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O fórum acontece de 3 a 5 de novembro no Complexo MAM e Vivo Rio, com público estimado de até 2.500 pessoas por dia (MAM / Divulgação )
Repórter de ESG
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 18h00.
Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 18h46.
Treze anos separam duas cúpulas no Rio de Janeiro que contam a história de uma reviravolta na diplomacia climática global. Em 2012, Mike Bloomberg se juntou ao prefeito Eduardo Paes para liderar uma delegação de prefeitos na Cúpula da Terra.
"Naquela época, a mudança climática era vista como um problema para os governos nacionais resolverem sozinhos, através de sacrifício", relembrou Bloomberg em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 29.
Agora, ele vislumbra um outro olhar dos prefeitos frente aos desafios planetários. "Em vez de sacrifício, vemos oportunidade. Entendemos que cortar emissões caminha de mãos dadas com crescimento econômico", destacou.
De 3 a 5 de novembro de 2024, a capital carioca será berço do Fórum de Líderes Locais, evento que antecede a COP30 organizado pela presidência brasileira e pela Bloomberg Philanthropies que deve reunir centenas de prefeitos, governadores e líderes subnacionais para destacar soluções climáticas a nível local.
A aposta de Mike é provar que a 'semente plantada' em 2012 não apenas deu certo, mas superou todas as expectativas.
"A liderança local se soma ao progresso global. E quanto mais as nações olharem para os líderes como parceiros, mais rápido avançaremos", complementou.
Para Sadiq Khan, Prefeito de Londres e Copresidente da C40, a discussão sob a perspectiva das cidades é essencial pois a "pressão pode levar governos nacionais a serem muito mais ousados e muito mais corajosos".
Mas o protagonismo local não consegue resolver o problema sozinho. Uma pesquisa do WRI revela que dois terços delas são dependentes da colaboração com o governo nacional. "
"Não estamos falando sobre nova legislação ou tecnologias. É sobre a parceria entre autoridades nacionais e locais", reforçou Van den Berg.
O Brasil abraçou o mote do "mutirão" como estratégia central para a grande conferência do clima da ONU em Belém do Pará.
"Se queremos uma COP da implementação, precisamos trabalhar com aqueles que estão na linha de frente", reiterou Ana.
Para a executiva brasileira, os líderes locais "estão dando exemplo tanto em mitigação quanto em adaptação" e nunca tiveram a oportunidade tão única "de mostrar toda a inovação e soluções que têm liderado".
As cidades venceram a corrida que os "países parecem perder", ressaltaram autoridades durante a coletiva.
Os números reforçam a ideia: as quase 100 cidades da rede C40 estão reduzindo emissões per capita cinco vezes mais rápido que o resto do mundo.
"Por muito tempo, as negociações climáticas avançaram no ritmo do membro mais lento. A boa notícia é que o Fórum no Rio será uma oportunidade histórica para prefeitos tomarem uma posição diante do atraso e do desespero", afirmou Sadiq Khan, Prefeito de Londres e Copresidente da C40.
A Cúpula Mundial de Prefeitos da C40 acontece na abertura do Fórum, em 3 de novembro, e celebra os 20 anos da rede e as próximas prioridades globais.
A explicação para a velocidade local é estrutural. Rogier van den Berg, Diretor Global do WRI Ross Center for Sustainable Cities, acrescentou que as cidades são muito mais ágeis em entregar grandes mudanças na vida das pessoas e espalhá-las como modelo para todo país.
Mas há um problema crítico que impede a liderança de escalar: o dinheiro simplesmente não chega às mãos de quem está entregando resultados.
"Conhecemos as dificuldades de acesso ao financiamento climático, especialmente para muitos líderes locais no sul, porque muitas vezes o recurso precisa passar pelos governos nacionais", alertou Ana Toni, CEO da COP30, expondo o nó burocrático que atravanca a ação climática mais eficiente.
O paradoxo expõe o gargalo: as cidades que lideram a corrida climática dependem de governos que caminham em 'ritmo mais lento' para acessar os recursos.
E sem esse acesso direto, a capacidade de expandir as soluções que já funcionam fica comprometida. "Caso contrário, não será possível escalar as ações que já estão em curso", frisou a CEO da COP30.
Desbloquear esse financiamento será o foco central do Fórum no Rio.
A promessa é que a COP30 será "muito mais granular sobre instrumentos econômicos específicos" que permitam aos líderes locais acessar recursos de bancos multilaterais, fundos climáticos e financiadores bilaterais sem intermediários.
Segundo Ana Toni, a ideia é amadurecer os instrumentos financeiros e reunir sugestões dos próprios líderes.
Khan trouxe o exemplo de sua própria cidade, Londres: quando concorreu pela primeira vez a prefeito, o disseram que levaria 200 anos para alcançar a poluição do ar dentro dos limites legais. No entanto, conseguiu o feito em nove anos e a cidade se tornou a maior zona de ar limpo do mundo.
"Transformamos uma crise de mudança climática em oportunidades. E em nossas respectivas cidades, estamos construindo ambientes mais justos, verdes e prósperos", exemplificou o prefeito.
