ESG

Patrocínio:

espro_fa64bd

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Motiva cria 5 mil planos para adaptar trilhos, rodovias e aeroportos às mudanças do clima

Companhia de mobilidade urbana avaliou como seus ativos sofrerão com as ondas de calor, tempestades e outros eventos extremos — e o impacto financeiro entre agir e a inação; plano agora parte para a melhoria dos ativos

Motiva (ex-CCR): destaque na categoria Transporte e Logística (Divulgação/Divulgação)

Motiva (ex-CCR): destaque na categoria Transporte e Logística (Divulgação/Divulgação)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 24 de setembro de 2025 às 06h00.

Desde 2023, a companhia de mobilidade e infraestrutura urbana Motiva (ex-CCR) vem estudando o impacto das mudanças do clima para suas rodovias, trilhos e aeroportos de concessão.

Hoje, a empresa anuncia em primeira mão para a EXAME que mapeou os riscos em todos os seus ativos com riscos significativos, meta estipulada até o final deste ano. Assim, a companhia soma cerca de 5 mil planos de adaptação climática em todas as suas áreas de operação.

Para o desenvolvimento dos planos foram utilizados dois cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), estipulando entre 3 °C e 7 °C de alta nas temperaturas em um horizonte até 2050, e os possíveis impactos ambientais gerados com essa mudança: ondas de calor, seca, incêndios florestais, deslizamentos, ventos fortes, inundações e tempestades.

A próxima etapa era identificar entre os mais de 4 mil quilômetros de rodovias, 120 estações de trens, metrôs e VLT, e dos 17 terminais aeroportuários quais as áreas mais críticas quanto aos riscos do clima.

Outro fator essencial se soma a esse processo: estimar o impacto financeiro da ocorrência dos eventos climáticos, considerando danos à infraestrutura, interrupção da operação e atraso nas obras. O valor de não agir pela mitigação também foi medido pela companhia. Em 2024, o vice-presidente de sustentabilidade da Motiva, Petro Sutter, afirmou à EXAME que o custo de inação chegava a ser cinco vezes maior do que atuar adaptar as infraestruturas.

"Identificamos e precificamos os riscos. Depois, era a hora de entendermos o que cada risco pode trazer de impacto no resultado financeiro, quanto gera de dano e quanto vou gastar se escolher não agir, como o prejuízo por trechos interrompidos a perda da receita gerada", explica Juliana Silva, diretora de sustentabilidade da Motiva, que conversou com a EXAME.

A partir desse mapeamento, a Motiva identificou que tempestades estão entre as principais ameaças climáticas para todos os seus negócios. Em rodovias, outras duas ameaças críticas são inundações fluviais e deslizamentos de terras. Nos aeroportos e trilhos, também surgem as ondas de calor como risco significativo.

Planos estruturados por categoria de negócio

O resultado foi a elaboração de 4.860 planos de adaptação climática distribuídos estrategicamente: 4.020 para as concessionárias rodoviárias, 657 para trens, metrôs e VLT, e 182 para o segmento aeroportuário. As medidas foram categorizadas como preventivas, de mitigação e respostas à emergência.

"Em trilhos, sabemos que trechos são mais expostos ao ambiente têm incidência de raios solares. Uma das coisas que fizemos foi aplicar uma tinta branca na parte metálica dos trilhos para refletir o sol e evitar danos de dilatação e descarrilhamento", exemplifica Silva sobre as soluções práticas desenvolvidas.

Motiva, ex-CCR, lança maior programa privado de fomento à educação ambiental do Brasil

Entre as demais medidas previstas estão o reforço em drenagem para mitigar inundações, monitoramento de propriedades físicas de ativos em ondas de calor, adequações em aeroportos para enfrentar chuvas intensas, adaptação dos padrões de construção, aumento da frequência de manutenção de sistemas de drenagem e incorporação de áreas verdes nas áreas dos aeroportos.

Estratégia de duas frentes

A estratégia de resiliência climática da Motiva foi uma das pioneiras no setor de infraestrutura de mobilidade e está organizada em duas frentes complementares. A primeira, mais estratégica, concentrou-se no mapeamento dos riscos e na estimativa dos custos financeiros dos impactos causados pelos eventos climáticos, baseada nas recomendações da Task Force on Climate Related Financial Disclosures (TCFD).

