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Organizações reagem ao acordo final da COP30: avanços históricos, mas insuficientes

Especialistas celebram inclusão indígena, TFFF e decisões sobre financiamento e adaptação, mas lamentam ausência de roteiro para fim de combustíveis fósseis e desmatamento

Mais de 500 mil pessoas acessaram os espaços oficiais da COP30 ao longo dos 12 dias da conferência em Belém (Leandro Fonseca /Exame)

Mais de 500 mil pessoas acessaram os espaços oficiais da COP30 ao longo dos 12 dias da conferência em Belém (Leandro Fonseca /Exame)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 24 de novembro de 2025 às 15h30.

Última atualização em 24 de novembro de 2025 às 15h39.

"Se pudéssemos voltar no tempo e conversar com nós mesmos na Rio-92, o que aquelas versões de nós nos diriam ao olharem para os resultados de hoje? Certamente nos diriam, antes de tudo, que sonhávamos com muito mais". 

A reflexão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, capturou o sentimento que marcou o encerramento da COP30 em Belém, realizada pela primeira vez no coração da Amazônia.

Dez anos após o histórico Acordo de Paris, a conferência climática fechou suas portas na capital paraense com avanços históricos e processos inovadores na diplomacia brasileira, mas com uma ambição climática que organizações ambientais e especialistas consideram "perigosamente distante" das recomendações da ciência para limitar o aquecimento global a 1.5ºC até 2030.

O acordado Pacote Belém aprovou 29 documentos de forma unânime pelos 195 países, com ênfase na Decisão do Mutirão Global. 

Para organizações, a COP30 será lembrada especialmente por conquistas que transcenderam os textos formais e as salas de negociação.

A decisão da presidência brasileira de criar os dois roteiros paralelos de combate ao desmatamento e fim dos combustíveis fósseis, foi saudada como um "avanço sem precedentes", após as menções tenham frustado por ficarem de fora do acordo final.

"Embora não seja uma decisão desta COP, este anúncio permite caminharmos rumo ao fim dos fósseis, principal fonte dos gases que estão alterando o clima em todo o planeta. Estamos saindo de uma situação de completo silêncio para outra em que o tema está sobre a mesa", destacou Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.

Especialistas celebram resultados importantes: a reestruturação da Agenda de Ação da presidência da COP que segue até novembro de 2026 e mobilização de 117 planos para acelerar soluções em larga escala, envolvendo setores em todo mundo. Além disso, avanços mesmo que tímidos em financiamento climático para países em desenvolvimento foram endossados na decisão do mutirão e prometem mobilizar fontes públicas e privadas para alcançar pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.

O lançamento do Fundo de Florestas Tropicais (TFFF) destinado a financiar a preservação ambiental em países tropicais foi destacada como um dos principais legados e aportou mais de US$ 6,5 bilhões, com o anúncio mais recente de 1 bilhão de euros vindo da Alemanha. Ao todo, 69 países investiram no mecanismo. 

Mirela Sandrini, diretora executiva do WRI Brasil e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, destacou que o Brasil como país anfitrião conclamou comunidade internacional para a "COP da implementação", mostrando que há soluções e liderança rumo à transição para uma economia de baixo carbono.

A especialista complementou houve também o reconhecimento da necessidade de uma transição justa, assim a menção dos direitos de povos indígenas em três textos diferentes.

"O Brasil e os países ricos em florestas colocaram o TFFF no centro do debate. Por outro lado, a resposta à lacuna de implementação das NDCs ficou aquém", alertou. Ao final da conferência, mais de 118 países atualizaram suas metas climáticas até 2035. 

Financiamento para adaptação

O compromisso de triplicar o financiamento para adaptação até 2035, chegando a aproximadamente US$ 120 bilhões, foi recebido com cautela pelas organizações. Embora represente um avanço, o valor e o prazo foram considerados insuficientes diante da urgência climática.

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, destacou que a Decisão do Mutirão ainda fica bastante aquém da crise que vivemos.

"Não há resposta necessária ao problema central das metas climáticas (NDCs): a falta de alinhamento com a trajetória de 1,5°C. Há reconhecimento do desafio, há processos, há sinalizações — mas não há o salto político que a ciência exige", reagiu.

