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O laboratório funcionará como um centro de excelência em pesquisas sobre a natureza (Luciano Candisani/Reservas Votorantim/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 27 de agosto de 2025 às 05h01.
A Mata Atlântica ganhou um novo aliado tecnológico. A americana IFF, do setor de fragrâncias, sabores e ingredientes alimentícios, decidiu instalar seu primeiro laboratório de pesquisa em ingredientes naturais no bioma. O local? O Legado das Águas, reserva de 31 mil hectares administrada pela Reservas Votorantim no interior de São Paulo.
A iniciativa, anunciada nesta quarta-feira, 27, marca uma mudança na estratégia da multinacional, que tradicionalmente desenvolvia produtos em centros urbanos. Agora, botânicos, químicos e perfumistas trabalharão diretamente na floresta, cercados pelas plantas que estudam.
Charbel Bouez, vice-presidente da IFF, afirma que o trabalho de 75 anos no Brasil orienta a criação do laboratório. “O objetivo é combinar a natureza com tecnologia de ponta e entregar ingredientes naturais, rastreáveis e sustentáveis”, explica. Hoje a fabricante já conta com mais de 850 extratos utilizados pelos perfumistas, além de explorar as propriedades de mais de 130 espécies diferentes de plantas ao redor dos cinco continentes.
O objetivo é ambicioso: transformar a biodiversidade brasileira em ingredientes premium para a indústria cosmética internacional. A empresa americana terá acesso exclusivo para catalogar e pesquisar cerca de mil espécies vegetais nativas, muitas ainda pouco conhecidas pela ciência.
Legado das Águas: a reserva ambiental de 31 mil hectares na Mata Atlântica, da Votorantim (Luciano Candisani/Reservas Votorantim/Divulgação)
David Canassa, CEO da Reservas Votorantim, explica que essa proximidade ajuda a perceber os ciclos e oportunidades na reserva. “Um dos trabalhos mais importantes que fazemos é a bioprospecção, assim transformamos o potencial da floresta em negócios”, explica.
O movimento reflete uma tendência crescente no mercado de cosméticos, onde consumidores, especialmente nos países desenvolvidos, buscam produtos com propriedades exóticas e sustentáveis. O Brasil, com sua rica biodiversidade, se tornou uma fonte estratégica para essas empresas. “No final do dia, queremos ingredientes novos para criar produtos empolgantes que atendam aos objetivos dos brasileiros”, explica Bouez. Para o VP, assim, o projeto é realmente "do Brasil para o Brasil", mas aproveitando a expertise internacional da IFF.
“Estamos falando de um mercado de aproximadamente US$ 6 bilhões e que deve crescer 5,3% até 2030”, afirma Bouez sobre as oportunidades de investimento no Brasil. Nem tudo são flores, no entanto. O público-consumidor é um dos mais exigentes do mundo, demandando da companhia mais capacidade de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O papel do país dentro da indústria sul-americana é outra faca de dois gumes. “A importância que o Brasil tem na América Latina é crucial. E então, o segundo passo para nós é levar essa inspiração do Brasil para além do Brasil, mas para a América Latina e outros continentes”, disse.
Potencial do mercado brasileiro de cosméticos é de US$ 6 bilhões, puxado pelas possibilidades da biodiversidade (Luciano Candisani/Reservas Votorantim/Divulgação)
Para a Reservas Votorantim, a parceria representa a consolidação de uma aposta feita há mais de uma década. Desde 2012, a empresa investe em pesquisa científica na reserva, acumulando um dos maiores bancos de dados genéticos da Mata Atlântica.
O trabalho da companhia na inclusão das comunidades também é um ponto para o sucesso da parceria. Hoje, o principal produto do Vale do Ribeira, onde está localizado o Legado das Águas, é a banana. Por isso, aumentar a presença de espécies nativas também é um benefício para quem gera renda da biodiversidade. “Entendemos cedo que precisávamos fazer negócios com as comunidades, pesquisadores e outras empresas para dar certo”, explica Canassa.
O trabalho com comunidades locais também passa por ensinar técnicas de cultivo sustentável para plantas com potencial comercial. A ideia é criar uma cadeia produtiva que beneficie tanto as empresas quanto as populações rurais da região. Com o projeto, a companhia vai explorar o potencial das espécies em fazendas da região, aumentando a possibilidade de receita para os produtores.
. Equipes multidisciplinares analisarão plantas in loco, acelerando o processo de descoberta de novos compostos. O que antes levava meses para ser testado – com plantas enviadas para laboratórios distantes – poderá ser feito em dias.
“Estamos provando que é possível fazer bons negócios, negócios sustentáveis, incluindo as comunidades e todos os objetivos que temos nas COPs para resolver muitos dos problemas que temos no mundo”, explica Canassa.