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Leo Farah, fundador da Humus (Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 28 de junho de 2025 às 13h00.
Última atualização em 28 de junho de 2025 às 13h09.
Há um pouco mais de um ano da maior catástrofe climática de sua história, o Rio Grande do Sul volta a enfrentar o pesadelo das chuvas intensas.
Neste fim de semana, a Defesa Civil emitiu um alerta para o estado sobre a possibilidade de cheias dos rios devido a níveis altos de água previstos nas próximas horas.
Léo Farah, CEO e fundador da ONG Humus, organização sem fins lucrativos fundada em 2021 e especializada em resposta e prevenção de desastres, destaca que os eventos climáticos extremos são o 'novo normal' e que mesmo assim a adaptação climática continua não sendo prioridade para governos.
Para o especialista, episódios como o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, em 2015 e anos após em Brumadinho nos evidenciam que "claramente vai acontecer de novo e muito mais rápido do que imaginamos".
"A pergunta, é: quantas tragédias ainda serão necessárias para que prevenir finalmente "dê votos" no Brasil?", refletiu em entrevista à EXAME.
Segundo o especialista que tem mais de 20 anos de experiência em resgates e tem uma equipe exclusiva de bombeiros na ONG, o grande problema das cidades é que elas só agem após o desastre. "A prevenção não dá voto", destacou.
Para Farah, as soluções para tornar cidades mais resilientes já existem e não é necessário reinventar a roda. "Precisamos apostar no que funciona e replicar", defendeu.
A exemplo de ações imediatas, o especialista cita medidas de desassoreamento dos rios, uma das principais causas do agravamento das enchentes, visto sua menor capacidade de escoamento.
Além disso, o replantio de vegetação nas suas margens para contenção natural, construção de bombas de drenagem e diques e por último, obras em encostas.
A longo prazo, estão decisões de planejamento urbano, como a retirada e realocação de famílias que moram em áreas de risco. "Você não pode permitir que uma pessoa volte para o mesmo lugar que inundou, isso cabe ao ente político".
Como maior desafio para a implementação, ele cita a falta de vontade política. "O gargalo não é falta de recurso. O que falta é priorizar estas estratégias de adaptação", disse.
Um dos desafios é a fragilidade das defesas civis municipais. "Mais de 50% delas têm entre um e dois funcionários só", revela Farah. Além da falta de pessoal, há o problema da descontinuidade: "A maioria dos municípios, o órgão é muitas vezes de cargo político, de 4 em 4 anos troca ou até antes, de 2 em 2 anos", complementou ao exemplificar por que muitas das medidas 'se perdem' no tempo.
Desde setembro de 2023, a Humus está presente em território gaúcho e alertava autoridades sobre os riscos climáticos, apostando em programas de prevenção junto com a população local e órgãos públicos.
"As defesas civis foram capacitadas e instruídas, e hoje já não estão precisando atuar na resposta, porque já agiram", conta Farah, citando o exemplo de Lajeado, município que recebeu treinamento e foi fortemente atingido nas enchentes de 2024.
Enquanto cidades capacitadas não registraram mortes nos episódios mais recentes, outras localidades voltaram a sofrer com perdas humanas.
O CEO da Humus também contou a EXAME que se inspira em um modelo japonês de prevenção para em breve construir um centro nacional de treinamento em desastres no Brasil. O projeto está em busca de investimentos para nascer e possivelmente será em Minas Gerais, onde foi fundada a Humus e se encontram a maior parte das equipes.
Atualmente, estudos sugerem que a cada dólar que você investe em adaptação, você está economizando de 10 a 15 dólares na resposta. As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul geraram perdas bilionárias estimadas em 13 bilhões de reais.
"Nosso interesse é em conseguir arrecadar 20 milhões de reais para construir o novo centro. É um investimento que é ínfimo perto das perdas que você tem", argumentou Farah.
Apesar do cenário desafiador, Farah acredita também no poder da população para enfrentar desastres, hoje protagonista em 50 a 70% dos resgates.
É essa filosofia que norteia os programas da Humus, que já treinou comunidades em mais de 30 municípios gaúchos desde setembro de 2023.
"Todo mundo pode ser um herói. E para que todo mundo seja um, só precisamos de um pouco de treinamento”, disse.
A Humus, que leva este nome da junção das palavras "humanitária" + "us (nós em português)", atua em cinco programas principais para enfrentar os desafios dos desastres climáticos no Brasil. São eles:
1. Heróis do Futuro: leva educação sobre mudanças climáticas e preparação para emergências diretamente às salas de aula, capacitando crianças desde cedo.
2. Defesa alerta: oferece consultoria técnica especializada às defesas civis municipais, orientando sobre medidas estruturais como drenagem, desassoreamento de rios e contenção de encostas.
3. Agente Capaz: ensina desde técnicas básicas de sobrevivência - como sair de um carro alagado - até a organização de documentos necessários para acessar linhas de crédito emergenciais.
4. Primeiros Cuidados Psicológicos: voltado para pessoas que sofrem estresse pós-traumático, e forma novos socorristas pelo "Curso de Operações em Desastres", que inclui treinamento em primeiros socorros e técnicas de resgate. Segundo Farah, a estratégia integra prevenção, resposta e recuperação, transformando comunidades em agentes ativos de sua própria proteção.