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Floresta amazônica: estimativa recente indica que 55% do PIB global - cerca de US$ 58 trilhões - está exposto a risco material ligado à natureza. (Mariana Grilli/Exame)
Publicado em 5 de setembro de 2025 às 06h51.
* Por Douglas Souza
Em 5 de setembro, Dia da Amazônia, vale lembrar que a economia depende da natureza muito mais do que supõe a velha dicotomia “floresta ou desenvolvimento”.
Estimativa recente indica que 55% do PIB global - cerca de US$ 58 trilhões - está exposto a risco material ligado à natureza. O Fórum Econômico Mundial inclui a perda de biodiversidade entre os grandes riscos desta década.
A urgência é de escala. As finanças para soluções baseadas na natureza somam hoje cerca de US$ 200 bilhões/ano e precisam, no mínimo, triplicar até 2030 para algo em torno de US$ 540 bilhões.
Ao mesmo tempo, quase US$ 7 trilhões por ano ainda fluem para atividades nature-negative. Em outras palavras: falta capital bom e sobram incentivos insuficientes.
É aqui que o blended finance pode ganhar tração, com uso estratégico de capital público e filantrópico para reduzir risco e atrair recursos privados.
Os relatórios mais recentes da Convergence, por exemplo, mostram um mercado ativo, com mais de mil transações mapeadas e cerca de US$ 213 bilhões em volume agregado - base concreta para padronização e aprendizado.
O Fundo Amazônia, por exemplo, voltou a receber doações e, em 2023, somou US$ 640 milhões em novas promessas.
Os Estados Unidos anunciaram compromisso de até US$ 500 milhões (com desembolsos parciais já realizados, sujeitos à aprovação orçamentária).
Em março de 2025, a Irlanda anunciou € 15 milhões e ampliou o grupo de doadores. Em paralelo, o Congresso aprovou e o Executivo sancionaram, em dezembro de 2024, a lei que cria o mercado regulado de carbono — passo essencial para dar escala e integridade a créditos ambientais e metas empresariais.
Também surgem mecanismos regionais relevantes para formar pipeline. A FIEC, em parceria com o Instituto Amazônia+21, expandiu em 2025 uma facility de investimentos sustentáveis para a Caatinga, combinando capital filantrópico e privado para acelerar cadeias de valor socioambientais - desenho replicável para biomas como a Amazônia.
Investigações recentes expuseram fragilidades no mercado voluntário de carbono na Amazônia, reforçando a necessidade de salvaguardas e governança.
Há caminhos: princípios para créditos de biodiversidade propostos pelo Fórum Econômico Mundial; a adoção do TNFD por mais de 500 organizações; e, no Brasil, a consolidação de um mercado regulado com supervisão pública e regras claras de mensuração, reporte e verificação.
Quais instrumentos devem guiar uma agenda amazônica de “blended 2.0”? Podemos listar três frentes. Primeiro, garantias e camadas de first-loss para baratear o crédito e alongar prazos a empreendedores da bioeconomia.
Depois, mecanismos de receita compartilhada e financiamento por resultados (contratos de impacto e créditos de natureza) para alinhar risco e retorno a métricas ecológicas. E então, facilities de desenvolvimento de projetos, com assistência técnica e governança territorial, para transformar boas teses em ativos financiáveis e prontos para captação.
A demanda precisa ser ancorada por compras públicas e offtakes privados, reduzindo risco de mercado. É essa combinação de desenho financeiro, integridade e execução que pode transformar a Amazônia em vetor de prosperidade.
Blended finance não é atalho, é alavanca de risco inteligente. Usado com critério, para reduzir custo de capital, dar garantias, financiar assistência técnica e remunerar serviços ecossistêmicos, destrava múltiplos investimentos privados em soluções que mantêm a floresta em pé e geram renda digna.
O Dia da Amazônia deveria ser o checkpoint anual: quantos fundos regionais com first-loss público estão operando?
Quantas facilities estruturam projetos com métricas robustas? E quantos contratos de resultado e compras públicas/privadas estão ancorando demanda para a bioeconomia local?
Se respondemos com números crescentes, a floresta deixa de ser custo e passa a ser a maior vantagem competitiva do Brasil - ambiental, social e econômica.
* Douglas Souza é membro da Din4mo e co-liderança da jornada Go!Blended