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Encontro do Brics prepara o terreno para negociações mais ambiciosas na COP30 em Belém (Mauro Pimentel/AFP)
Repórter de ESG
Publicado em 5 de julho de 2025 às 16h40.
Última atualização em 5 de julho de 2025 às 17h43.
O combate à mudança do clima emerge como uma das agendas centrais da Cúpula do Brics, encontro dos 11 países membros do bloco que começa neste domingo, 6, no Rio de Janeiro, a menos de um ano do G20.
Com o Brasil exercendo a presidência do bloco de economias emergentes e se preparando para sediar pela primeira vez a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) em novembro, as discussões sobre financiamento climático e transição energética ganham destaque especial nas negociações.
O contexto, sem dúvida, é desafiador: há uma crise generalizada do multilateralismo global e tensões geopolíticas crescentes, como a guerra comercial iniciada pelos EUA, além de ataques bélicos em curso no Irã e Ucrânia.
Neste sábado, 5, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o que chamou de reglobalização sustentável, “uma nova aposta na globalização, baseada no desenvolvimento social, econômico e ambiental da humanidade como um todo”.
Segundo o ministro, o Brics pode aumentar a ambição e trazer grandes impactos na COP30, além de contar com países que estão desenvolvendo instrumentos inovadores para acelerar a transformação ecológica.
Uma das apostas do governo brasileiro é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), voltado a transição para uma economia de baixo carbono.
“Em parceria com o Brics, almejamos consolidar-nos como um porto seguro em um mundo cada vez mais instável. Serenidade e ambição, são, portanto, as marcas da nossa presidência”, disse na reunião com ministros.
As negociações dos negociadores (sherpas) concluídas na sexta-feira (4) avançaram na pauta climática, com foco especial no financiamento da transição energética.
Segundo o sherpa brasileiro, embaixador Mauricio Lyrio, os países do Sul Global defendem que "as nações mais ricas, que mais emitiram gases de efeito estufa, precisam cooperar no financiamento da transição daqueles que ainda não se desenvolveram plenamente".
Lyrio também destacou que o Brasil busca trazer temas socioambientais para o centro da agenda dos grandes grupos multilaterais. Quando assumiu a presidência do Brics, o país destacou suas prioridades: cooperação do Sul Global e parcerias entre o bloco para desenvolvimento social, econômico e ambiental.
"Como fizemos no G20, com o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, e agora fazemos com a nova parceria para a eliminação das doenças chamamos de 'doenças da pobreza'", explicou.
Na sexta-feira, 4, organizações climáticas entregaram ao governo brasileiro um documento com cinco propostas para que o bloco assumisse a liderança na pauta de finanças, considerando seu potencial para alavancar recursos para países em desenvolvimento lidarem com os efeitos mais severos da crise do clima e investirem em adaptação.
Embora as maiores economias tenham a maior responsabilidade na crise planetária, vários dos Brics, apesar de não terem obrigação formal, já estão fornecendo investimentos voluntários para nações mais vulneráveis.
Atualmente, os membros representam 40% da economia global e 28,4% do PIB, passando na frente inclusive do G7 -- grupo que reúne potências econômicas como EUA, Japão e países da Europa Ocidental.
Alcançar um consenso sobre financiamento climático é peça-chave para uma COP30 bem-sucedida em Belém do Pará. Em 2024, a COP29 deixou o valor quicando em apenas 300 bilhões, enquanto o necessário estimado está na casa dos trilhões.
Assim como outros fóruns de cooperação internacional, o Brics não leva a acordos, mas as decisões e consensos servem como diretrizes para futuros que possam acontecer na COP do Clima.
As resoluções dos negociadores serão encaminhadas para as lideranças políticas e a expectativa é resultarem em textos específicos sobre mudanças climáticas, cooperação em saúde e inteligência artificial. Ao término da Cúpula no dia 7, há uma declaração final.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, reforçou a importância de abordar as mudanças climáticas de forma equilibrada durante o Fórum Empresarial do Brics, realizado neste sábado, 5. "É necessário negociar transições justas", declarou.
O embaixador também demonstrou otimismo sobre o progresso já alcançado pelo Brasil e outros países em desenvolvimento.
"Vai demonstrar que já estamos mais avançados do que as pessoas imaginam", afirmou, contestando narrativas pessimistas sobre a capacidade do Sul Global de implementar soluções sustentáveis e complementou ao dizer que "o custo da transição está sendo exagerado por algumas partes".