Patrocínio:
Parceiro institucional:
Em painel sobre sistemas alimentares e clima, especialistas alertam: Brasil não precisa escolher entre alimentar o mundo e proteger seus biomas. Ele pode, e deve, fazer os dois. (Leo Queiroz/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 16h58.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 17h22.
*De Nova York
O Brasil pode liderar a transformação dos sistemas alimentares globais. Essa foi a mensagem central do painel "Sistemas Alimentares e Clima", que abriu a programação do SDGs in Brazil 2025, evento promovido pelo Pacto Global da ONU, durante a Brazil Climate Week, em Nova York.
O debate reuniu especialistas para discutir um grande paradoxo: o país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo também concentra 74% de suas emissões de gases de efeito estufa na cadeia produtiva alimentar, majoritariamente oriundas da agropecuária e do desmatamento.
Participaram da conversa, Antonio Meirelles, diretor de Relações Governamentais da Mosaic; Carolina Carregaro, diretora de Assuntos Públicos da Nestlé; Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco; e Isabella Marras, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UN Environment Programme).
O consenso foi de que o país vive um momento decisivo. "A forma como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos está no centro da crise climática, mas também é a chave para a solução", afirmou Isabella Marras, contextualizando a urgência do tema.
Para ela, o Brasil tem a oportunidade inédita de demonstrar que é possível conciliar segurança alimentar e conservação ambiental.
E a COP30, que será realizada em Belém, no coração da Amazônia, foi apontada como o palco ideal para essa demonstração prática.
Nesse contexto, Marras destacou a proposta da organização da conferência para que pelo menos 30% dos alimentos servidos durante a COP venham da agricultura familiar e da sociobiodiversidade amazônica.
A medida tem potencial para injetar R$ 3,3 milhões na economia da agricultura familiar da região metropolitana de Belém, funcionando como um poderoso instrumento de reparação e construção de futuro.
A representante da ONU lembrou que as práticas dos povos historicamente marginalizados contêm muitas das soluções mais potentes e sustentáveis.
"Conhecimentos tradicionais com base em práticas agroecológicas e o manejo comunitário que protege a floresta há gerações não são apenas alternativas; são a base do novo modelo que precisamos."
Carolina Carregaro, da Nestlé, trouxe a perspectiva prática de quem atua diretamente com os produtores.
"No Brasil, nos relacionamos com 10 mil produtores parceiros. O que vemos de mais importante nesses programas no campo é a assistência técnica constante e a implementação de práticas de agricultura regenerativa", contou.
De acordo com a executiva, o setor vive um momento de maturidade que exige ir além. "Estamos num momento em que não podemos mais falar só de sustentabilidade; temos de falar de regeneração. Temos de entregar para o ecossistema mais do que a gente tirou em sistemas alimentares."
Além disso, Carregaro ressaltou a importância de mensurar o impacto real dessa transformação. "É preciso mensurar o impacto em quem realmente está transformando o sistema, quanto isso se converte em renda, por exemplo."
Do ponto de vista da governança corporativa, Luciana Nicola, do Itaú Unibanco, destacou a maturidade do arcabouço regulatório brasileiro como diferencial competitivo.
"Temos um regulador atuante, o Banco Central, que garante um sistema financeiro robusto e capaz de canalizar recursos para uma agricultura mais regenerativa, resiliente e de baixo carbono", explicou. Para a executiva, a regulação não é uma barreira, mas um guia:
"A regulação vem para trazer luz às oportunidades, mostrando como podemos canalizar recursos para uma agricultura que, bem manejada, encontra soluções mais sustentáveis".
Antonio Meirelles, da Mosaic, trouxe a perspectiva da indústria de insumos e da inovação tecnológica: "O grande desafio é universalizar as práticas e tecnologias que já permitem produzir mais, melhor e com menos emissões", disse.
Meirelles ainda defendeu a complementaridade entre conhecimento tradicional e inovação de ponta.
"As novas tecnologias, como os biológicos, vêm para aumentar a eficiência do fertilizante mineral, extrair o legado de nutrientes do solo e ajudar a planta a ser mais resiliente", explicou, reforçando que o foco deve estar no "uso correto" e no "manejo adequado" para que os benefícios alcancem escala.
O painel concluiu que a transição ecológica se materializa no cotidiano: no prato, no campo, nas feiras e nas cozinhas.
A mudança do modelo de compras públicas e o estímulo à "economia da floresta em pé" foram apontados como estratégias centrais.
"Transformar o ato de comer em um ato político é conectar produção sustentável, cultura alimentar, saúde e redução de emissões", finalizou Isabella Marras.
O recado deixado pelos especialistas é claro: o Brasil não precisa escolher entre alimentar o mundo e proteger seus biomas. Ele pode, e deve, fazer os dois.