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Tarifas consideradas abusivas ameaçam presença de delegações pobres na conferência que deve definir rumos da política climática global na Amazônia. (Rafael Medelima/COP30/Flickr)
Editora ESG
Publicado em 2 de agosto de 2025 às 10h26.
No fim da tarde de sexta-feira,1, o governo brasileiro lançou a plataforma de hospedagem da COP30, movimento que acontece após uma semana de tensão internacional provocada pelos valores considerados inviáveis para acomodação em Belém.
A liberação do site, com atraso de alguns meses, parece ter sido acelerada depois que representantes de diversos países solicitaram formalmente a mudança da sede da conferência climática durante reunião de emergência promovida pela ONU.
A Secretaria Extraordinária da COP30 informou que a plataforma oferece mais de 2.700 quartos, incluindo hotéis tradicionais, apartamentos em condomínios e residências privadas disponibilizadas exclusivamente durante a conferência.
E o governo também mantém as alternativas já anunciadas, como a utilização de navios de cruzeiro e habitações do programa Minha Casa Minha Vida ainda em construção.
Nestas primerias horas de funcionamento, a plataforma tem apresentado instabilidades e lentidão, em função do alto volume de acessos, de acordo com a tela que aparece nas primeiras tentativas de navegação.
Ao tentar acessar plataforma oficial de hospedagem para a COP30, visitantes enfrentam instabilidade. (cop30.bnetwork.com)
Até o momento desta reportagem, 731 acomodações estavam listadas para o período da conferência, entre 10 e 21 de novembro.
A opção mais acessível encontrada - um apartamento sem café da manhã e outras comodidades, localizado a cerca de 10 quilômetros do Parque da Cidade, onde acontecem as negociações e programação oficial - custa 4.950 dólares para estadia mínima de 11 dias, já que a plataforma exige reserva mínima de dez noites.
Existe apenas um quarto disponível na faixa de 450 dólares por diária, o valor mais baixo encontrado considerando a exigência de período para locação.
Opção mais barata é apartamento que só permite reserva mínima de dez dias. (cop30.bnetwork.com)
Há outras opções que começam em 360 dólares por noite. Porém, essas alternativas exigem permanência mínima de 15 dias, o que impede a participação parcial na conferência e eleva significativamente os custos totais.
Durante uma entrevista coletiva na tarde de sexta-feira, André Corrêa do Lago, presidente da COP30, e Ana Toni, CEO da COP30, reconheceram a gravidade da situação.
Ambos admitiram que a questão da hospedagem tem desviado a atenção de discussões técnicas prévias, necessárias para o sucesso da conferência, mas reafirmaram que não existe possibilidade de alteração da sede ou transferência de parte da programação para outro local.
A crise da hospedagem para a COP30 se desenrolou ao longo de meses, com marcos específicos que evidenciam o agravamento da situação.
Em fevereiro deste ano, o governo brasileiro prometeu o lançamento da plataforma de hospedagem oficial para facilitar o acesso dos participantes e garantir preços mais acessíveis.
Meses depois, em junho, durante a Reunião da Convenção do Clima das Nações Unidas em Bonn, na Alemanha, algumas delegações começaram a criticar publicamente os custos elevados das acomodações em Belém, sinalizando o primeiro alerta internacional sobre o problema.
Em resposta, em meados de julho o governo divulgou um plano de acomodação das delegações, anunciando a reserva de 2.500 quartos individuais com valores entre 100 e 600 dólares, divididos em grupos prioritários para países menos desenvolvidos.
Contudo, a apresentação não convenceu. Dias depois, o Grupo Africano de Negociadores solicitou uma reunião de emergência com o Secretariado da Convenção do Clima das Nações Unidas.
Durante o encontro, representantes de 25 países pediram formalmente a mudança da sede da COP30 de Belém para outro local. Num quórum que incluiu também nações mais desenvolvidas, como Áustria, Bélgica, Canadá, Suécia e Suíça.
Na tarde de quinta-feira, 31, o presidente da COP30 confirmou publicamente a solicitação devido aos preços "extorsivos" da hospedagem, reconhecendo que os valores praticados chegam a 10 ou 15 vezes acima do praticado em outras COPs.
A conferência acontece em menos de 100 dias e deve receber cerca de 50 mil participantes. E a capital paraense corre contra o tempo para concluir as obras de infraestrutura que precisou fazer para adequar a região à magnitude do evento.
Após o lançamento da plataforma, na noite de sexta-feira, 1, o governo anunciou que 53.003 leitos disponíveis, divididos em hotéis na capital e região metropolitana (14.547), navios (6.000), residências de temporada via imobiliárias (10.004) e Airbnb (22.452).
A reunião de emergência terminou com a determinação de um prazo final para que o Brasil apresente ao Secretariado da ONU alternativas concretas que possam reverter reverter a exclusão de países com recursos limitados das negociações climáticas.
Segundo André Corrêa do Lago, a coordenação da força-tarefa para resolver a questão está nas mãos para a Casa Civil.
O órgão, no entanto, também está envolvido nas articulações relacionadas à ofensiva tarifária anunciada pelo presidente americano Donald Trump contra produtos brasileiros, o que pode dividir a atenção da equipe governamental em momento delicado para a organização da COP30.