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Sem cortes urgentes nas emissões da agropecuária, Brasil não cumprirá metas climáticas

Alerta de pesquisadores, feito em debate publicado pelo Amazônia Vox, reforça que o setor, responsável pela maior parte das emissões nacionais, precisa acelerar práticas de baixo carbono para evitar retrocessos ambientais e econômicos

Origem: a agropecuária responde por 29% das emissões brasileiras (Nelson Almeida/AFP/Getty Images)

Origem: a agropecuária responde por 29% das emissões brasileiras (Nelson Almeida/AFP/Getty Images)

Amazônia Vox
Amazônia Vox

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Publicado em 24 de novembro de 2025 às 14h29.

Texto de Daniel Nardin e Laura Guido, edição de Carla Fischer/Edição Exame

Para atingir as metas climáticas e compromissos firmados pelo Brasil na atualização da sua NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas), o país deverá enfrentar uma realidade imposta: um trabalho coordenado no setor da agricultura e pecuária.

De acordo com dados da 13ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, a mudança de uso do solo, como o desmatamento, é responsável por 42% das emissões de gases, enquanto que a agropecuária responde por 29%.

A fatia das emissões brasileiras por setor é composta ainda por 20% para energia, 5% para resíduos e 4% para processos industriais. O cenário brasileiro é bastante diferente do observado na Europa, Estados Unidos e China, os maiores emissores, onde a maior fatia vem da queima de combustíveis fósseis e do carvão para energia e transportes.

Proteger florestas evita prejuízos do agronegócio

Segundo André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o agronegócio e todo o setor de uso da terra são áreas estruturantes para o país atingir as metas e deve ter foco na descarbonização - ou seja, redução de emissões.

Parte desse desmatamento é, de fato, responsabilidade do agronegócio, enquanto outra parte decorre de crimes como grilagem, que devem ser combatidos com rigor”, explica. No caso específico do agro, ele destaca dois tipos de desmatamento: o ilegal e o desmatamento legal, praticado por quem possui autorização.

Para o primeiro grupo, Guimarães reforça que é necessário que haja punição e regularização. Para o segundo, defende que o caminho pode ser criar incentivos para evitar novos desmatamentos, já que “o clima não distingue o que é legal ou ilegal: a necessidade é simplesmente fixar mais carbono, e a melhor tecnologia para isso continua sendo a árvore, plantar mais árvores”, diz.

Numa análise mais ampla, o especialista afirma que o Brasil tem uma grande oportunidade, porque, além de exportar commodities, pode adotar práticas e soluções que contribuam positivamente com o cenário de emergência climática, como o sequestro de carbono por meio da recomposição florestal.

Essa restauração, segundo Guimarães, não apenas contribui para a mitigação, como protege a agricultura, já que a produção tropical depende diretamente da floresta para manter o regime de chuvas. Ele lembra que 50% da produção mundial de alimentos está no cinturão tropical, e o Brasil responde por cerca de 10%.

O diretor do IPAM observa que a agroindústria também começa a reconhecer sua responsabilidade nas emissões, principalmente porque o impacto climático já atinge a rentabilidade das lavouras. Pesquisas do IPAM mostram que, para cada grau de aumento da temperatura, a soja perde 6% de produtividade e o milho, 8%. Portanto, proteger florestas é “um bom negócio para o agro”, pois torna a agricultura mais resiliente e reduz os danos das mudanças climáticas sobre lavouras e pastagens.

Para fazer frente ao desafio de mitigar - ou seja, reduzir - do setor, durante a COP30 foram realizados dezenas de paineis e debates tanto nos espaços oficiais - Zonas Azul e Verde - e em áreas alternativas, como a Agrizone, montada na sede da Embrapa em Belém, durante o período da conferência mundial do clima da Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas (ONU) para mudanças climáticas.

