dos fósseis.

"O mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis ainda está no holofote da COP30", relata Vieira. "A presidência vem fazendo consultas, nós temos escutado aqui que uma coalizão dos despósitos está cada vez mais grande."

A expressão "coalizão dos despósitos" não poderia ser mais reveladora. Refere-se aos países produtores de petróleo e gás - muitos deles árabes, mas também incluindo grandes economias como Rússia, Estados Unidos (ausente da COP30 sob Trump) e até mesmo o Brasil, que vem expandindo sua produção de petróleo na camada pré-sal.

A Colômbia tem tentado liderar uma frente progressista, propondo uma declaração política que peça o estabelecimento de um roteiro concreto para acabar com os combustíveis fósseis.

A resistência, no entanto, é feroz. Países produtores argumentam que suas economias dependem das receitas do petróleo e que precisam de apoio financeiro e tecnológico para fazer a transição.

O petróleo, enfim, segue como o elefante na sala - imenso, impossível de ignorar, mas sobre o qual ninguém quer falar abertamente.

A guerra dos números no financiamento

O terceiro grande campo de batalha da COP30 é o financiamento climático. E aqui, como em quase tudo, o diabo mora nos detalhes - ou melhor, nos zeros dos valores discutidos.

Na COP29 em Baku, os países ricos se comprometeram a destinar 300 bilhões de dólares anuais para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar a crise climática. Foi celebrado como um avanço.

Contudo, países em desenvolvimento, especialmente os africanos, consideram o valor insuficiente e querem triplicar especificamente o financiamento para adaptação: saltar dos atuais 40 bilhões de dólares anuais para 120 bilhões até 2030.

A demanda já entrou no primeiro rascunho da Meta Global de Adaptação e tem aval público do presidente Lula. Mas os países ricos resistem, argumentando que o assunto já teria sido fechado em Baku.

Especialistas calculam, porém, que a necessidade real é muito maior: 1,3 trilhão de dólares anuais. A distância entre o que foi prometido (300 bilhões) e o que seria necessário (1,3 trilhão) é um abismo de um trilhão de dólares.

Para tentar preencher essa lacuna, as presidências da COP30 e da COP29 elaboraram uma proposta ousada: aplicar impostos aos serviços financeiros, ao luxo, à tecnologia e à indústria militar. A ideia seria criar novas fontes de receita para o financiamento climático, sem depender apenas das contribuições voluntárias dos países.

Mas o Brasil já reconheceu que a proposta não agradou a todos e precisará de mais estudos, que serão realizados a partir de 2026. Ou seja: não sai nada concreto desta COP30.

A aposta no setor privado

Diante do impasse nas negociações oficiais, os principais avanços na primeira semana vieram do setor privado.

O secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Simon Stiell, celebrou compromissos de financiamento da ordem de "trilhões" de dólares por parte de bancos, fundos de investimento e grandes corporações.

Entre as iniciativas que mais chamaram atenção está o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), promovido pelo Brasil e que já reuniu compromissos de 5,5 bilhões de dólares de países como Noruega, Brasil, Indonésia e França.

O fundo funcionará como uma ferramenta de "capitalismo verde": investirá os recursos no mercado financeiro para multiplicar seu valor e, após remunerar os investidores, destinará os lucros à conservação das florestas tropicais.

É um modelo inovador, mas que depende do desempenho dos mercados financeiros - e, portanto, traz incertezas.

Além disso, uma das principais reivindicações dos países em desenvolvimento é justamente que a maior parte das contribuições financeiras provenha de fundos públicos, não privados.

O argumento é simples. O setor privado busca lucro e, portanto, tende a privilegiar projetos rentáveis em detrimento de iniciativas em países mais pobres ou em áreas menos atrativas comercialmente.

Protagonismo chinês que se confirma

Apesar de ausente, a figura do presidente dos EUA, Donald Trump, paira sobre Belém como uma sombra incômoda. As críticas ao negacionismo climático do republicano se repetiram nas falas de líderes de muitos países e também na boca do governador da Califórnia, Gavin Newsom, e do senador democrata Sheldon Whitehouse - a única autoridade federal dos EUA presente na COP30.