Benjamim Abraham, também do Talanoa, disse que os países vulneráveis ao clima esperavam maior ambição, "mas a decisão ainda pede de forma inequívoca que as nações desenvolvidas aumentem imediatamente sua provisão de recursos".

O Instituto Clima e Sociedade reconheceu que "há limitação e preocupações com as decisões sobre adaptação, um tema que não deveria ser despriorizado, à medida que o mundo todo vive eventos climáticos extremos com maior frequência e intensidade".

As grandes lacunas: combustíveis fósseis e desmatamento

A principal frustração foi a ausência, nos textos oficiais, de mapas claros para a transição dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento até 2030.

Mais de 80 países apoiaram propostas nesse sentido durante as negociações acalouradas, mas foram bloqueados por petrolíferos como Arábia Saudita e Rússia.

Nas COPs, qualquer decisão exige o consenso da totalidade das 196 partes da Convenção Quadro da ONU (UNFCC), o que tornou a missão "quase impossível" para a presidência brasileira.

Afra Balazina, diretora de Mobilização da SOS Mata Atlântica, lamentou a lacuna nas decisões finais: "A COP30 foi bem-sucedida em colocar na mesa os dois temas centrais para enfrentar a crise climática, entretanto ficaram de fora apesar dos esforços do governo brasileiro e da presidência da COP", disse.

Especialista também reconhecem que os processos paralelos criados pela presidência brasileira podem representar uma oportunidade importante e que deve começar na cúpula convocada pela Colômbia em abril de 2026. "Mantém viva a agenda e responde a uma demanda muito forte da sociedade civil e de vários países", destacou Fernanda Bortolotto, da TNC Brasil.

A TNC acrescentou que ao estabelecer esses caminhos paralelos, "abre-se uma janela para que, na próxima COP, com mais evidências, propostas mais maduras e maior pressão política, esses temas retornem com força".

Lina Barrera, vice-presidente sênior de Política Global da Conservation International, também reconheceu que mesmo que as partes não tenham conseguido chegar a um acordo formal sobre roteiros específicos, "a direção da viagem é clara. Essas conversas, e o impulso por trás delas, continuarão."

Manuel Pulgar-Vidal, líder global de clima e energia do WWF, foi enfático ao dizer que a 'COP da Verdade' não entregou nem um roteiro nem soluções reais para os desafios urgentes.

"Em vez disso, fomos levados em um carrossel de ilusões - distraídos por promessas coloridas, mas deixados com um documento fraco e sem substância devido aos jogos jogados pelas forças contra a ambição climática", afirmou.

Multilateralismo 'resiliente' em tempos difíceis

Organizações também destacaram a resiliência do multilateralismo diante de um cenário geopolítico desafiador e complexo.

O Instituto Clima e Sociedade celebrou "o multilateralismo e a capacidade de encontrar consensos para honrar o Acordo de Paris", destacando que "deve ser também reconhecida a decisão da presidência brasileira de conduzir os mapas do caminho em um cenário difícil de oposições".

"As decisões adotadas apresentam ao mundo o conceito de mutirão: um trabalho conjunto, com roteiros e tarefas claras, e a identificação de desafios e oportunidades para o atingimento do objetivo maior, a descarbonização da economia e mais resiliência", escreveu a organização.

Um dos avanços também foi "abrir diálogo amplo sobre transição justa e a adoção de um novo Plano de Ação em Gênero".

Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, observou que "a COP30 aterrissou em Belém com expectativas enormes: a COP da verdade, da implementação, da inclusão e da inovação.

"Mesmo com as limitações de um processo contencioso entre mais de 190 países em um momento geopolítico desastroso, entregou participação ampla, com milhares de pessoas debatendo mudanças climáticas sob diferentes perspectivas", afirmou.

O alerta dos cientistas

A COP30 foi marcada por uma inovação: pela primeira vez, a ciência teve espaço dentro das negociações e um pavilhão científico foi liderado pelos cientistas mais renomados do mundo: o pesquisador veterano da Amazônia Carlos Nobre e o diretor do Instituto Potsdam Johan Rockström, criador do conceito de limites planetários.

