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Investir na proteção de crianças e adolescentes: agenda que não pode esperar

"A letalidade é a consequência mais extrema, mas a violência armada tem impactos menos visíveis e igualmente cruéis na juventude", afirma o chefe de Governança Local do UNICEF

Group Of Multi-Cultural Children Friends Linking Arms Looking Down Into Camera (	monkeybusinessimages/Getty Images)

Group Of Multi-Cultural Children Friends Linking Arms Looking Down Into Camera ( monkeybusinessimages/Getty Images)

Unicef
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Colunista

Publicado em 27 de novembro de 2025 às 12h00.

Por Paulo Moraes*

No mês passado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançou a segunda edição da Agenda Cidade UNICEF (2025-2028), sua principal iniciativa dedicada a proteger crianças e adolescentes em territórios vulneráveis de grandes centros urbanos do país onde mantém presença física: Belém, Fortaleza, Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e São Paulo. Juntas, essas grandes cidades abrigam mais de 7 milhões de crianças e adolescentes.

A violência contra crianças e adolescentes é um desafio alarmante, que se conecta profundamente com questões de raça, gênero, acesso a serviços públicos e desigualdades sociais. Episódios de violência armada, em especial, como o que aconteceu no Rio de Janeiro há um mês, escancaram as lacunas de um modelo de segurança pública não protetivo que vitimiza crianças e adolescentes e não endereça adequadamente o controle territorial armado e suas consequências.

Para o setor privado que busca ambientes operacionais estáveis e uma segurança social robusta, a instabilidade gerada pela violência armada representa um custo menos visível, mas crescente que compromete o futuro capital humano do país, ou seja, milhares de meninas e meninos.

Os impactos da violência armada na saúde e educação

Nos últimos três anos, mais de 15 mil crianças e adolescentes foram mortos de forma violenta no Brasil. A letalidade é a consequência mais extrema, mas a violência armada tem impactos menos visíveis e igualmente cruéis, atuando como um determinante social que sabota os direitos básicos e as oportunidades econômicas. Os dados apresentados em estudos do UNICEF e parceiros que embasam a Agenda revelam a urgência da crise:

  1. Saúde e imunização em colapso: em territórios onde a violência armada é frequente, a política de segurança pública tem imposto barreiras significativas de acesso à saúde. A violência armada, motivada por operações policiais e confrontos, interrompe diretamente o funcionamento das unidades de saúde. O Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, por exemplo, viu a média de crianças vacinadas por dia cair mais de 90% nos dias de operação policial em 2024. O atraso vacinal fragiliza o tecido protetivo da comunidade, comprometendo a imunidade de rebanho, essencial em áreas densamente povoadas e com desafios de saneamento.
  2. Menos aprendizado, maior evasão escolar: a violência armada crônica (o controle territorial armado) e a violência aguda (tiroteios) têm efeitos persistentes e cumulativos no direito à educação. Estudantes em áreas sob controle armado (como é o caso de 48% dos alunos do Grande Rio) apresentam desempenho sistematicamente inferior, chegando a ter o equivalente a 6 meses a menos de aprendizagem por ano. A taxa de abandono escolar no Ensino Médio também é maior em áreas controladas do que em áreas não controladas e confrontos relacionados a ações policiais têm um impacto ainda mais forte na evasão.

Soluções inteligentes e governança compartilhada

A Agenda Cidade UNICEF (2025-2028) tem como princípio ações intersetoriais para apoiar a integração de políticas públicas e uma governança compartilhada e baseada em evidências. Isso significa integrar, de forma inteligente, áreas como segurança, justiça, saúde, educação e assistência social de modo que a atuação de uma política não inviabilize o funcionamento da outra, especialmente em territórios onde cada interrupção custa anos de desenvolvimento humano.

Esse modelo integrado inclui a criação e o fortalecimento de instâncias de coordenação capazes de compartilhar dados, mapear riscos, antecipar interrupções de serviços e alinhar respostas entre níveis municipal, estadual e federal. Sem esse alinhamento, ações de segurança pública, ainda que bem-intencionadas, continuam a produzir efeitos colaterais severos sobre a saúde, a aprendizagem e a mobilidade de milhares de crianças.

A intersetorialidade na prática

Falar em ações intersetoriais pode, por vezes, parecer abstrato. Mas há muitos exemplos de como estamos trabalhando dessa forma ao longo dos anos. Um deles é o eixo de inclusão produtiva, presente na metodologia da Agenda Cidade UNICEF. Esse modelo integrado também se reflete em iniciativas que o UNICEF vem implementando como o “1 Milhão de Oportunidades (1MiO)”, que no primeiro ciclo da Agenda engajou quase 11 mil jovens nas cidades participantes, preenchendo 76% das vagas ofertadas.'

Entendemos que a geração de oportunidades é, ao mesmo tempo, uma política de segurança pública e um investimento direto no futuro da força de trabalho do país. Quando um adolescente ou jovem consegue acessar um curso, um estágio ou o primeiro emprego, reduz-se drasticamente a probabilidade de sua entrada em redes ilícitas, abrindo espaço para que contribua de forma produtiva e positiva para comunidade e para a economia local.

O foco renovado em proteção contra as violências da nova edição da Agenda Cidade UNICEF, que já conta com parcerias estratégicas como o Grupo Profarma, representa um convite ao setor privado: o enfrentamento da violência armada também significa incluir adolescentes e jovens garantindo não apenas a proteção de uma geração, mas a resiliência e a competitividade do Brasil no longo prazo.

Mercados dependem de previsibilidade e talentos. Territórios onde escolas fecham regularmente, postos de saúde param de funcionar e meninas e meninos têm suas trajetórias interrompidas. São territórios onde nenhum investimento pode prosperar. Territórios onde adolescentes e jovens estudam, trabalham, empreendem e circulam com segurança, por outro lado, são lugares onde o setor privado encontra talento, inovação e estabilidade. A inclusão produtiva deve ser, portanto, um indicador de segurança e competitividade.

A Agenda Cidade UNICEF mostra que há caminhos possíveis, sustentáveis e comprovados. O que precisamos agora é ampliar a coalizão: governos, empresas e sociedade civil atuando lado a lado, com estratégia e compromisso, para que nossas cidades sejam lugares onde crianças e adolescentes possam crescer, se desenvolver e contribuir para o futuro do país.

*Paulo Moraes é Chefe de Governança Local do UNICEF Brasil

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