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Preço do protagonismo: Diálogo de Petersberg cobra urgências pré COP30 e Foz do Amazonas

Representantes de 40 países se reuniram em Berlim com a missão de debater estratégias da Cúpula brasileira, com destaque para benefícios econômicos e de segurança nacional da ação climática

André Corrêa do Lago: "Foz do Amazona é assunto para decisão nacional e precisa ser precisa ser baseada em informações racionais". (Ana Rosa / Presidência da COP30/Divulgação)

André Corrêa do Lago: "Foz do Amazona é assunto para decisão nacional e precisa ser precisa ser baseada em informações racionais". (Ana Rosa / Presidência da COP30/Divulgação)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 31 de março de 2025 às 15h51.

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O Diálogo do Clima de Petersberg, realizado em Berlim na última semana, representa um marco significativo nas negociações climáticas que antecedem a COP30.

A tradicional reunião vem sendo realizada desde 2010 e reúne negociadores de aproximadamente 40 países, servindo como plataforma essencial para construir consensos antes das conferências oficiais da ONU sobre o clima.

Neste ano, o evento ganhou especial relevância por ser o primeiro grande encontro de alto nível realizado após a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, anunciada pelo presidente Donald Trump em janeiro de 2025.

Além disso, marca a primeira de algumas etapas determinantes na preparação da COP30, que será sediada em Belém do Pará, no coração da Amazônia brasileira, em novembro.

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente-designado da Cúpula no Brasil fez uma participação firme sobre as questões climáticas que estarão em xeque e foi questionado sobre tensões e desafios específicos que o país vem enfrentando enquanto se prepara para receber os cerca de 60 mil visitantes previstos para o evento.

Um dos temas cobrados na reunião foi a atualização sobre exploração de petróleo na Foz do Amazonas. O diplomata declarou que esta será uma "decisão nacional" e não um consenso como foi o Acordo de Paris.

O governo brasileiro enfrenta uma disputa interna sobre o tema, com divergências notáveis entre os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Marina Silva (Ambiente).

E a questão adiciona uma camada a mais de complexidade à já desafiadora missão de presidir a COP30, especialmente considerando que será a primeira conferência realizada após o completo em que o mundo excedeu o limite de temperatura de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.

"Neste momento no Brasil, está havendo uma discussão entre aqueles que são totalmente contra e aqueles que são totalmente a favor. Acho que há algo no meio-termo, que precisa ser baseado em informações racionais", declarou Corrêa do Lago em entrevista coletiva para a imprensa em Berlim.

Metas precisam ser ambiciosas

Durante o encontro, o Brasil, a Alemanha e a ONU uniram discursos e forças diplomáticas para defender os benefícios econômicos e de segurança nacional das ações climáticas ambiciosas.

António Guterres, Secretário-Geral da ONU, convocou os países a entregarem novos planos climáticos nacionais - as chamadas NDCs - e estabeleceu um prazo concreto, até setembro de 2025, reiterando que é preciso ambição suficiente para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Segundo pesquisa conjunta do PNUD e da OCDE, se os países entregarem novos planos climáticos (NDCs) alinhados às metas do Acordo de Paris, o PIB mundial em 2040 seria 0,2% maior do que com as políticas atuais – equivalente ao PIB atual da Suécia. Até 2050, NDCs fortes aumentariam o PIB global em até 3%, chegando a 13% até 2100.

Chefe do PNUD, Achim Steiner explicou que estes percentuais representam "bilhões" de dólares e poderiam retirar 175 milhões de pessoas da pobreza extrema através de investimentos na transição energética, segurança alimentar e serviços básicos.

Olaf Scholz, primeiro-ministro alemão, fez questão de comentar a postura do presidente norte-americano Donald Trump. "Negar que o problema existe não o fará desaparecer", destacou Scholz, adicionando que "os serviços de inteligência, incluindo o da Alemanha, avaliam que há risco de segurança nacional relacionados aos efeitos da crise do clima".

Também a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, enfatizou que enfrentar as mudanças climáticas é uma questão de segurança nacional, pois "a crise climática inflama e alimenta conflitos por terras escassas, água potável e outros recursos".

Por fim, Simon Stiell, chefe de clima da ONU, reforçou que o fracasso em conter as mudanças climáticas resultará em desastres mais frequentes, regiões inabitáveis e migração forçada de milhões de pessoas.

Clima na vida real

Em seu discurso de abertura, André Corrêa do Lago lembrou a importância do multilateralismo (mantendo o tom de seu discuro de estreia na presidência da COP, na Assembleia Geral das Nações Unidas) e de "conectar o regime de clima à vida real das pessoas".

Sobre a escolha de Belém como sede, o presidente-designado afirmou que, embora não seja "a cidade com a melhor infraestrutura", a decisão demonstra o compromisso do Brasil com a transparência, reconhecendo seus desafios sociais.

"O presidente Lula não quer esconder o fato de que ainda somos um país em desenvolvimento com muitas questões a serem debatidas", explicou o diplomata, que reconheceu como bastante incerto, o sucesso da COP30 em Belém.

"É muito difícil definir como Belém poderá ser. Temos alguns meses pela frente para desenvolver algo que todos possamos considerar como um sucesso", acrescentou.

No encerramento de seu discurso, Corrêa do Lago apresentou ainda o conceito brasileiro de "mutirão" como modelo para a cooperação internacional: "Uma comunidade se unindo para trabalhar em uma tarefa compartilhada".

O embaixador aproveitou para convocar a comunidade internacional a se juntar ao Brasil em um "mutirão global contra as mudanças climáticas, um esforço global de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade".

O que vem por aí?

Como um termômetro diplomático pré-COP, o Diálogo de Petersberg destacou ao menos quatro aspectos específicos que devem ditar os próximos passos até Belém. Primeiro, o cronograma para a entrega das NDCs defendido por António Guterres, numa tentativa de evitar a fragmentação das metas vista no ciclo anterior.

Segundo, a apresentação inédita da análise econômica PNUD-OCDE, que quantificou pela primeira vez o impacto positivo no PIB global até 2040 e o potencial até 2100, o que se configura em uma argumentação técnica para convencer ministérios de Economia e demais pastas resistentes à transição.

Terceiro, a formalização da abordagem de segurança nacional como novo eixo de trabalho, com os serviços de inteligência explicitamente incorporando a crise climática em suas avaliações de risco. A estratégia parece visar sensibilizar atores tradicionalmente distantes das negociações ambientais.

Por fim, com a introdução do conceito de "mutirão", o Brasil parece tentar despolarizar o debate Norte-Sul, substituindo a retórica de "responsabilidades comuns porém diferenciadas" por um modelo de engajamento e cooperação internacional e horizontal.

Na imprensa internacional, repercutiu ainda a contradição entre o posicionamento do Brasil sobre a Foz do Amazonas, caracterizando o imbróglio como tema para "decisão nacional", e o multilateralismo defendido pelo país em outras frentes.

Ao classificar o tema como "técnico" e defender "informações racionais", Corrêa do Lago parece caminhar em direção contrária à retórica que tem adotado em seus pronunciamentos internacionais, desconsiderando inclusive as tensões domésticas – assunto que continuará sob holofotes nos próximos encontros preparatórios para a COP30.

Acompanhe tudo sobre:COP30BelémClimaONU

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