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Presidência da COP30 divulga rascunhos e negociações aceleram na reta final

Rascunho de documento final não mencionou o roteiro para abandonar o uso de combustíveis fósseis, o que gerou críticas

Entrada da COP30, em Belém: conferência chega à reta final nesta sexta-feira, 21 (Leandro Fonseca /Exame)

Entrada da COP30, em Belém: conferência chega à reta final nesta sexta-feira, 21 (Leandro Fonseca /Exame)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 21 de novembro de 2025 às 09h30.

Última atualização em 21 de novembro de 2025 às 09h32.

Nas primeiras horas desta sexta-feira, a presidência da COP30 divulgou diversos rascunhos de textos que buscam consolidar os principais temas da conferência climática em Belém e guiar o caminho para um acordo final.

O principal texto, apelidado de "Decisão Mutirão" e que inclui os itens mais espinhosos da conferência, foi publicado na madrugada após um dia tumultuado, marcado por um incêndio que paralisou temporariamente as negociações.

Em suma, inicia-se agora, na reta final da COP30, um vaivém de textos de rascunho na expectativa de se chegar a um acordo final enquanto os diplomatas e delegados negociam em ritmo acelerado.

Segundo o Observatório do Clima, os textos apresentados tiveram avanços, como a decisão de criar um mecanismo de transição justa, a adoção dos indicadores de adaptação e inclusão da meta de triplicar o financiamento à adaptação.

"No entanto, tudo o que diz respeito a atacar as causas da crise climática foi eliminado do texto do Mutirão", diz em nota.

Além disso, aponta a organização, "o tópico fundamental do financiamento público, a implementação do artigo 9.1, cara aos países em desenvolvimento, foi inserido num programa de trabalho de dois anos para tratar de todo o artigo 9o do Acordo de Paris – o que dilui a responsabilidade dos ricos em prover financiamento."

"Belém não poderá ser considerada bem-sucedida caso esses desequilíbrios permaneçam nas decisões da COP30", afirma trecho da nota.

Roteiro para o fim dos combustíveis fósseis

A crítica de organizações civis e de dezenas de países acontece porque o documento não trouxe referência ao chamado "mapa do caminho" -- ou roteiro -- para o fim do uso dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, responsáveis por grande parte das emissões de gases de efeito estufa.

Até esta sexta-feira, 21, a criação do roteiro para transição energética já havia conquistado o apoio de aproximadamente 80 nações, segundo levantamento de organizações da sociedade civil. Ao mesmo tempo, outras 80, segundo diplomatas, também se opõem.

O tema foi defendido pessoalmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a Cúpula de Líderes que abriu a COP30 e durante seu retorno à conferência nesta semana.

O assunto voltou ao centro do debate global dois anos depois da COP28, realizada em Dubai, na qual pela primeira vez um acordo mencionou a necessidade de transição para longe dos combustíveis fósseis — mas sem estabelecer prazos, metas concretas ou mecanismos de implementação.

Mais de 30 países rejeitam proposta brasileira

Horas após a divulgação do rascunho, mais de 30 países enviaram uma carta à presidência da COP30 manifestando profunda insatisfação com o texto.

A lista de signatários inclui Colômbia, França, Reino Unido, Alemanha, além de pequenos Estados insulares como Ilhas Marshall e Vanuatu, que correm risco de desaparecer com a elevação do nível do mar.

Na carta, as delegações são diretas: afirmam que a proposta atual não atende aos requisitos mínimos para um desfecho da conferência. Os países deixam claro que não apoiarão um acordo final que não contenha um plano para a transição energética, com calendários e compromissos definidos.

Grandes nações se opõem a criação de roteiro

Do outro lado da mesa de negociações, nações como China, Índia, Arábia Saudita, Nigéria e Rússia manifestaram oposição à criação de um roteiro para os combustíveis fósseis, segundo fontes próximas às tratativas.

Esses países, muitos deles grandes produtores ou consumidores de combustíveis fósseis, resistem a assumir compromissos que possam limitar suas atividades econômicas ou sua soberania energética.

A China, por exemplo, lidera globalmente a expansão de energias renováveis, mas defende que um mapa de transição não é aceitável para nações em desenvolvimento que ainda dependem de petróleo, gás e carvão para seu crescimento econômico.

Um grupo de cientistas, incluindo conselheiros da própria presidência da COP30, publicou uma declaração criticando as propostas apresentadas até o momento. Para eles, um roteiro efetivo precisa ser mais do que workshops ou reuniões ministeriais: deve ser um plano de trabalho real, com quantificações para todos os países e metas claras para 2026, 2027 e 2028.

Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Climático, enfatizou que a situação é urgente e não pode ser adiada. Segundo a ciência climática, o mundo precisaria reduzir as emissões globais em 5% ao ano, mas atualmente as emissões ainda crescem cerca de 1% anualmente.

Outros temas em disputa

Embora o debate sobre combustíveis fósseis tenha dominado as manchetes, a conferência precisa avançar em outras frentes igualmente complexas: financiamento climático para países em desenvolvimento, metas de adaptação às mudanças climáticas, e regras de transparência para monitoramento das ações nacionais.

A União Europeia, por exemplo, manifestou decepção com o texto atual, mas também trava negociações sobre financiamento. O bloco está disposto a ser mais ambicioso em adaptação, porém condiciona isso a um alinhamento estrito com os acordos fechados no ano anterior sobre o Novo Objetivo Quantificado Coletivo de financiamento climático.

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