Meta possível

Para o coordenador do SEEG, David Tsai, a meta da NDC de 2030 do Brasil ainda pode ser cumprida. Mas, é preciso um esforço para alcançar a meta de teto de emissões de 1,2 bilhão de toneladas de carbono. “A capacidade do controle de desmatamento de entregar cortes de emissão está batendo no teto. Precisamos zerar a devastação até 2030, como prometeu o presidente Lula, e mantê-la zerada. Mas, vamos precisar reduzir em energia e na agropecuária também.”, disse.

O setor privado também destaca a importância de reconhecer o cenário para buscar inovação e investir em pesquisa para melhorar os indicadores. De acordo com Felipe Mendes, diretor de Sustentabilidade da Tereos, o agronegócio precisa fazer sua parte e, com isso, deixar de ser parte do problema e sim adotar medidas para o conjunto de soluções climáticas. Entre os pontos, Mendes destaca a própria produção de cana-de-açúcar, que contribui com a transição energética e responde por 17% da matriz energética brasileira por meio de etanol e biomassa. Além disso, o executivo reforça a necessidade de conciliar a produção com a demanda por alimentos.

“Proteger a floresta é um bom negócio para o agro, porque ela torna a agricultura mais resiliente. Ela protege a lavoura e o pasto do impacto mais grave da mudança climática. Eu acho que a gente, como setor, como agronegócio, precisa encarar o problema e separar o joio do trigo no sentido de que existe o desmatamento ilegal, que precisa ser combatido”, afirma Mendes.

Planejamento para encarar o problema

Na esfera governamental, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro acredita que o fundo de recuperação de pastagens e áreas degradadas, lançado pelo Governo Federal, é estruturante e ‘define’, segundo ele, o futuro da agropecuária nacional. Em retrospecto, de acordo com o ministro, nos últimos 50 anos, políticas públicas como a criação da Embrapa, o fortalecimento dos sistemas agroflorestais (SAFs) e o desenvolvimento de tecnologias permitiram ao país avançar sobre diferentes áreas produtivas, tornando-se um grande produtor de alimentos.

No entanto, Fávaro admite que o modelo atual, herdado das práticas das últimas décadas, não será o mesmo para os próximos anos. Segundo o ministro, o plano de governo traz a diretriz de caminhar para uma nova lógica, o chamado “caminho verde”.

“Isso significa que o país não precisa mais expandir sua produção sobre floresta ou Cerrado, e sim recuperar áreas antropizadas que hoje estão em algum nível de degradação, devolvendo-lhes excelência produtiva. Com essa estratégia, o Brasil pode dobrar sua produção, ao mesmo tempo em que preserva o meio ambiente”, aposta.

Em números, o Ministério da Agricultura diz que há cerca de R$ 50 bilhões disponíveis para financiar a recuperação de áreas degradadas e mais de 3 milhões de hectares já foram recuperados. Fávaro disse que a COP é uma oportunidade para consolidar o programa e assegurar os recursos necessários para orientar os próximos 50 anos da agropecuária brasileira.

O ministro da Agricultura reforça que boa parte da transição energética brasileira vem da agricultura, com os biocombustíveis exercendo papel estratégico na descarbonização. O governo já ampliou em 50% a mistura de biodiesel no diesel e aumentou em 2,5% a adição de etanol à gasolina, medidas que demonstram o caminho da redução de emissões no país, diretamente ligado ao setor agropecuário.

“O Brasil é exemplo claro de como isso pode funcionar bem. E como é que a gente vai continuar abastecendo o mundo, seja de biocombustíveis, seja de de alimento”, avalia Mendes, da Tereos.

Ciência, conhecimento e direitos de povos originários

De acordo com Walkimario Lemos, da Embrapa na Amazônia Oriental, povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e trabalhadores da agricultura familiar são os mais afetados pelas mudanças climáticas e aqueles que menos contribuem com as emissões, por isso merecem atenção nas estratégias e políticas públicas de incentivo.

“A Embrapa tem uma programação de pesquisa equilibrada, conciliando modelos mais tecnificados com práticas adaptadas às comunidades locais. O objetivo é gerar inovações que tornem os cultivos inclusivos, resilientes e capazes de se ajustar às mudanças climáticas, promovendo segurança alimentar e geração de renda”, explica Lemos.

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