"Assim garantimos um olhar mais operacional de curto e médio prazo, com foco na segurança patrimonial da operação, no monitoramento de ameaças e em alimentar centros de controle", explica Silva.

A segunda frente compreende o uso de informações meteorológicas de curto e médio prazo para a gestão operacional dos ativos. Em parceria com a startup MeteoIA, a Motiva tem acesso a relatórios de climatologia com previsões para os próximos três e cinco anos, utilizados para estimar crescimento de mercado, planejamento de obras e avaliação de novas concessões.

CCR: empresa implementará planos de resiliência climática em todo o negócio até 2025

Com a Climatempo, recebe relatórios diários sobre condições meteorológicas. Por meio da ferramenta SMAC, acompanha variáveis como incidência de raios, volume de chuvas, velocidade dos ventos e focos de queimada.

"Hoje temos acesso a uma série de informações que dão base para a tomada de decisão sistematizada. Inauguramos em fevereiro deste ano um centro de controle da Motiva em Jundiaí focado nessa expertise", conta Silva. Os dados são disponibilizados em tempo real aos Centros de Controle Operacional (CCO), que foram adaptados para exibir informações em painéis e telões, facilitando o monitoramento e tomada de decisão. Essas informações acionam protocolos operacionais para proteger clientes e colaboradores que podem ser impactados.

Impactos já observados

A diretora cita o caso da ViaSul, rodovia no Rio Grande do Sul que teve trechos alagados durante as enchentes do estado, como exemplo concreto dos riscos que a empresa já enfrenta com as mudanças climáticas.

"Consideramos o pior cenário para montar a estratégia, mas já vemos hoje impactos tidos como futuros se concretizando. As operações no Rio Grande do Sul são exemplos disso. Se não acelerarmos a agenda, é risco para a continuidade de negócios", afirma Silva.

A empresa também mantém acordo de cooperação técnica com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) para receber avisos sobre deslizamento e inundação. Em contrapartida, fornece acesso às suas câmeras de monitoramento e dados de sensores para auxiliar na identificação de situações de emergência.

Estratégia de sustentabilidade

A agenda de adaptação climática está integrada à estratégia mais ampla de sustentabilidade da Motiva, que inclui metas ambiciosas de mitigação. A empresa tem compromisso de reduzir 59% das emissões de escopo 1 e 2 até 2033 e 27% das emissões de escopo 3, com neutralidade de carbono até 2035.

Entre os avanços da agenda de mitigação, a executiva destaca que 100% da energia já vem de fontes renováveis, além dos planos de expansão de biocombustível e eletrificação de frota. A Motiva foi também a primeira empresa da América Latina a aderir ao TNFD (Task Force on Nature-related Financial Disclosures), iniciativa que mapear riscos à biodiversidade.

Próximos passos e compliance

Com os planos mapeados, os próximos passos são definir as ações que serão priorizadas e incorporadas aos investimentos nos próximos anos. A expectativa é finalizar esta etapa até o primeiro trimestre de 2026, com incorporação dos planos nas discussões orçamentárias para 2027.

Brasil anuncia US$ 1 bilhão em lançamento de Fundo para Florestas Tropicais em Nova York

O trabalho também prepara a Motiva para atender às normas IFRS S2, que estabelecem requisitos para divulgação de riscos climáticos que podem afetar decisões de investidores. O reporte é voluntário até 2026 e obrigatório para empresas de capital aberto em 2027.

"É falar a linguagem do acionista e investidor. Quem é a da sustentabilidade enfrenta essa dificuldade de falar com negócio, com o CEO. Traduzir isso para que ele entenda muda a conversa", explica a executiva.

Acompanhe tudo sobre:CCRMudanças climáticasInfraestruturamobilidade-urbanaMobilidade

Mais de ESG

Brasil anuncia US$ 1 bilhão em lançamento de Fundo para Florestas Tropicais em Nova York

Lei da Aprendizagem completa 25 anos e bate recorde de contratos ativos

ONU divulga contribuições para plano climático que será apresentado na COP30

Exclusivo: 48 países entregam metas climáticas e China deve anunciar ainda hoje, diz Corrêa do Lago