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A fragilidade também é reconhecida pelos brasileiros: 84% acredita que todo ecossistema marítimo está sob risco (Serge MELESAN / 500px/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 10 de junho de 2025 às 15h48.
Última atualização em 10 de junho de 2025 às 16h11.
Você vê a elevação do nível do mar como uma ameaça? A resposta é sim para nove em cada dez brasileiros e o problema reflexo do aquecimento global é visto por 85% da população com influência direta em eventos climáticos extremos como secas, furacões e inundações.
É o que revela a nova pesquisa "Oceano sem Mistérios" da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em cooperação com a UNESCO, Maré de Ciência e a Universidade Federal de São Paulo, divulgada nesta terça-feira, 10, durante a 3º Conferência dos Oceanos da ONU em Nice, na França.
De 9 a 13 de junho, milhares de pessoas e líderes de todo mundo se reúnem para discutir saúde oceânica, financiamento, proteção marinha e desenvolvimento sustentável, dentro de um contexto maior de combate às mudanças climáticas e COP30 no Brasil.
Três anos após a primeira publicação da Fundação, este é um segundo retrato da relação dos brasileiros com o ecossistema marinho e revelou um paradoxo: apesar da crescente preocupação ambiental, existe uma inércia das pessoas em prol da causa.
Embora 87,6% dos entrevistados afirmam estar dispostos a mudar seus hábitos para atuar na conservação – um aumento de 5,4 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior –, apenas 7% da população participou de alguma prática positiva nos últimos 12 meses.
"Notamos que a conexão da sociedade com o tema está em transformação. Existe uma clara predisposição para agir de forma mais consciente, mas precisamos estimular ações práticas e disseminar mais conhecimento sobre o assunto", destacou em nota Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
A percepção pública acompanha o que a ciência tem demonstrado: a elevação do nível do mar é uma realidade que afeta tanto o ecossistema costeiro como comunidades inteiras.
Desde 1901, o nível médio do mar subiu 20 centímetros, sendo 9,4 centímetros apenas desde 1993, segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e da NASA.
Em março de 2023, dados da Organização Meteorológica Mundial apontaram que as temperaturas médias das águas oceânicas permaneceram entre 0,5ºC e 0,7ºC acima da média histórica. "É como se o oceano estivesse febril", disse Ronaldo Christofoletti, co-presidente do Grupo de Especialistas em Cultura Oceânica da UNESCO.
A fragilidade também é reconhecida pelos brasileiros: 84% dos entrevistados acreditam que todo ecossistema marítimo está sob risco.
Entre as principais ameaças citadas estão a poluição (40%), efeitos da mudança climática (22%), perda da biodiversidade e turismo irresponsável (13%) e crescimento urbano e especulação imobiliária (11%).
Metade da população também reconhece que o oceano impacta diretamente sua vida, enquanto 19% acreditam em impactos indiretos e 29% dizem não sentir qualquer influência. Os efeitos mais citados foram alimentação (20%), água (14%), qualidade de vida e bem-estar (14%), mudança climática (14%) e aquecimento global (14%).
"A comparação indica que as pessoas já conseguem identificar que o oceano gera mais conexões com o seu cotidiano. Aos poucos, percebemos um aumento na consciência sobre a importância de um mar limpo, saudável e sustentável para a nossa qualidade de vida", avalia Malu Nunes.
Por outro lado, apenas 30% das pessoas compreendem que suas ações influenciam diretamente na saúde do oceano, enquanto 44% acreditam que não há relação.
Os impactos mais mencionados causados pelas atividades humanas são o descarte de lixo (30%), poluição (29%) e questões relacionadas a embalagens, reciclagem e consumo.
A maioria dos brasileiros também entendeu a influência do oceano em eventos climáticos que ocorrem longe do litoral: 51% discordaram da afirmação de que as queimadas não tem relação com as condições dos mares, por exemplo.
Ronaldo explicou que a percepção é fundamental. "O aquecimento recorde das águas entre 2023 e 2024 agravou a seca histórica na Amazônia, aumentando focos de fogo não apenas na região, mas em todos os biomas do país. Em termos climáticos, todos os ecossistemas estão interligados", afirmou.
Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante da UNESCO no Brasil, destacou que "os dados reforçam a importância de se promover a aprendizagem e a conscientização sobre o impacto das ações humanas na saúde do oceano".