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As operações dos edifícios (aquecimento, resfriamento, iluminação, etc) respondem por 30% do consumo final de energia no mundo e por 26% das emissões globais (Luísa Melo/EXAME.com)
Redação Exame
Publicado em 6 de julho de 2025 às 16h00.
Última atualização em 6 de julho de 2025 às 16h12.
*Por Thais Scharfenberg e Victor Del Vecchio
A construção civil é estratégica para o desenvolvimento sustentável global, especialmente diante dos desafios energéticos e climáticos.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), as operações dos edifícios (aquecimento, resfriamento, iluminação, etc) respondem por 30% do consumo final de energia no mundo e por 26% das emissões globais relacionadas à energia — sendo 8% emissões diretas e 18% indiretas, associadas à eletricidade e ao calor utilizados nas edificações.
No Brasil, o setor é responsável por quase 50% do consumo de energia elétrica, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Diante desse cenário, o avanço de políticas públicas que estabeleçam parâmetros mínimos de eficiência energética, como os que vêm sendo discutidos pelo Ministério de Minas e Energia, é fundamental para transformar o setor em um motor de inovação, competitividade e sustentabilidade.
Muitas pessoas, ao comprarem eletrodomésticos como uma geladeira, já observam a etiqueta colada na porta para saber se o aparelho é eficiente ou um vilão no consumo de energia.
E se essa lógica pudesse ser aplicada aos imóveis? A etiquetagem energética de edificações é uma medida simples, mas transformadora — e está em consulta pública neste momento.
Acessível e abrangente, ela serve tanto ao consumidor que busca um imóvel para morar quanto aos gestores de grandes empreendimentos, que avaliam produtos, equipamentos e sistemas prediais com base em critérios de eficiência e emissões.
Mais do que uma exigência regulatória, a etiqueta representa um avanço estratégico. Ela aproxima o Brasil das boas práticas internacionais, e também beneficia diretamente o cidadão, ao oferecer informações claras para escolhas mais inteligentes — que se traduzem em economia na conta de luz, menor taxa condominial e conforto térmico superior.
Além disso, ela estabelece patamares mínimos de eficiência energética, funcionando como uma referência comum para toda a cadeia produtiva. Como ferramenta de educação ambiental, torna visível o que antes era técnico e abstrato, ativando uma mudança cultural na forma como projetamos, compramos e usamos edifícios.
A etiquetagem é uma alavanca para inovação em arquitetura, engenharia e construção. Projetistas são incentivados a aplicar estratégias bioclimáticas e soluções baseadas na natureza, como coberturas verdes, fachadas ventiladas, brises, ventilação cruzada, uso de materiais de alto desempenho e aproveitamento da iluminação natural.
Também passam a considerar fatores como a trajetória solar e ventos predominantes ao orientar a implantação do edifício. Tecnologias de climatização eficiente, aquecimento solar de água e geração de energia fotovoltaica complementam esse ecossistema. Nesse sentido, a etiqueta funciona como um guia técnico para melhores práticas e também como ferramenta de diferenciação no mercado.
Na prática, ela movimenta toda a cadeia produtiva: fornecedores de materiais, empresas de engenharia, soluções digitais e consultorias ambientais.
Estabelecer critérios claros de eficiência energética em edificações fortalece a posição do Brasil no cenário internacional da construção sustentável.
Além de contribuir diretamente para Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — como o ODS 7 (energia limpa), ODS 9 (indústria, inovação e infraestrutura), ODS 11 (cidades sustentáveis), ODS 12 (consumo e produção responsáveis) e ODS 13 (mudanças climáticas) —, a medida fortalece os compromissos climáticos do país, ampliando sua credibilidade e influência internacional em um momento estratégico: às vésperas COP30, que será sediada em Belém, em novembro de 2025.
Desde a COP21, com a criação da Aliança Global para Construção (GlobalABC) — apoiada pelo PNUMA —, o setor vem ganhando força como eixo de inovação, financiamento e políticas públicas.
A aliança terá um pavilhão exclusivo na COP30, reforçando a centralidade da construção na agenda climática internacional.
Ao incentivar projetos mais eficientes, confortáveis e com menor impacto ambiental, a etiquetagem não apenas informa — ela transforma. Está em jogo uma nova lógica de construção, em que a qualidade está associada à sustentabilidade e à inteligência no uso dos recursos.
Ainda em processo de regulamentação, essa medida representa um avanço estratégico para o setor e pode influenciar de forma decisiva o futuro das cidades, da economia e do clima no Brasil.
*Thais Scharfenberg é internacionalista e especialista em adaptação climática, consultora de ESG e ODS e Victor Del Vecchio é advogado e mestre pela USP, consultor em ESG e Sustentabilidade