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Agricultura e sistemas alimentares movimentam US$ 9,9 bilhões anuais e contam com mais de 1.970 agtechs mapeadas (Freepik)
Repórter de ESG
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 11h00.
Última atualização em 27 de novembro de 2025 às 11h22.
O Brasil desponta com um dos maiores potenciais de bioeconomia do mundo e lidera a transição energética, mas ainda recebe investimentos bastante tímidos em climatechs.
É o que revela um novo relatório do Fórum Brasileiro das Climatechs lançado durante a COP30 em parceria com a Climate Ventures e a agência alemã GIZ.
Para ter dimensão do potencial inexplorado, a América Latina como um todo recebeu apenas US$ 743 milhões ( R$ 3,7 bilhões) dos US$ 92 bilhões (R$ 460 bilhões) investidos globalmente em 2024 (0,8%) nas climatechs, considerando como definição "empresas de base tecnológica, sejam de software, hardware ou biotecnologia, que desenvolvem soluções escaláveis voltadas à mitigação e adaptação climática".
Das 18 mil startups mapeadas dentro do ecossistema de inovação brasileiro, apenas 14% atuam em segmentos relacionados à transição verde.
"Esse descompasso revela a dimensão da oportunidade e do desafio que temos pela frente", afirmou Zé Gustavo, diretor executivo do Fórum Brasileiro das Climatechs.
Segundo os pesquisadores, o maior gargalo é estrutural. Enquanto o capital disponível segue formatos tradicionais, as climatechs precisam de investidores dispostos a aceitar risco maior e financiar ciclos longos de desenvolvimento tecnológico.
O relatório também reconhece outras formas legítimas de inovação climática como tecnologias sociais, saberes indígenas e soluções baseadas na natureza, mas parte do conceito para fortalecer um campo emergente "que conecta tecnologia, capital e impacto ambiental mensurável".
"A delimitação não busca excluir outras formas de inovação, mas criar clareza sobre qual ecossistema estamos fortalecendo", explica o documento.
O convite é para ação: transformar os investimentos em escala real e impulsionar o desenvolvimento de políticas públicas robustas."As climatechs não são apenas startups, são a infraestrutura de uma nova economia verde que já começou a emergir", destacou Gustavo.
Daniel Contrucci, cofundador da Climate Ventures, reforçou que há uma nova geração de empreendedores que enxerga o clima não apenas como uma causa, mas como uma oportunidade de prosperidade compartilhada.
"Nosso objetivo é fortalecer esse ecossistema, dar visibilidade às soluções que surgem nos territórios e contribuir para que o Brasil transforme seu potencial natural em inovação que gera impacto real", afirmou.
O estudo mapeou ao menos oito verticais de oportunidade prioritárias, e os números revelam mercados já em movimento acelerado:
Agricultura e sistemas alimentares movimentam US$ 9,9 bilhões anuais em crédito rural alinhado ao clima, com mais de 1.970 agtechs mapeadas em 2024 e crescimento forte fora do eixo São Paulo.
Florestas e uso da terra atingiram valor recorde de R$ 44,3 bilhões em 2024 (segundo IBGE/PEVS), impulsionadas pela nova Lei do Mercado de Carbono (SBCE) e pela crescente demanda internacional por créditos de alta integridade.
Gestão de resíduos é um mercado de US$ 25,8 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 38,9 bilhões até 2033, puxado por políticas de logística reversa e soluções de bioenergia.
Energia e biocombustíveis receberam US$ 37 bilhões em investimentos em 2024, com o Brasil como destaque global pelo potencial em bioenergia, biometano, hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis.
Indústria é outra frente em expansão: o programa Nova Indústria Brasil (NIB), do Ministério da Fazenda, prevê R$ 300 bilhões até 2026 em crédito e investimentos para modernizar o parque produtivo e reduzir emissões. A agenda impulsiona eletrificação de processos, eficiência energética e uso de insumos de baixo carbono.
Água e saneamento representa o maior desafio: há necessidade estimada de R$ 700 a 900 bilhões até 2033 para universalizar serviços. Um sinal positivo: o setor emitiu o primeiro "blue bond corporativo" da América Latina em 2025 voltado a financiar projetos relacionados a água e economia azul.
Energia renovável é uma frente em que o Brasil já é referência com matriz predominantemente limpa e soluções baseadas na natureza.
O desafio não é tecnológico: o Brasil reúne talento, infraestrutura científica de qualidade e um ecossistema pulsante de empreendedores. O problema está na estrutura do financiamento.
Os modelos tradicionais de venture capital foram desenhados para startups de software: retornos rápidos, baixo custo operacional, escala digital. As climatechs, muitas vezes, exigem o oposto e instrumentos como blended finance. São intensivas em hardware, ciência, infraestrutura e precisam de ciclos mais longos de validação tecnológica, ressaltam os pesquisadores.
"Somos ricos em recursos naturais, talento e tecnologia, mas ainda carecemos de financiamento adequado e de políticas que tratem a inovação climática como estratégia de desenvolvimento", destacou Ricardo Gravina, cofundador da Climate Ventures.
Ana Himmelstein, diretora executiva do Fórum, reforça que as climatechs brasileiras ainda navegam em um sistema financeiro que não foi desenhado para elas.
"O que precisamos é construir uma ponte entre o capital disponível e os modelos de negócio que entregam impacto climático e prosperidade econômica", acrescentou.
A recomendação central é clara: inovação climática não deve ser tratada como setor marginal e sim ser reconhecida como política de Estado, integrada às agendas de reindustrialização verde, bioeconomia e transição energética. Como avanços em curso, estão a implementação do mercado de carbono regulado e iniciativas como a Nova Indústria Brasil.
Entre as sugestões do estudo, estão: criação de plataformas de orquestração financeira que conectem startups a capital filantrópico, concessional e comercial em diferentes estágios; Ampliação de mecanismos de blended finance, combinando recursos públicos e privados para reduzir o risco percebido; Sandboxes regulatórios em setores críticos como energia, saneamento e agricultura para acelerar a validação de tecnologias; Compras públicas e corporativas verdes como instrumentos de tração de mercado e programas de fellowships dedicados a empreendedores climáticos em estágios iniciais.
"O Brasil é peça-chave para a missão global de desbloquear o potencial da inovação climática no Sul Global", afirmou Severin Peters, Coordenador Global da GIZ. "Com sua escala, ativos naturais e ecossistema vibrante, é um parceiro fundamental no desenvolvimento de soluções capazes de impulsionar uma transição global justa e ambiciosa".
Um dos destaques é que as climatechs funcionam como ponte estratégica entre as agendas climática e econômica, promovendo inovação, competitividade e desenvolvimento inclusivo.
Além disso, contribuem para a valorização dos recursos naturais com soluções tecnológicas e ajudam na descarbonização por meio de novas cadeias produtivas mais sustentáveis, especialmente em setores que o Brasil já conta com vantagens comparativas como bioenergia, agroindústria e florestas.