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O que esperar da COP30: começa Cúpula de Líderes em Belém

Jornalistas da EXAME comentam os desafios do financiamento climático, a ausência dos EUA e o papel estratégico da China na conferência histórica em Belém

COP30: Cúpula de Líderes acontece em 6 de novembro de 2025. (Leandro Fonseca /Exame)

COP30: Cúpula de Líderes acontece em 6 de novembro de 2025. (Leandro Fonseca /Exame)

Publicado em 6 de novembro de 2025 às 10h08.

Última atualização em 6 de novembro de 2025 às 11h48.

A COP30 começa nesta quinta-feira, 6, em Belém, com a Cúpula de Líderes que reunirá representantes de 191 países credenciados. É a primeira vez que uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas acontece no Brasil e na Amazônia.

Na última semana havia a informação de que mais de 5o chefes de Estado teriam confirmado presença para a cúpula que ocorre nos dois primeiros dias de agenda. Entre os quais, Emmanuel Macron (França), Keir Starmer (Reino Unido) e Friedrich Merz (Alemanha).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderará as articulações diplomáticas no que o governo brasileiro define como uma "COP do possível".

Confira o vídeo completo:

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A grande ausência: Estados Unidos

A principal lacuna é a dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump não comparecerá e, diferentemente da COP29 em Baku — quando John Podesta, autoridade climática respeitada, representou o país —, não haverá representantes americanos de alto nível em Belém.

Trump já sinalizou que vai retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, com a saída prevista para janeiro de 2026. A ausência do segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo cria um vácuo de liderança nas discussões sobre financiamento climático, tema central desta COP.

"Vamos ter que descobrir qual vai ser a ambição chinesa nesse aspecto e pode ser inclusive até um statement da China para com o mundo", analisa Luciano Pádua, editor de macroeconomia da EXAME, em videocast publicado nesta quinta-feira. "O vácuo americano abre essa dúvida."

China: entre liderança tecnológica e metas modestas

A China, maior emissora de gases de efeito estufa do mundo, vive uma 'dicotomia'. Por um lado, lidera a transição energética global, dominando a produção de equipamentos para energia limpa, painéis solares, turbinas eólicas e baterias. O país também está expandindo sua capacidade nuclear, com mais de 30 usinas em construção.

Por outro, apresentou metas climáticas (NDCs) consideradas aquém do esperado na Semana do Clima em setembro, em Nova York. Apenas 65 países entregaram suas NDCs até o início da COP30 — um terço dos participantes e bem abaixo da expectativa da ONU de 125 países.

"A China tem esse papel que vai ser muito interessante observar como ela vai se posicionar", avalia Lia Rizzo, editora de ESG da EXAME e chefe de cobertura da COP30. A menor ambição nas metas pode sinalizar que o país pretende compensar com maiores contribuições financeiras, especialmente diante do recuo americano.

O país também insiste em ser tratado como economia emergente nas discussões de financiamento, o que travou diversas negociações em Baku.

Europa entre a guerra e o clima

A União Europeia enfrenta dilemas próprios. O conflito na Ucrânia e a pressão dos Estados Unidos para que países europeus aumentem gastos militares — de cerca de 0,5% para até 3% do PIB — desviam recursos e atenção da agenda climática.

Na Semana do Clima em setembro, a União Europeia chegou apenas com uma carta de intenções, sem metas concretas. "Quando você tem que prestar atenção em coisas militares, o tema da emergência climática fica menos em evidência", explica Pádua.

Análise: Roadmap Baku-Belém é divulgado, mas aposta em implementação voluntária frustra

A Alemanha, antes vista como superpotência em sustentabilidade, passa por transformações econômicas e políticas que diluem seu protagonismo climático.

Uma ausência considerada inesperada por Rizzo é a do primeiro-ministro da Austrália, país que concorre para sediar a COP31 junto com a Turquia. Ele declarou que só iria a Belém "se fizesse diferença" — uma descortesia diplomática que reflete certo ceticismo sobre a efetividade das COPs.

Financiamento: quem paga a conta?

Se na COP28, em Dubai, os combustíveis fósseis entraram pela primeira vez na pauta oficial, e em Baku se estabeleceu a meta de US$ 1 trilhão anuais em financiamento climático, a COP30 precisa responder: quem paga e como?

Segundo os editores, ficou evidente que os bancos multilaterais de desenvolvimento não conseguem alcançar sozinhos os valores necessários. É preciso mobilizar capital privado e criar novos modelos de investimento e taxonomia financeira.

O Brasil apresentou o Fundo para Florestas Tropicais, criado com apoio do Banco Mundial, com aporte inicial de US$ 1 bilhão. O modelo funciona como uma poupança multiplicadora, mas diversos países que manifestaram apoio verbal ainda não comprometeram recursos financeiros.

"Expectativas foram criadas", ressalta Rizzo.

O trunfo brasileiro

Em meio às turbulências, o Brasil aposta em sua tradição diplomática e em uma equipe técnica de altíssimo nível. André Corrêa do Lago, veterano nas negociações e embaixador, comanda a presidência da COP30. Ana Toni assume como CEO, Maurício Lyrio lidera as negociações e Lilian Chagas, negociadora-chefe do Brasil há quatro COPs, completa o time.

"Nós temos uma equipe realmente fora do padrão se a gente olhar para as outras COPs", afirma Rizzo. "Uma equipe de negociadores muito experiente."

O presidente Lula, por sua vez, é visto como estadista de projeção global, especialmente entre países do Sul global. Sua proximidade com Xi Jinping da China e com Emmanuel Macron pode ser decisiva nas articulações.

Uma inovação brasileira foi criar o círculo de ministros de finanças e da fazenda — 35 ministros de diferentes países trabalhando juntos. O ministro Fernando Haddad assumiu essa agenda.

Mandato de dois anos

Diferentemente de outras edições, a presidência brasileira estruturou um mandato que vai além dos dias de conferência. "Essa é uma presidência, uma estrutura pensada olhando para 2026", explica Rizzo. "Esta COP não vai acabar no dia 22 de novembro."

A estratégia é preparar bases sólidas para as próximas conferências, focando em implementação prática e mantendo vivo o espírito multilateral em tempos de desglobalização.

O que está em jogo

Os principais temas a serem acompanhados até 22 de novembro são:

  • Ambição das metas climáticas: Apenas um terço dos países entregou suas NDCs. Haverá pressão por compromissos mais ousados?
  • Financiamento: Quem assumirá liderança após o recuo dos EUA? A China dará o passo à frente?
  • Fundo para Florestas Tropicais: Países transformarão apoio verbal em dinheiro?
  • Combustíveis fósseis: Tema avançará ou ficará travado como em Baku?
  • Setor privado: Como equilibrar participação empresarial sem conflitos de interesse?
  • Legado multilateral: A COP conseguirá reforçar a cooperação global em tempos de polarização?

"Essa é definitivamente talvez o pior momento para receber uma COP na história", avalia Rizzo. "Mas para o Brasil já é histórica: primeira COP no país, na Amazônia."

A conferência acontece até 22 de novembro. A EXAME fará cobertura completa de Belém durante todo o período.

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