Com Washington fora do jogo, a China ganhou protagonismo. O pavilhão da nação asiática é um dos maiores e mais movimentados da conferência, e por ele passam autoridades e diretores de empresas que exibem os avanços do país em sua transição energética - ainda que a China siga sendo um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta.

Pequim, porém, mantém sua posição histórica baseada no princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas": quem tem responsabilidade maior pelas emissões históricas - ou seja, os países desenvolvidos - deve pagar a conta agora. A China se considera um país em desenvolvimento e, portanto, não se vê obrigada a contribuir financeiramente da mesma forma que Estados Unidos, Europa e Japão.

Uma questão financeira ilustra bem essa tensão. A China aderiu formalmente ao Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), mas não prometeu recursos. "Países como a China foram importantes em dizer que vão apoiar. Não anunciaram valores, mas embarcaram no projeto", disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contornando diplomaticamente a ausência de cifras.

O grito da floresta

Enquanto ministros negociam em salas refrigeradas, do lado de fora os povos indígenas brasileiros se tornaram os principais agitadores da COP30 - a primeira realizada em sua casa, a floresta amazônica.

E isso tem causado dores de cabeça à presidência brasileira. No segundo dia da cúpula, um grupo de indígenas e ecologistas invadiu a área restrita da ONU. Na sexta-feira passada, indígenas Mundurukus bloquearam o acesso principal ao centro de convenções, causando longas filas.

No sábado, enquanto milhares de ativistas climáticos e indígenas protestavam pelas ruas de Belém pedindo o fim dos combustíveis fósseis, o centro de convenções amanheceu protegido pelo Batalhão de Selva do Exército brasileiro.

Para aplacar os ânimos, o governo federal foi obrigado a sentar-se para ouvir as demandas indígenas: o fim das prospecções de petróleo na Amazônia e o arquivamento de grandes projetos de infraestrutura na floresta - como estradas e hidrelétricas.

A pressão vinda das ruas adiciona mais uma camada de complexidade às negociações. Não basta convencer outros países; é preciso também responder às expectativas das populações mais afetadas pela crise climática.

A hesitação das novas metas

Outro indicador preocupante: até a manhã desta quinta-feira, apenas 111 países haviam apresentado suas novas metas climáticas - as chamadas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). São pouco mais da metade dos signatários do Acordo de Paris.

A hesitação reflete o momento geopolítico turbulento. Muitas nações não querem assumir compromissos duros enquanto o cenário está tão instável - e com os Estados Unidos fora do acordo climático sob Trump, a insegurança é ainda maior.

O Brasil apresentou sua nova meta na semana passada: reduzir as emissões entre 59% e 67% até 2035 em relação aos níveis de 2005. Foi recebida com elogios por uns e críticas por outros, que consideram a meta insuficiente diante da urgência climática.

O teste da segunda semana

Agora, com os ministros instalados em Belém e a contagem regressiva para sexta-feira, a capacidade política de tomar decisões difíceis finalmente chegou à Amazônia.

Para dar um impulso às negociações, o Brasil designou vários ministros estrangeiros como facilitadores nos principais temas de discussão.

A terceira vice-presidente e ministra da Transição Ecológica da Espanha, Sara Aagesen, será uma das facilitadoras em mitigação. A secretária de Meio Ambiente e Recursos Naturais do México, Alicia Bárcena, ficará com o tema da transição justa.

A estratégia é tentar destravar os impasses setorizando as discussões e colocando personalidades respeitadas à frente de cada tema. Resta saber se será suficiente.

"A semana decisória é essa, os ministros já estão aqui", resume Caio Victor Vieira. "A gente tem que ficar de olho muito atento de como é que isso vai evoluir daqui pra frente."

O presidente da COP30, o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago, tem evitado assumir responsabilidades diretas, repetindo que "as decisões são tomadas de baixo para cima" - ou seja, pelos próprios países. 

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