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O setor agropecuário é responsável pela maior parte das emissões nacionais (Syngenta/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 30 de setembro de 2025 às 18h00.
Última atualização em 30 de setembro de 2025 às 19h42.
Como o agronegócio brasileiro pode crescer sem desmatar? A resposta está na governança e em práticas regenerativas já conhecidas.
Nesta terça-feira, 30, um estudo do Instituto Esfera, frente acadêmica do think tank Esfera Brasil, revelou que o mesmo ritmo de crescimento do PIB do setor que é responsável pela maior parte das emissões nacionais pode resultar em cenários bastante positivos de queda da degradação ambiental.
O “pulo do gato” está na qualidade das políticas públicas e na força das instituições de fiscalização e controle.
A análise histórica traz como exemplo o Arco do Desmatamento, região da Amazônia que reúne Pará, Mato Grosso, Maranhão, Rondônia, Tocantins e Acre e apresentou uma queda de 25,8% nas áreas desmatadas em 2024 pelo segundo ano consecutivo. Enquanto isso, o PIB do agro seguiu em crescimento.
"A preservação da Amazônia e do Cerrado depende sobretudo da qualidade da governança. O futuro das nossas florestas está ligado à força das instituições e à consistência das políticas", destacou Camila Funaro Camargo Dantas, CEO do Instituto Esfera.
Mas afinal, quais os caminhos para este desenvolvimento sustentável? O Esfera destaca cinco eixos:
1. Integração lavoura-pecuária
A intensificação produtiva permite produzir mais na mesma área, reduzindo a pressão por abertura de novas frentes de desmatamento.
2. Biofábricas e cadeias sustentáveis
O Brasil preserva 119 mil espécies catalogadas de fauna e 46 mil de flora, mas ainda explora pouco o potencial econômico sustentável dessa biodiversidade.
Um estudo lançado recentemente pelo ICC Brasil mostra este potencial: a bioeconomia pode movimentar R$ 765 bilhões por ano até 2032.
Cadeias de alto valor agregado, como plantas medicinais e alimentos, seguem ainda muito incipientes, ao mesmo tempo que representam oportunidades para gerar renda com a floresta em pé.
3. Pagamento por Serviços Ambientais (PSA)
Remunerar proprietários e comunidades que conservam transforma a preservação em ativo econômico, criando incentivos positivos em vez de apenas penalizações.
Neste sentido, o Brasil avançou em um instrumento importante durante a Semana do Clima de Nova York e anunciou US$ 1 bilhão para o Fundo de Florestas Tropicais (TFFF).
4. Créditos de carbono e incentivos verdes
O mercado internacional de carbono valoriza a conservação, e o Brasil pode se posicionar estrategicamente nesse mercado, especialmente às vésperas da COP30 em Belém do Pará.
A expectativa é que o governo brasileiro avance nas regras da regulamentação durante a grande conferência do clima.
5. Restauração ecológica e sociobiodiversidade
Os 19 milhões de hectares degradados no Arco do Desmatamento representam não apenas um passivo, mas uma oportunidade: programas de restauração geram emprego, recuperam ecossistemas e beneficiam comunidades tradicionais.
"É o trilema da sustentabilidade regional", destacam os pesquisadores sobre a necessidade de conciliar objetivos econômicos, sociais e ambientais no planejamento territorial.
O Arco do Desmatamento ocupa apenas 10% da Amazônia Legal, mas responde por 45% de todo o desmatamento registrado no Brasil.
A região concentra 75% das terras desmatadas no bioma e soma mais de 19 milhões de hectares alterados ou degradados — uma área equivalente a duas vezes o território do Reino Unido.
Entre 1988 e 2023, a Amazônia perdeu 20% de sua cobertura original, ou 800 mil km². O Brasil, que preserva 65% de sua vegetação primária, respondeu sozinho por 40% da perda global de florestas em 2021.
Em 2022, 77% dos focos de queimadas estavam concentrados na região do Arco.
Mas é justamente nesta região historicamente mais vulnerável que as políticas públicas mostraram maior efetividade: além da queda de 25,8% em 2024, foi registrada uma redução de 23,8% em 2023.
A pesquisa avaliou uma série de políticas implementadas ao longo dos anos para identificar os instrumentos que se mostraram decisivos para a queda do desmatamento.
O destaque vai para o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), lançado em 2004, que reduziu as taxas de área perdida de 27.772 km² naquele ano para 4.571 km² em 2012 — o menor nível desde 1988.
Também tiveram impacto a Lei de Crimes Ambientais (1998), o sistema de monitoramento em tempo real do Deter/Inpe (2004), as moratórias da soja (2006) e da carne (2009), a restrição ao crédito rural oficial a partir de 2008 em municípios críticos, e o Cadastro Ambiental Rural (2012).
O fortalecimento do Ibama e do ICMBio, junto com o reposicionamento internacional do Brasil na agenda climática, completaram o arcabouço.
Segundo a análise, a efetividade desses mecanismos depende da combinação entre fiscalização, regularização ambiental e estabilidade institucional.
O levantamento traça três projeções até 2050.
No cenário pessimista, que considera pressão internacional branda e enfraquecimento institucional, o desmatamento voltaria a crescer e ultrapassaria 1,2 milhão de hectares em 2045.
O resultado mostra que o ritmo de crescimento do setor agropecuário se mantém em ambos os cenários. O que muda é a trajetória de degradação ambiental, determinada pela qualidade da governança.
A região concentra riscos evidentes, como o avanço das queimadas, mas também oportunidades para alinhar desenvolvimento rural e conservação.
Segundo Fernando Meneguin, diretor acadêmico do Instituto Esfera, o estudo chega às vésperas da COP30 oferecendo ao Brasil subsídios para reforçar sua liderança nas discussões climáticas globais, a partir de um modelo concreto e soluções replicáveis.
Os resultados serão apresentados oficialmente ao governo brasileiro durante fórum promovido pelo Esfera em Belém do Pará, em 10 de outubro.