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Lixo ou riqueza? O potencial estratégico dos resíduos no Brasil

Transformar o lixo em riqueza estratégica é mais do que uma necessidade ambiental: é uma oportunidade histórica para o Brasil reinventar seu modelo de desenvolvimento

Apenas 4,5% dos resíduos são efetivamente reciclados no Brasil, enquanto 33,6% têm potencial para reciclagem (Freepik)

Apenas 4,5% dos resíduos são efetivamente reciclados no Brasil, enquanto 33,6% têm potencial para reciclagem (Freepik)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 10 de agosto de 2025 às 16h00.

O Brasil produz cerca de 81 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano. Isso equivale a uma média diária de 1,1 kg de lixo por habitante, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

Apesar desse volume impressionante, apenas 4,5% dos resíduos são efetivamente reciclados, enquanto 33,6% têm potencial para reciclagem. O resultado? Um desperdício econômico estimado em R$ 14 bilhões anuais e um desafio ambiental e social de proporções gigantescas, que exige reflexão urgente.

Transformar o lixo em riqueza estratégica é mais do que uma necessidade ambiental: é uma oportunidade histórica para o Brasil reinventar seu modelo de desenvolvimento. Não se trata apenas de descartar resíduos, mas de enxergá-los como recurso capaz de impulsionar inovação, gerar empregos e criar oportunidades econômicas robustas.

Trata-se, também, de promover dignidade a um público historicamente invisível: os catadores e trabalhadores da cadeia informal de reciclagem, que somam mais de 386 mil pessoas e que, muitas vezes, sustentam suas famílias com o que outros descartam.

O conceito de economia circular é o alicerce dessa transformação. Ele propõe reintegrar resíduos à cadeia produtiva como matérias-primas, reduzindo a extração de recursos naturais e a geração de novos resíduos.

Países como Alemanha, que recicla 67% de seus resíduos, e vizinhos latino-americanos como Chile e Argentina, com taxas acima de 16%, provam que é possível ir muito além dos modestos 4,5% do Brasil.

Esses exemplos internacionais mostram que o potencial do país é gigantesco, e que a mudança depende, sobretudo, de vontade política, investimento em infraestrutura e mobilização social.

Cada aumento de 1% na taxa de reciclagem pode criar cerca de 9.315 empregos diretos.

Em um cenário otimista, até 244 mil novos postos de trabalho podem surgir até 2040, com impacto adicional de R$ 10 bilhões anuais na economia.

A cadeia da reciclagem pode se consolidar como motor de inovação tecnológica, desenvolvendo processos mais eficientes e produtos de maior valor agregado, posicionando o Brasil como protagonista em tecnologias sustentáveis.

Do ponto de vista ambiental, o Brasil ocupa a 8ª posição entre os maiores poluidores plásticos do mundo, descartando cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos anualmente, o equivalente a 8% do total global.

A poluição plástica é considerada a segunda maior ameaça ambiental do planeta pela ONU. Substituir plásticos descartáveis por alternativas sustentáveis pode evitar a geração de 3,2 milhões de toneladas de resíduos plásticos entre 2025 e 2040, evitar a emissão de 18 milhões de toneladas de CO₂ e gerar R$ 6 bilhões em valor de mercado.

Apesar de avanços, como o crescimento de 46% na reciclagem de plásticos desde 2018, a infraestrutura para coleta seletiva ainda é restrita, presente em apenas 32 a 38% dos municípios brasileiros.

A coleta domiciliar regular atinge 93,4% da população, mas a baixa adesão à separação na fonte compromete a eficiência do sistema.

Conscientizar a população é essencial para transformar esse cenário. A educação ambiental e campanhas de comunicação precisam ser prioridade para que o cidadão entenda seu papel ativo nessa cadeia.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece a meta de reciclar 20% dos resíduos até o final de 2025, mas essa meta ainda parece distante. Alcançá-la exige fortalecer a responsabilidade compartilhada entre governos, empresas e cidadãos.

O papel das empresas é decisivo: ESG não é um fim, mas o meio para promover valor econômico, social e ambiental. Organizações que ignorarem ganhos ambientais e sociais estarão rapidamente fora do mercado.

Enxergar o lixo como valor estratégico é repensar a governança e integrar o ESG de forma transversal, como parte da solução.

Mais do que uma mudança técnica, trata-se de uma revolução cultural que transforma a relação com recursos, consumo e inclusão social. Reconhecer o lixo como ativo estratégico abre caminho para novos modelos de negócio, maior justiça social e um desenvolvimento econômico mais resiliente e sustentável.

É a chance concreta de promover crescimento equilibrado e distribuir melhor os benefícios da economia verde.

Transformar resíduos em riqueza é o passo essencial para o futuro do Brasil. O momento é agora. A oportunidade é única.

Se o país conseguir unir esforços, investir em inovação, infraestrutura e educação, poderá não apenas reduzir seus impactos ambientais, mas também criar uma economia mais justa, inclusiva e próspera para as próximas gerações.

* Felipe Nassar Cury é head de Pós-consumo da Ambipar

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