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'Década do Oceano': startup brasileira recebe reconhecimento da ONU pela restauração de corais

A Biofábrica aposta em uma tecnologia inovadora e já resgatou mais de 7 mil fragmentos de recifes das 'piscinas naturais' do Nordeste; À EXAME, o fundador revela plano de levar a solução para o mundo

A tecnologia de impressão 3D coleta fragmentos de corais já tombados no assoalho marinho e os transplanta para transformar em novos "berçários de recifes" (Biofábrica de Corais/Divulgação)

A tecnologia de impressão 3D coleta fragmentos de corais já tombados no assoalho marinho e os transplanta para transformar em novos "berçários de recifes" (Biofábrica de Corais/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 25 de abril de 2025 às 13h19.

Última atualização em 25 de abril de 2025 às 13h36.

Em meio à maior crise global de corais da história, mais de 80% dos recifes do mundo foram afetados pelo branqueamento e uma iniciativa brasileira ganha destaque internacional pelo seu trabalho inovador de preservação.

A Biofábrica de Corais, startup de biotecnologia fundada em 2017 a partir de pesquisas da Universidade Federal de Pernambuco recebeu um endosso da ONU e passa a ser referência mundial em restauração dentro da Década dos Oceanos.

Na prática, sua metodologia envolve uma tecnologia de impressão 3D que coleta fragmentos de corais já tombados no assoalho marinho e os transplanta para dispositivos biodegradáveis de cultivo chamados "berços".

Ali, essas estruturas se transformam em verdadeiros "berçários" que são monitorados diariamente por uma equipe de biólogos. Após um período de adaptação, os corais são acomodados em rochas por seis meses e depois são reinseridos no ambiente natural, onde continuam sendo monitorados por no mínimo dois anos até sua completa reintegração ao ecossistema marinho.

Tecnologia utiliza impressão 3D

A ideia nasceu do fundador e CEO Rudã Fernandes, que contou à EXAME sobre sua conexão com o oceano já na infância. Engenheiro de pesca formado na Bahia, ele se mudou para Pernambuco em 2015 especificamente para trabalhar com corais.

"Sempre pesquei com meus pais e tive aquários quando criança. Foi o caminho que determinou a minha profissão. No início, foi bastante desafiador cultivar os animais, pois não tínhamos informação técnica nenhuma sobre as espécies brasileiras," disse. Logo, ele precisou esperar até 2017 para obter a primeira licença ambiental para iniciar a pesquisa que daria luz ao trabalho da empresa.

Desde sua fundação, a startup já resgatou mais de 7 mil fragmentos de corais das piscinas naturais de Porto de Galinhas (PE), Tamandaré (PE) e Maragogi (AL) onde atua.

As localidades não são à toa: estão situadas ao longo da Área de Proteção Ambiental (APA) da Costa dos Corais, que é a maior unidade de conservação do Brasil e abriga a maior barreira de espécies do mundo, com mais de 130 km de extensão entre Pernambuco e Alagoas.

Além disso, são importantes destinos turísticos conhecidos por suas piscinas naturais formadas por recifes. Até então, a Biofábrica já atendeu cerca de 300 "bioturistas" em experiências imersivas para conhecer os berçários submersos e 1.300 tutores (pessoas físicas que adotaram corais), além de estabelecer parcerias com companhias do setor como CVC, Luck, grupo Amarante e Summerville. 

Onda de branqueamento

Em 2024, a Biofábrica passou por um desafio gigante. Uma nova onda de branqueamento atingiu os recifes do Nordeste brasileiro e afetou cerca de 80% de tudo que havia sido inicialmente cultivado.

Atualmente, a situação está sendo monitorada pelo Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene), vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 

"As mudanças climáticas estão fazendo o branqueamento aumentar a cada ano. Em 2019, o impacto foi de 50% nas espécies; Já no ano passado, a mortalidade chegou a 95%. O evento tornou a água mais suja e o impacto foi grande na nossa operação", disse Rudã.

Embora a taxa de perda tenha sido alta, a sobrevivência ainda assim foi 4 a 5 vezes maior do que o observado no ambiente natural, ressaltou o CEO. "Seguimos fortes na missão", destacou.

O projeto ainda está em fase inicial e de aperfeiçoamento dos manejos para que os corais sejam mais resilientes e resistentes. Uma das metas para 2025 é escalar os processos e resgatar 10 mil corais até o final do ano, contou Rudã. 

Rudã (na esquerda) e equipe

Muito além da beleza

Conhecidos como "florestas do oceano" pela rica biodiversidade que abrigam, os recifes de corais são essenciais para um quarto de todas as espécies marinhas, que dependem deles para se abrigar, reproduzir ou alimentar.

Seu impacto econômico também é considerável. Um estudo da Fundação Grupo Boticário revelou que as franjas de recifes do Nordeste brasileiro impedem prejuízos de até R$ 160 bilhões em infraestrutura urbana ao reduzir a força e altura das ondas que chegam ao litoral.

Além disso, essas mesmas formações têm potencial para gerar anualmente R$ 7 bilhões em receitas com atividades turísticas como mergulhos e passeios de barco. Globalmente, estima-se que o turismo de recifes movimente cerca de US$ 35,8 bilhões (R$ 185 bilhões) por ano.

"Nosso grande sonho é que todas as atividades econômicas dependam dos corais, como a indústria farmacêutica ou o mercado de peixes," disse Rudã.

"O turismo regenerativo tem um papel importante na educação e sensibilização das pessoas, e estamos trabalhando para criar experiências turísticas que se conectem com a preservação deste ecossistema", complementou.

Impacto social

Além de promover a sustentabilidade ambiental, a Biofábrica gera emprego e capacitação nas comunidades locais onde atua. A prioridade é contratar pessoas naturais de Porto de Galinhas, Maragogi e Tamandaré e há também um programa de "bio-visitantes", em que a startup aposta na formação dos membros para atuar nas atividades turísticas e de conservação com uma remuneração acima do mercado.

Durante a jornada, as parcerias estratégicas também desempenham um papel importante: a Fundação Grupo Boticário foi a primeira empresa a patrocinar o trabalho e viabilizar a pesquisa lá em 2017. Já em 2021, a organização se uniu com a WWF para apoiar a conservação e investir no modelo de negócio de restauração de corais.

Da pesquisa acadêmica até a ONU

O endosso da ONU integra a Biofábrica de Corais às ações da "Década do Oceano e Restauração dos Ecossistemas" (2021-2030), iniciativa global que busca conscientizar sobre a importância dos oceanos e mobilizar ações urgentes para garantir sua saúde e sustentabilidade.

Para Rudã, a regeneração deste ecossistema vai além da ciência e representa a geração de renda para diferentes comunidades e agentes da cadeia produtiva, especialmente o turismo e a pesca.

"Novas modalidades de negócios, como o próprio turismo regenerativo, ganham força no mundo todo, embora no Brasil o tema seja recente. Pela biodiversidade de sua fauna e flora, o país tem espaço para crescer e se tornar uma potência no setor", destacou ele.

Com o reconhecimento, a startup brasileira assume o compromisso de replicar seu conhecimento, fomentar e contribuir com pesquisas científicas globais, em articulação com cientistas de todo o mundo.

"Estamos discutindo a possibilidade de criar um modelo de franquia ou parcerias para levar nossa solução a outros locais no mundo, especialmente na América Latina," revelou o fundador.

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