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Polvos: invasão de espécie é causada pelo aumento da temperatura dos oceanos. (Freepik)
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Publicado em 30 de maio de 2025 às 10h56.
Última atualização em 30 de maio de 2025 às 12h07.
Uma 'invasão' de polvos no Canal da Mancha surpreendeu alguns pescadores britânicos nesta temporada. Embora lucrativo aos trabalhadores, o caso está acendendo um alerta sobre os impactos do aquecimento dos oceanos, segundo reportagem da Bloomberg.
As temperaturas na superfície do mar próximo ao Reino Unido atingiram níveis recordes em maio. Segundo o Met Office, órgão meteorológico britânico, as águas na costa do país marcaram até 2,5ºC mais quentes que o normal, enquanto a costa oeste da Irlanda registrou um aumento de 4ºC.
De acordo com o climatologista Paul Moore, do Met Éireann, o aquecimento foi provocado por sistemas de alta pressão que impediram a chegada de ventos frios e limitaram a circulação de correntes mais geladas.
Em consequência do mar mais quente, os polvos encontraram condições ideais para a reprodução e passaram a se 'multiplicar’. E a pesca desses animais cresceu de maneira expressiva.
Em entrevista à Bloomberg, o empresário Neil Watson, que trabalha com o mercado de peixes em Brixham, contou que seus barcos descarregaram 48 toneladas de polvo em apenas um dia. O volume foi 240 vezes maior que no mesmo período no ano passado.
Embora o aumento na pesca de polvos esteja gerando bons resultados financeiros para empresas como a Brixham Trawling Agents, que exporta para grandes compradores europeus, há preocupações crescentes sobre os impactos de longo prazo.
Segundo o cientista Georg Engelhard, do Centro de Ciência do Meio Ambiente, Pesca e Aquicultura (Cefas), mares mais quentes favorecem a reprodução dos polvos, mas afetam negativamente outras espécies. O bacalhau, por exemplo, sofre com a mudança.
Engelhard explica que a base da cadeia alimentar está mudando e o plâncton também está sendo afetado. “Estamos vendo algo sem precedentes”, afirmou.
As previsões indicam o retorno de sistemas de alta pressão no verão, fenômeno que já provocou secas, recordes de calor em terra e até queda na geração de energia eólica.
Somados ao aquecimento global, que eleva gradualmente as temperaturas dos oceanos, esses eventos agravam as ondas de calor marinhas.
As consequências deste cenário vão além do equilíbrio entre espécies. As ondas de calor nos oceanos podem causar proliferação de algas nocivas, que consomem o oxigênio da água e criam zonas mortas, levando à morte em massa de peixes.
Também aumentam os níveis de toxinas e patógenos, com riscos à saúde humana. “Isso pode impactar o turismo em praias e afetar alimentos como ostras e mexilhões, que muitos consomem”, concluiu Engelhard.