A organização de Van den Berg trabalha com projetos como a implantação de 10 mil ônibus elétricos em 169 cidades indianas, o desenvolvimento de mercado de veículos elétricos para motocicletas no Quênia, e o programa brasileiro Periferia Viva, de US$ 1 bilhão, que urbaniza assentamentos informais em 48 cidades e 28 estados.
"Para nós, isso é muito importante porque essas histórias não são sucessos isolados, e ouvimos isso de nossos parceiros. São modelos para o tipo de mudança que precisamos em escala no mundo", exemplificou.
Em Nova York, Mike Bloomberg também celebrou o corte de 13% nas emissões em três anos com níveis recordes de empregos e aumento da expectativa de vida em três anos. A fórmula?
"Energia limpa cria empregos, mas também ar limpo atrai investimento privado. As pessoas querem viver onde podem respirar livremente e as empresas querem investir", comentou.
Nate Hultman, do Center for Global Sustainability da University of Maryland, apresentou pesquisas demonstrando que a união dessas ações importa para o desenvolvimento de caminhos bem-sucedidos de implementação. "Importa tanto para as pessoas que vivem nessas áreas como para apoiar resultados nacionais e para os objetivos climáticos globais compartilhados."
Uma iniciativa global está mudando o jogo: a Coalition for High Ambition Multi-Level Partnership (CHAMP), lançada em 2023 especificamente para facilitar a colaboração entre governos nacionais e subnacionais na ação climática.
A coalizão já conta com 77 países que representam 65% do PIB global, 37% das emissões globais e 35% da população mundial.
Os resultados já aparecem: análises da coalizão mostram que os membros representam 50% de todas as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e que "no geral, a maioria dos compromissos climáticos se desenvolvem de forma mais consultiva com cidades e governos subnacionais".
A Colômbia exemplifica a nova abordagem: sua NDC coloca "metas subnacionais reais", como 600 mil veículos elétricos nas estradas até 2030 e modernização da frota de transporte público com tecnologias limpas.
"É ótimo ver que o Brasil também está liderando o caminho ao demonstrar como a governança multinível e a mobilização coletiva podem acelerar a entrega das metas climáticas", destacou Van den Berg.
Às vésperas da COP30, 64 novas NDCs foram submetidas e representam cerca de um terço das emissões globais.
Um relatório da ONU divulgado na terça-feira, 28, analisou as novas metas e concluiu que há uma convergência entre ação climática nacional, metas de neutralidade de carbono de longo prazo e caminhos acelerados para o desenvolvimento sustentável. No quebra-cabeça do clima, ainda faltam peças relevantes como a de países da União Europeia.
O momento é emblemático frente aos desafios que a própria agenda climática pretende endereçar: desigualdade, violência urbana, acesso a serviços básicos e a busca por cidades mais justas e sustentáveis.
Entre 1º e 7 de novembro, o Rio receberá mais de 50 eventos que antecedem a COP30, incluindo o Fórum de Líderes Locais e a entrega do prêmio ambiental Earthshot Prize fundado pelo Príncipe William, tudo isso a poucos dias após a operação policial mais letal da sua história e que já deixa mais de 121 mortos.
O prefeito Eduardo Paes era um dos confirmados na coletiva desta manhã, mas não compareceu devido a agenda conturbada.
++ Leia mais: Eventos pré-COP30 no Rio podem ser impactados?
A prefeitura mobilizou mais de 600 agentes da Guarda Municipal, 35 viaturas e 400 garis para garantir a segurança e limpeza durante os eventos, com desvios no trânsito e interdições momentâneas no Centro e na Zona Portuária.
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, reconheceu em evento em Paris que o crime organizado é "um desafio enorme" tanto no Rio quanto na Amazônia, onde a cúpula será realizada em Belém.
No entanto, o embaixador afirmou que "uma das grandes forças do Brasil é sempre ser transparente" sobre a dimensão de seus problemas, e que o presidente Lula "está muito consciente disso".
Para Corrêa do Lago, a transparência brasileira demonstra força, não fraqueza, e não prejudicará a imagem do país às vésperas da COP30.
O Fórum incluirá uma cerimônia de premiação do Local Leaders Climate Awards 2025 em 4 de novembro, celebrando projetos que lideram a transição climática nas cidades. O Rio de Janeiro é um dos 26 finalistas, com uma política de enfrentamento do calor extremo.
Em 5 de novembro acontece a Cúpula de Ação Climática Local para marcar uma década de avanços desde o Acordo de Paris e traçar metas para os próximos dez anos de ação climática.
Os resultados e demandas dos líderes locais seguirão para Belém, onde será um entregue um documento que se configura como componente central da COP30.
"É somente unindo nossas forças do local ao global que seremos capazes de lidar com a mudança climática", concluiu Ana Toni.
Para Nate Hultman, o efeito agregado de aprimorar políticas em níveis subnacionais e nacionais é particularmente potencializador neste momento da COP30: "Seja para encorajar a aceleração dessas ações ou nos ajudar a seguir em direção às metas do Acordo de Paris de manter o aquecimento abaixo de 2 Cº", complementou.
Os líderes são unânimes: não é mais sobre se as cidades podem liderar e sim sobre se os países finalmente vão destravar o financiamento para que as soluções avancem na velocidade que o planeta precisa.