Mesmo com todos alertas científicos, os textos do acordo final não foram ambiciosos o suficiente. Em reação, grupo alertou que não há como driblar o perigoso aumento da temperatura global sem acabar com a dependência de combustíveis fósseis até 2040, ou no mais tardar até 2045.

"Não cumprir isso empurrará o mundo para uma perigosa mudança climática dentro de 5 a 10 anos, causando extremos climáticos cada vez mais intensos que afetarão bilhões de pessoas", afirmaram em comunicado.

Os cientistas também alertaram que sistemas essenciais como a Floresta Amazônica, os recifes de coral, as calotas de gelo e as correntes oceânicas podem atingir pontos de não retorno com as decisões alcançadas.

"No início da semana, dissemos que a COP tinha uma escolha: proteger as pessoas e a vida, ou os interesses da indústria de combustíveis fósseis. Apesar dos melhores esforços do Brasil e de muitos países, forças contrárias bloquearam o acordo", lamentaram.

Daqui para frente, eles também anunciaram que trabalharão com a presidência brasileira para propor a criação de um "Painel Científico sobre a Transição Energética Justa e o Fim dos Combustíveis Fósseis", para subsidiar o Acelerador Global de Implementação, iniciativa criada para apoiar NDCs e Planos Nacionais de Adaptação.

Martin Harper, CEO da BirdLife International, reforçou que a ciência é clara e não há caminho alternativo. "Mesmo com a enorme pressão de muitas partes, ainda não há processo formal para a economia mundial acabar com sua dependência de fósseis", lamentou.

Povos originários no centro do debate

Com o forte simbolismo da Amazônia, a maior inovação desta COP aconteceu fora da área oficial das negociações: Belém vibrou com um recorde de participação da sociedade civil e inclusão de grupos sociais como povos indígenas e comunidades locais.

Dados do governo brasileiro mostraram 513.848 registros de acessos ao longo dos 12 dias de evento, considerando a movimentação na Blue Zone e na Green Zone como um marco que evidencia o aumento do interesse global pela agenda climática. Destes, mais de 3 mil eram indígenas, a maior delegação da história das COPs. 

Paralelamente, toda capital paraense foi berço de centenas de eventos que mobilizaram milhares de pessoas, como a Marcha Pelo Clima e a Cúpula dos Povos. 

Se há um consenso entre as organizações ambientais, é que a COP30 marcou um divisor de águas no reconhecimento dos direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais.

Pela primeira vez na história das conferências do clima, os direitos territoriais indígenas foram incluídos em três textos oficiais: o plano de trabalho de mitigação, o programa de transição justa e a decisão do mutirão.

"É uma conquista direta da forte presença indígena nesta COP, que não apenas foi numerosa, mas também decisiva para colocar seus direitos no centro das soluções climáticas", destacou Fernanda Bortolotto, da TNC.

Tatiana Oliveira, líder de estratégia internacional do WWF-Brasil, complementou que muitas vitórias das que realmente importam, como a inclusão de afrodescendentes no texto, "são passos históricos que ajudam a garantir direitos".

Organizações também reconheceram que a natureza e a biodiversidade amazônica tiveram destaque sem precedentes e celebraram "a forte visibilidade e força da sociedade civil, incluindo povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, mas também diversos movimentos sociais, jovens e mulheres, que estiveram nas ruas e dentro da conferência exigindo mais ambição".

Balanço final da COP30

A COP30 encerra com conquistas históricas, processos inovadores de negociação e uma presença massiva da sociedade civil, ao mesmo tempo que o ritmo das decisões multilaterais continua descompassado com a velocidade da emergência climática.

Ao longo do próximo ano até a COP31 na Turquia, os especialistas são esperançosos para que o processo dos "roteiros ou mapas do caminho" avancem sob a presidência brasileira da COP, ganhem força política e construam o consenso indispensável para proteger vidas e evitar novas tragédias causadas pelas mudanças climáticas. 

A COP30 acabou, mas a urgência acelera mais rápido do que nunca e os trabalhos devem continuar para responder a altura do desafio.

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