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Solução: cortar o metano é uma das maneiras de melhor custo-benefício para desacelerar o aquecimento global nesta década (Helder Faria/Getty Images)
Jornalista
Publicado em 6 de novembro de 2025 às 07h33.
O enviado especial da ONU para Ambição e Soluções Climáticas, Michael Bloomberg, anunciou um investimento de US$ 100 milhões para impulsionar ações globais de redução das emissões de metano, um dos gases de efeito estufa (GEE) mais potentes e responsáveis por acelerar o aquecimento do planeta.
A iniciativa da Bloomberg Philanthropies busca apoiar governos e empresas para dar celeridade a soluções que contenham os danos ao planeta. O metano tem mais de 80 vezes o poder de aquecimento do dióxido de carbono (CO₂). Cortar suas emissões é apontado por cientistas e organizações ambientais como uma das estratégias mais eficazes e de menor custo para estancar o avanço das mudanças climáticas nesta década.
“Sabemos como medir o metano e como interrompê-lo. O que falta agora é a infraestrutura para fazer isso em todo o mundo”, afirmou Bloomberg. “Cortar o metano é uma das maneiras mais poderosas e de melhor custo-benefício para desacelerar o aquecimento global nesta década.”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o metano como “um dos gases que mais aprisionam calor” e alertou que cortes drásticos nesta década são essenciais para manter a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. “Temos as tecnologias. O que precisamos agora é de máxima ambição, aceleração e cooperação”, afirmou.
Já o presidente da França, Emmanuel Macron, destacou que o combate ao metano é “a frente decisiva” na luta contra a crise climática. Ele defendeu a criação de uma aliança global dedicada à ação sobre o metano e disse que a França está pronta para cooperar com a Bloomberg Philanthropies.
O novo aporte amplia a atuação da fundação no tema e vai financiar a expansão do monitoramento por satélite, o fortalecimento de políticas públicas em nove países — incluindo Austrália, Indonésia, México e Nigéria — e em nove estados dos EUA, como Califórnia, Texas e Novo México.
Os recursos também serão usados para criar redes de ação rápida, chamadas Methane Response Basecamps (MRBs), que pretendem transformar a detecção de superemissores de metano em respostas imediatas, conectando dados de satélite a decisões políticas e reparos técnicos.
Para a vice-presidente da Comissão Europeia, Teresa Ribera, a cooperação internacional é essencial. “Reduzir o metano é uma das formas mais eficazes de obter resultados climáticos de curto prazo e melhorar a qualidade do ar”, afirmou.
A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, lembrou que o Brasil já utiliza monitoramento por satélite para proteger a Amazônia. A mesma tecnologia pode ser aplicada à redução de emissões. “Às vésperas da COP30, este é o tipo de iniciativa que precisamos”, disse.
Segundo estimativas citadas pela Bloomberg Philanthropies, reduzir as emissões globais de metano em 30% até 2030 teria o mesmo efeito climático que eliminar 10 gigatoneladas de CO₂ — equivalente ao fechamento de mais de 2 mil usinas a carvão. A medida também evitaria centenas de milhares de mortes prematuras e internações por doenças respiratórias causadas pela poluição do ar.
Desde 2019, a Bloomberg Philanthropies já destinou US$ 172 milhões para projetos de mitigação de metano. Entre os parceiros estão Carbon Mapper, Global Methane Hub, Agência Internacional de Energia (IEA) e o Observatório Internacional de Emissões de Metano (IMEO) da ONU.
O primeiro satélite dedicado à detecção de superemissores, lançado em 2024 com apoio da fundação, já identificou mais de 6 mil plumas de metano em todo o mundo. Nos Estados Unidos, a tecnologia tem ajudado a reparar vazamentos em estados como Texas e Califórnia, evitando emissões equivalentes às de centenas de milhares de carros a gasolina.
“Cortar o metano é como puxar o freio de emergência das mudanças climáticas. Mas não podemos fazer isso sem todas as mãos no freio”, afirmou Marcelo Mena, CEO do Global Methane Hub. “Menos de 2% do financiamento climático global é voltado ao metano. Por isso, investimentos como este são cruciais.”
Dados divulgados em agosto passado pelo Observatório do Clima apontam que as emissões de metano brasileiras aumentaram 6% entre 2020 e 2023, ano em que o Brasil atingiu o segundo maior nível de CH4 lançado na atmosfera – 21,1 milhões de toneladas.
A origem está no pasto. Isso porque a maior parcela do metano emitido aqui vem da fermentação entérica (o “arroto” do boi), com 14,5 milhões de toneladas, o equivalente a 406 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2023. O volume representa mais do que todos os GEE emitidos pela Itália no mesmo ano.
O metano, explicou o Observatório do Clima, é um gás de efeito estufa que pode aquecer o planeta muito mais do que o gás carbônico (CO2). O Brasil é o quinto maior emissor de CH4 do mundo, atrás de China, Estados Unidos, Índia e Rússia.
O país é, desde novembro de 2021, signatário do Compromisso Global do Metano. No acordo, assinado durante a COP26, em Glasgow, mais de 150 países assumiram o compromisso de reduzir em 30% as emissões globais do metano até 2030, em relação aos níveis de 2020.
Ainda segundo o Observatório do Clima, historicamente, o agro é o setor brasileiro que mais emite metano. Em 2023, respondeu por 75,6% das emissões. Foram 15,7 milhões de toneladas, com 98% originadas na pecuária.
Já o setor de resíduos é o segundo mais poluente em metano no Brasil, com 3,1 Mt emitidas em 2023. A principal fonte são os dejetos orgânicos que vão parar em aterros sanitários e lixões. Na terceira posição está o setor de mudanças de uso da terra e florestas (1,33 Mt), com destaque para as queimadas.