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Sandboxes tarifários: distribuidoras testam novos modelos de cobrança de energia no Brasil. (Adobe Stock)
Publicado em 26 de junho de 2025 às 15h00.
A palavra “sandbox” pode ser traduzida como “caixa de areia”. Ela remete a um ambiente seguro e controlado para experimentação, inspirado na liberdade com que crianças testam suas ideias em parques. De forma semelhante, os sandboxes regulatórios promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) oferecem aos agentes um espaço institucional para testar, de forma segura e temporária, inovações fora do arcabouço tradicional.
No caso dos sandboxes tarifários, trata-se da flexibilização de regras para a distribuidora de energia elétrica testar novas modalidades de tarifas e formas de faturamento buscando a modernização, a inovação, a eficiência econômica e a justiça distributiva.
Os 9 projetos em curso junto à Aneel estão resumidos na tabela abaixo:
Distribuidora | Projeto | UCs | Localidade | Orçamento | Duração (meses) |
ENEL | Tarifa Trinômia e Peak Time Rebate, medidores inteligentes, parcela fixa | 4.580 | SP | R$ 16,5 milhões | 38 |
EDP | Resposta da Demanda na Baixa Tensão, com tarifas binômias, trinômias e horárias | 1.604 | SP | R$ 8,9
milhões | 25
|
EQUATORIAL | Tarifa horo-sazonal-locacional (HSL), com diferenciação sábado/domingo | 4.000 | AL e RS | R$ 5
milhões | 31 |
COPEL | Tarifas multipartes (fixa, demanda, consumo), fatura digital | 3.600 | Não especificado | R$ 4,2
milhões | 26
|
COPEL | Tarifa da madrugada para carros elétricos, binômia e monômia | 499 | PR | R$ 4,3
milhões | 30
|
ENERGISA MS | Fatura fixa, ajustes trimestrais/semestrais, PIX programado | 4.900 a 6.900 | Não especificado | R$ 11,39 milhões | 36
|
ENERGISA (ESS, ETO, EPB) | Tarifa horária (4 postos), tarifa dinâmica (trimestral), pré-pagamento | 28.600 | SE, TO e PB | R$ 30,7 milhões | 44
|
LIGHT | Fatura fixa, incentivos não tarifários, economia comportamental | Não informado | RJ | R$ 18,5 milhões | 42
|
Consórcio (Cerbranorte, Certaja, Certel, Coprel) | Abertura do mercado para Baixa Tensão | Não informado | Santa Catarina e Rio Grande do Sul | Não informado | Não informado |
A transição energética, com a adoção de novas tecnologias e a mudança nos hábitos de consumo, exige maior diversidade nas formas de tarifação, e os sandboxes funcionam como catalizadores de soluções mais adaptadas à nova realidade.
Para ilustrar, a Copel testará uma tarifa exclusiva para o período da madrugada, incentivando o carregamento de carros elétricos fora do horário de pico. A Energisa, por sua vez, implementará uma tarifa horo-sazonal-locacional (HSL), que reflete variações de custo conforme o horário, a estação do ano e a localização do consumidor. Outras iniciativas incluem tarifas multipartes, dinâmicas, modalidades de pré-pagamento, faturas digitais e novas formas de faturamento, todas voltadas à modernização do setor e à promoção de maior eficiência e justiça tarifária.
Entre os projetos com viés comportamental, destaca-se o da Light, que testará uma conta de energia elétrica com valor fixo associado a incentivos não tarifários, como um “programa de pontos”. A proposta é simplificar a fatura e, ao mesmo tempo, promover maior aproximação da companhia com os seus clientes. Essa abordagem pode ter impactos positivos na imagem da empresa e na redução da inadimplência. Além disso, mais do que um experimento de comunicação, trata-se de uma tentativa de criar uma conta que caiba no bolso das famílias, sem comprometer a sustentabilidade do serviço. Se bem-sucedida, a experimentação pode se tornar uma política perene e servir para frear os prejuízos trazidos pelos “gatos” de energia.
Nos próximos meses e anos, o setor elétrico brasileiro acompanhará os resultados desses projetos. A expectativa é que os aprendizados sirvam de base para aprimorar o modelo tarifário e garantir a sustentabilidade do setor. Além disso, este movimento ganha ainda mais relevância com os novos contratos de concessão de distribuição, que preveem tarifas diferenciadas tanto com base em critérios técnicos, locacionais, de qualidade quanto em áreas de elevada complexidade ao combate às perdas não técnicas e elevada inadimplência, o que pode permitir ampliar o universo para aplicação das inovações testadas nos sandboxes.
No cenário internacional os sandboxes têm promovido maior eficiência, aprendizado coletivo e evolução regulatória. Tudo indica que esse caminho também se consolidará no setor elétrico brasileiro.