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Os prêmios "fóssil do dia" são concedidos diariamente pela Climate Action Network durante as COPs do clima (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 20h19.
Os prêmios "fóssil do dia" são concedidos diariamente pela Climate Action Network durante as COPs do clima para destacar "países que, na avaliação da organização, mais obstruem e travam o progresso das negociações climáticas"
Nesta sexta-feira, 21, último dia oficial da COP30, a Rússia levou o prêmio indesejado e a Arábia Saudita e União Europeia dividiram as desonras com o "troféu colossal" pela pior performance durante as duas semanas.
Segundo a rede climática, a Rússia transformou a "sabotagem processual em verdadeira arte" e conseguiu desacelerar praticamente todas as discussões da COP, desde gênero a transição justa.
Já a Arábia Saudita esvaziou a lei, a ciência e as medidas de mitigação das emissões, enquanto a União Europeia paralisou a ambição.
Segundo nota da organização, o país saudita conquistou o título por "corroer sistematicamente os alicerces da ação climática global": rejeitou o reconhecimento do parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça sobre obrigações climáticas, tentou eliminar proteções para mulheres defensoras ambientais, negou direitos humanos em perdas e danos e ignorou propostas para dar seguimento ao compromisso já acordado de fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis.
Além disso, o país têm se empenhado em excluir referências ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de diversos textos de negociação "em uma tentativa de negar a ciência".
Por último, a União Europeia seria "uma delegação que finge ser defensora do clima enquanto demonstra um impressionante repertório de obstrução nos bastidores e sempre chega tarde demais às negociações", alertou a Climate Action Network.
"Enquanto pessoas em todo o Sul Global lutam contra secas, dívidas, inundações e custos de adaptação exorbitantes, arcando com os custos mais elevados dos impactos climáticos, a UE canalizou sua energia para defender, em primeiro lugar, seus próprios interesses", diz a nota.
Entre os destaques de seu extenso repertório de bloqueios, estão o financiamento público baseado em subsídios; se esquivar da clareza do artigo 9.1 do Acordo de Paris; se recusar a triplicar recursos para adaptação e implementar cortes drásticos nos orçamentos de ajuda oficial às nações em desenvolvimento.
"Isso não é liderança climática. É ambição por meio de marketing e obstrução na prática", acrescenta a nota.
Nas negociações sobre gênero, delegados russos gastaram horas em minúcias processuais, defendendo apaixonadamente a linguagem binária "ele/ela".
Já nas discussões sobre transição justa, lutaram para manter os combustíveis fósseis no texto oficial, defendendo "combustíveis de transição" e alertando sobre supostos "aspectos negativos" das energias renováveis.
A alegação russa de ter "85% de energia limpa" foi classificada como "contabilidade criativa" pela organização, disfarçando o uso massivo de gás e energia nuclear. A realidade é que a estratégia energética da Rússia para 2050 mantém carvão e gás como prioridades, enquanto renováveis devem estagnar em apenas 3% até 2040.
O principal negociador russo chegou a insistir que o mundo "sofreria sem combustíveis fósseis", isso tudo em meio aos impasses da retirada da menção do texto da Decisão do Mutirão Global.
A invasão da Ucrânia adiciona uma dimensão ainda mais grave. Em três anos de conflito, as emissões relacionadas à guerra atingiram 237 milhões de toneladas de CO2 equivalente — superando as emissões anuais da Turquia ou Tailândia.
Quase €1 trilhão (R$ 6,3 trilhões ) arrecadados com exportações de combustíveis fósseis desde 2022 não foram destinados a ações climáticas. Enquanto isso, o orçamento de defesa russo para 2026 alcança US$ 157 bilhões (R$ 910 bilhões).
Agravando a situação, a Rússia usou a plataforma da UNFCCC para legitimar sua ocupação ilegal de território ucraniano, incluindo essas regiões em seu relatório nacional de inventário — criando um precedente perigoso que mina a integridade do processo climático das Nações Unidas.
A nova NDC ou meta climática da Rússia ocupa atualmente a 64ª posição entre 67 países no Índice de Desempenho em Mudanças Climáticas avaliado pelo Climate Tracker e a meta para 2035 "não exige nenhum esforço adicional", diz a nota.
Em contraste, a Colômbia recebeu pelo terceiro ano consecutivo o "raio da COP", um prêmio concedido para liderança climática exemplar.
O país é uma das vozes mais claras a defender uma transição planejada para longe dos combustíveis fósseis, "não como aspiração, mas como um plano concreto", diz a organização.
No próximo ano, será sede da primeira conferência internacional para a eliminação gradual dos fósseis, em Santa Marta.
Em relação às florestas, a Colômbia também se destaca: pressiona por um resultado que interrompa e reverta o desmatamento até 2030.
"Na mesa de negociações, tem mostrado um posicionamento construtivo, consistente e corajoso — promovendo um mecanismo operacional de transição justa baseado na justiça, equidade e inclusão", ressaltou a nota.
Neste último dia oficial da COP30, a rede também prestou uma menção especial aos trabalhadores e voluntários pelo seu empenho incansável durante as duas semanas.
"A todas aquelas pessoas que mantiveram esta conferência de pé, apesar do calor, da fumaça, dos atrasos, das evacuações e da exaustão. Sua paciência, profissionalismo e calma sob pressão possibilitaram a continuidade das negociações, mesmo quando tudo ao seu redor estava se deteriorando. Eles são a espinha dorsal silenciosa deste processo e merecem gratidão", escreveu.