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Ricardo Mussa, da SB COP: “Cerca de 80% das emissões do mundo estão no setor privado" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 10 de novembro de 2025 às 19h17.
Última atualização em 10 de novembro de 2025 às 19h35.
Belém — Acelerar o desenvolvimento sustentável e transformar a Amazônia em um motor da economia brasileira pode gerar um acréscimo de R$ 40 bilhões ao PIB brasileiro, criar 312 mil empregos e conservar 81 milhões de hectares. Essa é a projeção da Sustainable Business COP (SB COP), iniciativa criada pela Confederação Nacional da Indústria com foco em unir o setor privado nas discussões da 30ª Conferência Climática da ONU.
Nesta segunda-feira, 10, primeiro dia da COP30, a SB COP lançou o Legacy Report (Relatório Legado, na tradução livre), documento que traduz os desafios globais do clima para a realidade brasileira, com foco na implementação. O documento ainda apresenta uma visão direcionada para a Amazônia, uma vez que a COP30 é sediada em Belém. O trabalho une discussões sobre bioeconomia, transição energética, finanças e empregos verdes, saúde e contabilidade de carbono.
Segundo Ricardo Mussa, chair da SB COP, o relatório surgiu a partir de uma provocação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Lula pediu que pensássemos recomendações que fossem aplicáveis a realidade brasileira. E a ideia é que esse documento seja replicável para as COPs futuras, ou seja, quando a COP for realizada na Austrália, a CNI local apresente o seu Legado”, explica.
A pesquisa mobilizou mais de 40 milhões de empresas em 60 países e levantou mais de 600 casos de sucesso para comprovar a realização das práticas e soluções sustentáveis pelo setor privado. Assim, reúne opções de práticas e investimentos que podem guiar mais companhias na busca pela sustentabilidade.
Entre os modelos levantados estão o caso da Natura, fabricante de cosméticos, que passou a usar blended finance para preservar 2 milhões de hectares. Assim, a companhia une diferentes fontes de capital, como filantrópico, público, concessional e privado, para viabilizar investimentos de impacto.
Além dessa prática, um modelo utilizado pela JBS, indústria alimentícia, trabalha a regularização ambiental e a regeneração produtiva em mais de 8 mil fazendas. Dessa forma, a companhia oferece assistência técnica, ambiental e gerencial para produtos agrícolas, o que ajuda na transição para o agronegócio sustentável.
Mussa contou em entrevista à EXAME que se trata de um incentivo para que o setor privado use sua expertise para acelerar programa nos países-sede da COP. “É um impacto enorme nos direcionamentos dos investimentos na Amazônia, mas que também pode ser replicado em outros lugares”, explica.
A partir do lançamento, a SB COP propõe um plano de ação em cinco pilares:
A ideia agora é garantir a continuidade das estratégias de implementação para além da COP atual. “O documento não encerra o debate, mas marca uma etapa fundamental. Ele orienta os próximos passos e reforça a necessidade de um compromisso permanente, com visão de futuro e união entre os diferentes setores da sociedade, para que o Brasil atinja todo o seu potencial”, explica Mussa.
As oportunidades para o setor privado, no entanto, são muitas, segundo o chair.
“Vejo esta como a COP que mais ofereceu abertura para setor privado. Estamos falando menos de negociação e mais de implementação, o que é essencial para a agenda das empresas”, explica.
“Cerca de 80% das emissões do mundo estão no setor privado. Por isso, temos que fazer parte do processo de implementar ações. Espero que o principal legado da COP seja essa maior abertura do setor privado e o plano de ação para os próximos cinco anos”, conta.